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53 anos de uma farsa

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Ticiano Duarte
jornalista

No dia 25 de agosto, de 1961, o ex-presidente Jânio Quadros, renunciou ao mandato de Presidente da República. Chegara ao poder respaldado por quase seis milhões de votos. Na segunda feira passada, portanto, esse fato histórico com reflexos desastrosos para o país, completou 53 anos. As estações de rádio, à tarde daquele dia, começaram a divulgar a notícia estarrecedora, de que o presidente em documento dirigido à nação tentava justificar-se, dizendo-se vencido pela reação e pelos interesses gerais, “aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive, do exterior”.  Salientou ainda, que estava se sentido esmagado por forças ocultas. Num ofício, em termos lacônicos, enviado ao Congresso Nacional comunicou: “Nesta data e por este instrumento, deixando com o Ministro da Justiça as razões do meu gesto, renuncio ao mandato de Presidente da República. Brasília, 25.08.1961. Jânio Quadros”.

Naquela mesma tarde, aqui em Natal, estava no gabinete do prefeito Djalma Maranhão, quando chega de repente o servidor, Humberto Magalhães, de saudosa memória, dizendo que o rádio estava noticiando uma bomba – a renúncia do Presidente Jânio Quadros. Djalma no primeiro momento não acreditou na notícia. Ficou procurando confirmação e então teve a idéia de telefonar para o comandante da Base Aérea, o então Coronel Burnier, com quem mantinha um bom relacionamento social. Burnier era do grupo extremado da Aeronáutica que conspirara contra o governo de Juscelino e fizera o levante de Aragarça. Do outro lado da linha, Burnier respondeu, creio que em tom de brincadeira:

– Infelizmente é verdade, Djalma. Prepare os seus bonecos que eu já preparei os meus. Nós vamos brigar.

Coincidência ou não, horas depois o comandante Burnier estava exonerado das funções, sem direito de se despedir da tropa e transportado de imediato para o Rio de Janeiro.

Os anos depois desse 25 de agosto de 1961 vieram provar que se tratou de uma grande farsa. Jânio premeditara tudo, inclusive voltar nos braços do povo, com poderes especiais, até o de fechar o Congresso Nacional. Como, também premeditada, fora a viagem do vice-presidente à China, a mandado do presidente para visitar o país comunista e celebrar acordos comerciais.

O ex-ministro, ex-parlamentar, ex-líder do PTB, no governo de João Goulart, ex-vice-governador de São Paulo, no governo de Orestes Quércia, que tem raízes no Rio Grande do Norte, está lançando o seu novo livro, “1964-na visão do Ministro do Trabalho de João Goulart-Almino Afonso”. Ele diz à página, 126: “A renúncia do presidente Jânio Quadros reconhecida, juridicamente, como ato unilateral da vontade, não foi submetida à apreciação das Comissões Técnicas. Menos ainda foi objeto de deliberação pelo plenário. Era por si mesmo um fato histórico. Nessas circunstâncias o deputado Ranieri Mazzille, como Presidente da Câmara Federal, assumiu, em caráter interino, a Presidência da República, comunicando inclusive o fato ao presidente João Goulart já de retorno da China, ainda em Cingapura.

Tudo se passara, naquela tarde de inquietações, como uma folha virada. Simples engano. Nos dias seguintes, envolto nas contradições da história o país esteve na iminência de viver o absurdo da guerra civil”.

Não vou repetir os fatos posteriores que deflagraram a crise institucional que se instalou. Do veto militar à posse do vice-presidente. Da divisão das Forças Armadas. Da cadeia da legalidade no Rio Grande do Sul, sob o comando do governador Brizola. Da saída para o parlamentarismo como solução do impasse.

A farsa de Jânio Quadros custou muito caro aos brasileiros. Tudo desaguou em 1964 e duraram 20 anos para que o Brasil voltasse à normalidade democrática.

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