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A arte que só a ciência reconhece

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A obra de Rembrant, maior artista holandês, guarda segredos. O último quadro pintado por Rafael Zanzio também. A escultura La Pietá, de Michelangelo, assim como a pintura ‘As Meninas’, de Velázquez, escondem curiosidades e informações que poucos conseguem perceber. Esses segredos, no entanto, não escapam do olhar atento de um natalense de curiosidade aguçada, o médico-doutor e professor aposentado Armando Bezerra, hoje radicado em Brasília. Após minuciosa pesquisa, ele conseguiu identificar pequenos detalhes que explicam a relação das grandes obras e o conhecimento das áreas médica e anatômica.

La Pietá: tíbia de Maria é muito maior que a do Cristo‘A Aula de Anatomia do Professor Tulp’, um dos mais conhecidos quadros de Rembrant e pintado em 1622, não teve assinatura do artista. A autoria está quase escondida. Um aviso na parede do laboratório revela o nome do pintor. E mais: um dos personagens está com uma lista, na qual se imaginava conter a relação de músculos do antebraço. Mas, na verdade, a lista é de presença e traz todos os nomes dos que participam da aula. O fato mais intrigante da pintura, entretanto, é o erro que Rembrant cometeu quanto à origem de um dos músculos do antebraço. Isso só é revelado depois de uma longa observação da obra.

No quadro ‘A Transfiguração de Cristo’, que faz parte do acervo da Basílica de São Pedro (em Roma), Rafael Zanzio retrata a ascensão de Jesus Cristo envolto de branco, reproduzindo uma luz pulsátil. No ambiente, há um personagem com início de convulsão. “Somente quem tem o conhecimento sabe que a luz pulsátil desencadeia uma crise epiléptica”, argumentou Armando Bezerra na última quinta-feira, na sua passagem por Natal, durante palestra realizada na abertura do Encontro de Anatomia da Farn.

Coisa semelhante acontece com Nossa Senhora da Piedade, de Michelangelo, que resguarda conhecimentos técnicos. Essa escultura ‘La Pietá’ foi esculpida para que os contempladores tivessem pena do Cristo sobre os braços da mãe. Para conseguir o efeito, ele teve de esculpir a virgem Maria maior que Jesus. “Obviamente, o ser humano tem dó do que é menor, pequeno, indefeso… Michelangelo sabia disso e tinha conhecimento em anatomia, pois a tíbia — osso localizado abaixo do joelho e considerado o segundo maior do corpo humano — de Maria é bem maior que a do Cristo”, disse o pesquisador. Através de um osso, é possível estimar a estatura de uma pessoa e, pela tíbia, a virgem Maria de Michelangelo teria em torno de 2,1 metros, segundo Armando Bezerra.

Ao ver o quadro ‘Autorretrato’, de Van Gogh, imagina-se que ele está com um curativo na orelha direita, o que não procede. O pintor holandês havia se apaixonado e retirado a orelha esquerda. Mas, ao se pintar diante do espelho, a imagem que viu foi do lado direto. “A prova é que os botões da camisa estão do lado contrário ao das casas”, argumentou o professor. Em ‘As Meninas’, de Velázquez, o espectador imagina estar contemplando a obra, mas as pessoas retratadas no quadro entre elas a princesa Margerita, estão olhando alguém ser pintado à sua frente, fato revelado pelo espelho no fundo do quadro.

No caso da maioria das Evas já pintadas, Armando Bezerra tem uma teoria interessante. Ele diz que, se Eva nasceu de uma costela, não pode ter vindo de um útero, logo, não veio de placenta e, por isso, não poderia ser descrita com umbigo, um resquício do cordão umbilical. “Porém, praticamente, todos os artistas mundiais retrataram Eva com umbigo. O único que não fez isso foi o artista plástico pernambucano Francisco Brennand”, analisou.

Sobre o médico

Armando Bezerra é um profissional bem reservado, mas bastante conhecido no meio acadêmico nacional, por sua carreira médica e docente no Distrito Federal. Ele estudou medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é doutor e mestre em Morfologia, foi diretor do curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília e presidente da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA).

Hoje, professor aposentado, ele é autor dos livros Admirável Mundo Médico (Ed. Conselho Regional de Medicina do DF, 2001) e As Belas Artes da Medicina (Ed. Conselho Regional de Medicina do DF, 2003), descrevendo e ilustrando nas publicações as curiosidades encontradas nas obras de arte. Por isso, é um dos conferencistas mais requisitados para abrir eventos da área médica.

Apaixonado por arte e pela área médica, sobretudo a anatomia, Armando Bezerra revela que os detalhes são descobertos a partir de muita contemplação. “Adoro estudar arte relacionando com medicina. O que descubro vem depois muita observação da obra e pesquisa. Visito muito museus”, contou. Em Natal, ele relembrou dos momentos em que viveu por aqui.

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