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A boa nova de K-Ximbinho

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Dácio Galvão [[email protected]]

Recebo um whatsapp de Nailor Azevedo Proveta “Querido Dácio Galvão! Quero agradecer pela minha participação. Pelos nossos contratempos peço desculpas de lhe responder tão tarde… eu ouvi as cordas e fiquei muito emocionado e feliz com o cuidado da regência do Maestro que conduziu! Que sonoridade bonita! Muito obrigada! Espero ter a oportunidade de agradecer pessoalmente!”. O autor se refere ao arranjo que fizera para música “Vida” poemúsica de ritmo bossanovista de Gereba Barreto e Dácio Galvão, na voz de Vânia Bastos. O arranjo de cordas fora escrito por ele. Músico consagrado Nailor Proveta. Soprador de sax alto, soprano, clarinete arranjo e compositor. O arranjo que idealizara foi gravado aqui em Natal no estúdio de J Marciano, regido pelo companheiro de viagem o trombonista Gilberto Cabral e enviado para sua escuta em São Paulo. Proveta nasceu em Leme, interior paulista. Esse seu nome de guerra propagado na intimidade no tráfego musical.

Vale conferir seu trajeto resumidamente posto e disponibilizado nas redes cibernéticas. Foi convidado para acompanhar principais artistas do Brasil – Milton Nascimento, Gal Costa, Edu Lobo, Guinga, Jane Duboc, Joyce, Mônica Salmaso, César Camargo, Mariano, Maurício Carrilho, Yamandú Costa… Artistas internacionais do naipe de Joe Wiilians, Anita O’Day, Bobby Short, Benny Carter, Natalie Cole, Ray Connif, Sadao Watanabe… Ele craque, entre craques. Vem há tempos na liderança da Banda Instrumental Mantiqueira que se projetou mundo à fora. Fazendo choro e samba relendo Villa-Lobos, Moacir Santos, Pinxinguinha, Chico Buarque, Tom Jobim…

Bom, não seria somente nessas referências que se sustentam o talento de Proveta. Ele fez trabalho também com Raul Seixas, Dominguinhos num disco com participações de Ivan Lins, Alceu Valença e outros e aqui em Natal deu sua contribuição importantíssima. Sua passagem ficou restrita apenas à agudeza perceptiva de alguns poucos músicos. Com ele tiveram o privilégio de trocar idéias, emoções (fez show que promovemos no auditório da FIERN) e boas energias. Um deles marcantemente o guitarrista e professor Joca Costa. Seu registro sonoro ficaria fixado nos disco de Elino Julião, Canto do Seridó e no CD “Potiguar” ambos pertencentes ao Projeto Nação Potiguar. No primeiro ele participa tocando em duas faixas. No segundo  faz arranjos para Orquestra Sinfônica-RN, regida por Osvaldo D’Amore, incluindo ainda o arranjo para o Coral de quarenta vozes sob a batuta do Padre Pedro Ferreira. Peça irretocável e obrigatória de audição! Por fiéis e infiéis. O conteúdo artístico vai para além do aspecto religioso. Considere que a festa da Padroreira do Sertão do Seridó foi recentemente tombada como bem imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IHFAN. A Arquidiosece de Caicó recebeu doação de vários exemplares desse CD produzido pelo selo Nação Potiguar (Scriptorin Candinha Bezerra/Fundação Helio Galvão) que conta com vinte e cinco títulos. Todos editados numa perspectiva de mapeamento sonoro do Rio grande do Norte. Células rítmicas que passam pela tradição constituída da etnomúsica até as canonizadas experimentações de massas sonoras modernas. Na ocasião que Proveta estava em Natal gravamos “Sonoroso” (clássico de K-Ximbinho) no estúdio local de Eduardo Pinheiro numa empreitada que envolvia na verdade um CD duplo depois desmenbrado em dois independentes. Um Sanfonado com detalhe na capa de um desenho de Newton Navarro (com Sivuca, Borghetti, Toninho Ferratugi , Antonio Bombarda, Waldonys…) e outro em Duo, com capa feita exclusiva pelo artista Dorian Gray Caldas (Paulo Belinatti , Toninho Carrasqueira, Paulo Moura, Carlos Malta…). A idéia era documentar a boa parte da obra do grande músico potiguar K-Ximbinho. O claninetista Paulo Moura, do auto da sua autoridade internacional gravaria um CD todo decicado a K-Ximbinho: “K-Ximblues”. O K-Ximbinho nascido em nossas terras revelou duas das suas mais importantes influências: Maestro Cipó e Charlie Parker . 

Sebastião de Barros, o K-Ximbinho era seu nome de batismo. Oriundo do Taipu-RN, nasceu em  20 de janeiro de 1917 e faleceu no Rio de Janeiro, 26 de junho de 1980. O homem passa, a obra fica. Nesse mesmo whatssapp enviado por Nailor Proveta ele diz assim: “… outro assunto é que estou participando e fazendo os arranjos para um tributo à K-Ximbinho! E gostaria muito que escrevesse tuas palavras neste CD pois não vejo outra pessoa com tua sabedoria e sensibilidade. Começaremos as gravações aqui em SP depois do carnaval! Vou fazer este CD com muitos amigos e será muito prazeroso tocar para este grande músico K-Ximbinho! Ficarei honrado. Ficarei eternamente grato! Proveta”.

Como se ver, a imaterialidade sonora de K-Ximbinho é mesmo ilimitada. Para quem conhece a figura humana de Proveta, sua modéstia, humildade, grandeza e refinado talento comparável somente a grandes sábios pode avaliar o quanto é importante para a música brasileira esse ato de perpetuação, de memória de um músico que teve boa formação musical. Assim como o tropicalista Tom Zé, K-Ximbinho estudou contraponto, nada mais nada menos, com o maestro alemão Hans-Joachim Koellreutter. Então é isso, a boa nova é que o Brasil receberá esse ano de 2015 uma documentação sonora que já se concebe grande e sem uma possibilidade de mensurar o quão reafirmo: é imensa a estética musical desse grande compositor e instrumentista taipuense. To nessa, Proveta! Claro! Aliás, estamos nessa! Abraçaços. Vamos em frente!

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