Edmo Nathan – Repórter
Quando entrar em campo hoje, as 17 horas, para enfrentar o Santa Cruz, no estádio Nazarenão, certamente um dos maiores destaques do Palmeira de Goianinha estará no banco de reservas. E não será o treinador e nenhum outro atleta, mas sim a preparadora-física da equipe alviverde, Thaise Yamamoto, que deixou a cidade de Santos para apostar num sonho e tentar vencer mais uma espécie de tabu no futebol.
Aos 22 anos, a paulista que certamente poderia escolher a carreira de modelo, superou o machismo e assumiu um cargo comumente ocupado por homens. Thaise vai escrever um capítulo a parte na história do futebol potiguar, por se tornar a primeira mulher a assumir tal função no Rio Grande do Norte. Ela adota uma postura rígida em seu trabalho para vencer as barreiras do preconceito e também controlar o instinto masculino.
“Estou muito empolgada e trabalhando bastante. Jogadores são espertos e, se você der corda, vão querer dar ‘migué’ nos trabalhos. Então tenho que ser firme com eles e não dou moleza nunca!”, ressalta.
A presença de Thaise chama a atenção nos jogos e treinamentos da equipe alviverde, o que pode gerar situações desagradáveis a ela, nas praças esportivas. “Sempre tem algum jogador ou mesmo torcedor que vem com gracinhas mas mantenho a postura, o profissionalismo. Como eu sempre digo, profissionalismo em primeiro lugar. Vim para o Rio Grande do Norte para trabalhar”, ressalta.
Por sinal demonstrar pulso firme é outra barreira que a profissional pretende suplantar. “As pessoas têm um certo preconceito, como se a mulher não pudesse ter pulso firme pra lidar com os homens. Eu deixaria de ser uma boa profissional só por ser mulher? Não! E se eu não tiver uma postura correta, estragarei todos os meus passos até aqui e a luta de todas as mulheres por espaço. Então, eu devo me respeitar, respeitar a minha profissão, a camisa que visto, os atletas e a comissão técnica, independente de sexo, e seguir meu código de ética, para que nós, mulheres, consigamos chegar onde queremos”, afirmou.
De fato, as mulheres vão ganhando cada vez mais espaço no futebol. Ainda é raro vê-las na função de treinador, mas auxiliares de arbitragem do sexo feminino já não causam mais estranheza àqueles que acompanham o mundo da bola. A preparadora física acredita ser a primeira em equipes profissionais.
“Não sei se sou realmente a primeira ou mesmo a única no Brasil. Acredito que pelo menos no RN eu seja pioneira. Já pesquisei e nunca encontrei nada sobre isso. Espero que meu trabalho incentive e abra portas pra outras mulheres, que elas criem coragem e que os clubes abram a mente”, ressalta.
#SAIBAMAIS#A história de Thaise com o esporte, entretanto, não começou em terras potiguares. Ela foi jogadora profissional de futsal até torcer o joelho esquerdo num treinamento pela equipe do Santos e acabar rompendo o ligamento cruzado anterior. Submetida à cirurgia em 2012, assumiu, como técnica, a equipe feminina de futsal da faculdade em que se formou em educação física, a Universidade Santa Cecília (FEFESP). A experiência foi bastante válida, embora Thaise não tenha pretensões de se tornar treinadora. Quando aceitou o convite para o Palmeira de Goianinha, a desportista estava trabalhando na equipe sub-20 do Jabaquara, também em Santos, já comandando a preparação física dos atletas.
Thaise sabia das responsabilidades e dificuldades que encontraria ao assumir o cargo em questão, por isso, busca forças e se inspira em outras mulheres para enfrentar sua luta diária. “Quando aceitei o desafio, sabia que seria vista com outros olhos, mas eu estou preparada! Várias mulheres me servem de inspiração, em especial as que jogam futebol. Meu TCC foi sobre ‘Mulheres e as barreiras do esporte: relatos de vida das atletas da seleção brasileira principal de futebol’. Para produzi-lo, ouvi e me comovi com cada história contada.
