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A cidade que não saiu do papel

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A falta de projetos usualmente tem sido utilizada para justificar o pouco desenvolvimento urbanístico de Natal. Mas não foram poucas as ideias apresentadas nos últimos 15 anos que poderiam modificar profundamente o cotidiano dos que moram ou visitam a capital do Estado. Infelizmente, a maioria desse projetos ficaram no papel, se perderam nos arquivos do arquitetos e na memória dos administradores.

Yuno Silva – Repórter

A Natal do papel…

A transformação galopante na paisagem urbana de Natal aponta em muitas direções, entre elas a intensa verticalização e a sobrecarga do sistema viário. Também é notória a falta de um planejamento capaz de ampliar a quantidade de áreas públicas de lazer e convivência, fator que interfere de forma direta na qualidade de vida da população. Em meio a esse crescimento desenfreado, alguns projetos que poderiam alterar o cotidiano do natalense acabaram engavetados – mesmo após terem sido alardeados com pompa e circunstância por gestores públicos e empresários.

Nos últimos 15 anos, pelo menos sete propostas de grande impacto urbano não saíram do papel, e a TRIBUNA DO NORTE lança foco sobre como é e como poderia ser alguns trechos da cidade, sobretudo nos bairros de Lagoa Nova, Cidade Alta, Mãe Luíza, Praia do Meio, Ponta Negra, Cidade Satélite e Santos Reis. Apesar de anunciados, dois foram descartados pelo poder público, três aguardam boa vontade política, um ainda pode ser implantado e apenas um depende exclusivamente de investimento privado.

Vale ressaltar que dos sete projetos, cinco são de interesse público e três interferem positivamente no trânsito da cidade – e todos têm a capacidade de potencializar a indústria do turismo.

Banho Maria

No grupo dos descartados estão a construção do Teatro de Natal, cujo projeto foi escolhido em 2005 através de concurso público nacional realizado pelo Governo do RN e que deveria ser erguido no cruzamento das avenidas Miguel Castro e Prudente de Morais; e a primeira proposta para urbanização da orla de Ponta Negra, também escolhida através de concurso público.

Os três mantidos em ‘banho maria’ são a construção de uma Marina na foz do rio Potengi; a readequação das marginais da BR-101, no trecho entre o viaduto de Ponta Negra e o retorno de Cidade Satélite; e a área de lazer de Mãe Luiza, na Via Costeira, assunto que voltou à tona recentemente – ainda que de maneira tímida – após o debate em torno da liberação (ou não) de novos empreendimentos turísticos ao longo da via.

Já o Janelas do Potengi, projeto abraçado pela Prefeitura do Natal, no início dos anos 2000, e que previa um reordenamento urbano geral nas imediações da Praça André de Albuquerque, na Cidade Alta, ainda pode ser retomado caso haja interesse do município. A única proposta que pode sair do papel sem interferência pública é a restauração do Hotel Reis Magos, na Praia do Meio, hoje controlado por uma rede hoteleira pernambucana.

…A Natal real

Ponta Negra ficou só na ideia

A primeira urbanização da orla de Ponta Negra foi realizada no final da década de 1980, e o projeto já surgiu inadequado para as necessidades dos frequentadores e trabalhadores da praia. Ao longo dos anos, as antigas barracas de lona se proliferaram e até banheiros clandestinos foram construídos na faixa de areia. O problema se agravou de tal maneira que o Governo do RN, responsável pelas intervenções na orla, promoveu um concurso público em 1995 para escolher um novo projeto.
Uma segunda urbanização renovou a fachada da praia em 2000, mas o projeto elaborado pelos arquitetos Dulce Bentes, José Ailton de Morais, Roseane Dias e Fabiano Diniz – devidamente submetido à aprovação popular – sofreu alterações e apenas 30% do planejado acabou implantado.

Entre a aprovação e a execução do projeto, um intervalo de cerca de cinco anos, a ocupação desordenada da praia inviabilizou várias propostas  previstas originalmente como calçadões mais largos, mais vagas de estacionamento à beira mar, quiosques mais estruturados, equipamentos de lazer e área para a prática de esportes. “A área tida como pública acabou incorporada a terrenos particulares, e várias ruas que iriam permitir o acesso até a Via Costeira simplesmente sumiram”, declarou na época o arquiteto José Ailton de Morais, um dos autores do projeto.

