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A arte de Guaraci Gabriel cravada em ferro e tinta

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Yuno Silva – repórter

Guaraci Gabriel é daqueles que gostam de aprontar, de fazer arte. Quem conhece o figura sabe de seu perfil inquieto; misto de loucura, gaiatice e responsabilidade (!). Alguns diriam que é exagerado ou tem mania de grandeza se tomarem como referência apenas suas esculturas gigantes de metal, muitos desconhecem o profissional sério que existe por baixo da barba e do riso fácil. De pintor a escultor, Guaraci é um “amostrado” confesso que hoje circula pelas artes visuais e audiovisuais. Reconhecido mundialmente, com quatro bienais internacionais nas costas, o artista abre sua nova exposição “Bicho do Mundo” amanhã, às 19h, na Pinacoteca do Estado. A intenção, como sempre, é sacudir, instigar.
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A mostra pode ser percebida pelo público como um campo fértil, ou mesmo uma encruzilhada que une presente, passado e futuro, onde Guaraci apresenta projetos de grande porte já realizados de um lado e maquetes do que está por vir de outro – tendo o “Bicho do Mundo” como vértice, uma série com 12 imagens de ícones culturais, criadas a partir de miniaturas de animais, gravadas como estampas em chapas de metal. Para completar, ele também aproveita o vernissage desta quinta-feira como primeira locação para a gravação do docudrama em longa metragem “Bicho do Mundo – Biografia não autorizada”. A visitação terá duração de 30 dias e o acesso é gratuito.

O performático Guaraci Gabriel faz retrospectiva da carreira“Trabalho a desconstrução da racionalidade”, disse Gabriel sobre a nova exposição, “e nem preciso dizer que o bicho mais perigoso do planeta é o homem”, emenda. Preocupado em permanecer atualizado e mais próximo dos novos artistas urbanos, Guaraci ainda incluiu o estêncil nas obras. Todas as pinturas-colagens estarão à venda.

Para desdobrar a premissa da “desconstrução” e provar que “não passamos de um amontoado organizado de cadeias de carbono”, o artista selecionou fotos de personalidades famosas como Bob Marley, John Lennon, Martin Luther King, Charlie Chaplin, Hitler, Marilyn Monroe, Pelé, Santos Dumont e Ayrton Senna para passar seu recado. No meio da lista um potiguar: o próprio Guaraci. “Sou todos eles, somos!”, garante.

Se tudo correr conforme o planejado, no dia da abertura (e somente só!), o cenário será complementado por uma grande instalação em frente a Pinacoteca: um dado de acrílico, com 2 metros de lado e a projeção de um globo terrestre girando dentro, será içado – “aos poucos” – a uma altura de até 12 metros.

Biografia não autorizada

Guaraci Gabriel e Carlos Tourinho dividem a responsabilidade pela condução do filme “Bicho do Mundo – Biografia não autorizada”, um docudrama “que parece mas não é”, diz com ar misterioso. Ele e a atriz Silbene Sil, respectivamente diretor de arte e preparadora de elenco do projeto audiovisual Nós na Tela, são os ‘pseudo- protagonistas’ do filme. “Seremos nós mesmo e vamos mostrar o conflito que há entre as duas profissões. No filme, convenço Sil a adiar uma estreia teatral para ir a minha exposição, e quem estiver em volta vai fazer parte da história. Na verdade não posso adiantar muita coisa, pois queremos filmar biografias não autorizadas”.

O detalhe ‘não autorizado’ implica guardar alguns segredos e Guaraci não tem tanta certeza do que pode acontecer até o final do filme: “O que sei é temos duas  histórias fantástica para serem contadas, e no meio desse processo muita coisa pode acontecer”, destaca.

Mais que um mecenas

Por trás dos ‘exageros’ de Guaraci, que já lhe renderam o recorde mundial – devidamente registrado no Guinness Book – da maior escultura feita com material reciclado do mundo para a obra “Guerra e Paz” em 2000, topamos com a empresa mossoroense J. Patrício Metais. O empresário Joaquim Patrício, que morreu em um acidente de carro em junho deste ano, era mais que um mecenas para o artista: “É uma parceria que já dura mais de 30 anos”, recorda Gabriel. Mas foi em 1994, com a exposição “Primavera Parabólica Secular” na Funcarte, que a dobradinha artista e mecenas começou a construir as grandes esculturas de metal.
Guerra e Paz foi registrada em 2000 pelo Guinness Book como a maior escultura feita de material reciclado do mundo
O acidente ocorreu com Patrício ocorreu entre Jardim do Seridó e Parelhas, quando o empresário estava a caminho de Campina Grande (PB) onde iria acompanhar a montagem de uma formiga gigante, uma escultura de Gabriel com cinco toneladas. “A tragédia não permitiu que concluíssemos a montagem, vamos recomeçar agora no início do próximo ano”, informou o artista, que continua recebendo apoio da J. Patrício Metais. “Emanuel Patrício assumiu o lugar do pai dele e a primeira coisa que fez foi me chamar para reforçar a parceria”, comemorou.

Colibri, escultura de 12 metros instalada em MossoróEm Mossoró, onde funciona a sede da empresa, há cinco esculturas gigantes: “Boca da Noite” (garfo e faca), “Garça”, “Sonda Intergaláctica”, “Flor de Maracujá” e o “Colibri”. Seus próximos projetos são uma escultura de 12 metros em homenagem a Marinho Chagas, “o melhor lateral esquerdo do mundo”, e a “maior escultura do mundo” com 300 km de extensão: “Quero fazer o sistema solar em escala 1:16 milhões, começando com o Sol em Mossoró e Netuno na beira do mar aqui em Natal”.

Guaraci Gabriel começou guardando sucata e restos de ferro “meio que escondido” dentro da empresa de Patrício. “No dia que soube, me chamou para perguntar o que ia fazer com aquele material. Disse que ia ajudar e lançou o desafio para eu mostrar que eu bom. Não parei mais”, disse Guaraci, que irá prestar homenagem ao saudoso amigo durante “Bicho Homem”. As homenagens ainda se estendem para Nalva Melo, “que me deu a maior força no ‘Guerra e Paz’”; a jornalista Rejane Cardoso, “que foi presidente da Capitania das Artes e me deu muita força no começo da carreira”; a juíza Maria de Fátima Soares e Pedro Dantas, amigos e apoiadores.

Serviço: Abertura da exposição “Bicho do Mundo”, de Guaraci Gabriel. Quinta-feira (14), às 19h, na Pinacoteca do Estado. Visitação de terça a domingo, das 9h às 17h, até dia 14 de dezembro.

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