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A Casa do Brasil

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Marcelo Alves Dias de Souza – Procurador Regional da República

Madrid é uma cidade maravilhosa. Capital do Reino da Espanha, com uma população de mais de 3 milhões de habitantes, tem de tudo: praças animadas e belíssimas (como a Mayor ou a Puerta del Sol), grandes ruas de comércio (como a Gran Via ou a Calle Serrano), Museus (como o Prado, o Reina Sofia ou o Thyssen-Bornemisza), o Palácio Real, teatros, muitas livrarias, restaurantes e bares de tapas (tanto no centro como em bairros mais afastados, cada um mais pitoresco que o outro) e por aí vai. E tudo funcionando, vibrantemente, com as ruas cheias de um povo festeiro, até tarde da noite (o que não é comum na Europa). Madrid, tivemos essa sensação quando lá estivemos não faz um mês, está cada vez melhor.

Mas isso, acho, quase todo turista brasileiro já sabe. O que talvez ele não saiba é que há em Madrid, em meio a essa profusão de atrações, uma “Casa do Brasil”.

Explico melhor.

A Casa do Brasil é o que os espanhóis chamam de “Colegio Mayor Universitario”, um misto de residência universitária e centro de ensino. Segundo os estatutos da célebre e gigantesca Universidade Complutense, a qual está agregada a Casa do Brasil, “os Colégios Maiores são centros universitários que proporcionam residência a estudantes ou a professores e promovem a formação cultural e científica, assim como a prática de esporte aos que neles residem, ampliando assim sua atividade ao serviço da comunidade universitária”.

Pelo que sei, a Espanha conta hoje com cerca de trezentos colégios maiores, sendo que mais da metade deles acha-se em Madrid. Só a Universidade Complutense conta com mais de quarenta. A Casa do Brasil é, segundo ela mesmo informa, “um dos quatro adscritos à Universidade Complutense, cuja finalidade é a divulgação da língua, da cultura e da civilização de outros países”, sendo que os outros são “o Colégio Maior Colombiano Antonio Caro, hoje, fundação universitária; o Colégio Maior Nossa Sra. de África e o Colégio Maior Argentino Nossa Sra. de Luján”. A nossa Casa é um dos colégios mais antigos da Complutense, registre-se.

A Casa do Brasil está localizada dentro do campus da Universidade Complutense, confortavelmente vizinho à Reitoria da Instituição. O endereço preciso é Avda. Arco de la Victoria, 28040, Madrid (Tel: +34914551560 – Site na Internet: www.casadobrasil.es). A estação de metrô mais conveniente, muito pertinho e bem conectada, é Moncloa. Acho a localização da Casa do Brasil excelente. Para quem gosta de caminhar, tomando a Calle Princesa, direto, chega-se rapidinho à Plaza de Espanha, à Gran via e à Plaza del Callao. Aí, quem conhece Madrid sabe, é só quebrar à direita que se está no burburinho da Calle de Preciados, da Plaza del Sol e da Plaza Mayor.

A Casa do Brasil foi concebida na Presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961), após uma visita do Presidente Bossa Nova à capital espanhola e assinatura de um acordo cultural Brasil-Espanha. O projeto do edifício da Casa do Brasil é do arquiteto brasileiro Luis Afonso d’Esgragnolle Filho que, juntamente com o professor Leónidas Sobrinho Porto, também dirigiu/supervisionou a sua construção. Em 1962, o professor Joaquim da Costa Pinto Netto assumiu o cargo de primeiro diretor da Casa do Brasil, sendo ela inaugurada em junho do mesmo ano.

O prédio da Casa do Brasil está encravado, ocupando cerca de um terço do terreno, em uma área verde de quase um hectare. Sua fachada principal dá para a Avenida de Arco de la Vitoria. O prédio possui áreas de recepção e descanso (com TV e DVD), de administração, jardim coberto, refeitório, salas de exposição, de música, de leitura, auditório, biblioteca e algumas outras amenidades. No mais, são 125 quartos muito iluminados, todos com banheiro, água quente, ar condicionado e calefação. A decoração, como seria de se esperar de uma residência desse estilo, é espartana: cama, guarda roupa, mesa de estudo, telefone e pouco mais.  

O residente/hóspede ali tem direito a serviço de quarto de segunda a sexta, serviço de lavanderia (ou seja, roupa pessoal lavada) e pensão completa de segunda a sábado (aqui enfatizo: excelentes café da manhã, almoço e jantar). O mensalista paga 1160 euros por apartamento individual ou 900 euros por pessoa em apartamento duplo. Mas há também o serviço de hotelaria, com as diárias variando de 45 euros (apartamento individual com café da manhã) a 80 euros (apartamento duplo com pensão completa). Em todos os casos, some-se uns 10% referente ao imposto devido. Por fim, o mensalista brasileiro – e somos brasileiros, graça a Deus – ainda se habilita a um desconto de 20%, preenchidas determinadas condições.

No mais, a Casa do Brasil é um verdadeiro centro cultural, uma “embaixada cultural brasileira” em Madrid ou para a Espanha como um todo, pode-se dizer. Ali são realizadas exposições de artistas brasileiros. Eu mesmo, quando morei lá, frequentei algumas. Ali são dadas aulas de português, de capoeira, de história do Brasil etc. E o governo do nosso país também presta por lá inúmeros serviços culturais/educacionais ao brasileiro residente na Espanha. Por exemplo, sei que o brasileiro residente na Espanha pode, na Casa do Brasil, realizar os exames do “supletivo” (acho tanto do primeiro como do segundo grau), recebendo do nosso Ministério da Educação a titulação que almeja e, com a prova, faz jus (e não são poucos os brasileiros que foram tentar a sorte na Espanha sem completar os seus estudos no Brasil). Por sinal, outro dia, quem esteve por lá, para fomentar e testemunhar o excelente trabalho realizado pela Casa do Brasil, foi o nosso Vice-Presidente, Michel Temer, o que diz muito da importância que tem a Instituição.  

Por fim, vai talvez o melhor da Casa do Brasil (pelo menos para nós potiguares): ela é administrada por um conterrâneo nosso, o querido Cássio Romano, que, há algumas décadas, pousando na terra de Cervantes (1547-1616) e de Lope de Vega (1562-1635), não quis mais voltar. Foi como estudante e morador da Casa do Brasil, mas enfronhou-se na administração da Instituição, foi o substituto e é, já há um bocado de anos, o diretor da Casa. Lá, como pude testemunhar quando ali morei/estudei em 2007 e agora quando voltei para matar a saudade, somos muito bem recebidos por ele, sua esposa Chris (que conheceu, também residente, lá) e os filhos Luis Felipe e Ana. Ali, de fato, é a nossa casa.

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