Hoje o desafio para se fazer uma terceira urbanização da orla de Ponta Negra esbarra no avanço do mar, e requer estudos detalhados sobre erosão marinha e a dinâmica costeira. Destruído pela força das marés, o calçadão começou a desmoronar em fevereiro – problema intensificado a partir do mês de maio devido a falta de ações de prevenção. Interditado por apresentar riscos à população, a Prefeitura decretou estado de emergência e conseguiu recursos para recuperar a orla com a Secretaria Nacional da Defesa Civil Nacional. O início das obras para reconstruir o calçadão está prevista para o mês de setembro.

Confira a diferença do projeto para a realidade de diversos empreendimentos da cidade:

Hotel Reis Magos
No papel: Apesar de aparentar abandono e não funcionar, o hotel está sob
os cuidados da rede de Hotéis Pernambuco S/A. O grupo empresarial
negociou todas as pendências do imóvel, como impostos estaduais e
municipais, e busca parceiros para reativar o negócio. O projeto de
restauração e ampliação do hotel está orçado em R$ 20 milhões. Após
concluído, terá 294 apartamentos.
Hotel Reis Magos
O real: Inaugurado em 1965, pelo Governo do Estado, o Hotel Reis Magos funcionou
por três décadas e ainda hoje é tido como um dos símbolos do turismo no
RN. Tombado pelo Patrimônio Histórico por seu valor arquitetônico de
traços modernos, o hotel foi desativado em 1995 – mesmo ano em que
passou a ser controlado pela iniciativa privada.
Hotel Reis Magos

Marina de Natal

No papel: A proposta surgiu em 2007, quando um grupo de investidores
espanhol sinalizou interesse no empreendimento à Prefeitura. Orçada em
R$ 100 milhões, a Marina terá capacidade para receber até 450 barcos de
uma vez. A previsão é que as obras levem dois anos para serem
concluídas. O projeto está parado desde 2008 na Câmara Municipal.
Marina de Natal
O real: A área de 50 hectares, localizada na margem direita do rio Potengi,
permanece praticamente intacta e ocupada por vegetação nativa – cerca de
um terço do terreno serviu como canteiro de obras da ponte Newton
Navarro. Distante cerca de 500 metros da Fortaleza dos Reis Magos, a
área faz parte da Zona de Proteção Ambiental 7 e qualquer intervenção
depende da regulamentação da ZPA.

Área da Marina de Natal

Área de Lazer Via Costeira

No papel: Concebido pela arquiteta Luciana Kelly Maia Correia como
trabalho de conclusão de curso, o projeto foi registrado no IAB-RN e
doado ao município. No local estavam previstos a construção de minicampo
de futebol, quadra poliesportiva, parque infantil, área para
comercialização de artesanato, anfiteatro, quiosques e pista para
caminhada. O início das obras estava previsto para o primeiro semestre
de 2006.
Área de Lazer da Via Costeira
O real: O lote da Via Costeira, onde a área de lazer deveria ter sido
construída, pertence à Datanorte. Disponível desde 2007 para o município
viabilizar o projeto, a área à beira-mar tem 17 mil metros quadrados e
fica entre os hotéis Pirâmide e Porto do Mar. Em 2004, o Governo Federal
chegou a liberar R$ 1 milhão. Na época, além dos entraves burocráticos,
houve pressão do setor hoteleiro contra o projeto.
Espaço da Área de Lazer da Via Costeira

Teatro de Natal

No papel: O projeto vencedor, assinado pelos arquitetos Mario Biselli e
Guilherme Lemke Motta, de São Paulo, continha três salas de espetáculos,
área de convivência e edifício garagem. Acabou engavetado pelo Governo
por inviabilidade econômica – a Secretaria Estadual de Infraestrutura
chegou a estimar orçamento em R$ 60 milhões. Os arquitetos receberam um
prêmio R$ 60 mil pelo projeto.
Teatro de Natal
O real: O terreno onde o Teatro de Natal seria erguido fica no cruzamento das
avenidas Prudente de Morais e Miguel Castro, em Lagoa Nova, mas até hoje
a área de 12 mil metros quadrados permanece desocupada – atualmente
serve como estacionamento do DER-RN. A proposta para construir o
equipamento surgiu em 2005, quando o Governo do Estado lançou um
concurso nacional para escolha do projeto.
Terreno do Teatro de Natal

Marginais da BR-101
No papel: A obra é do Dnit, mas a responsabilidade da construção era do
Exército – que deixou de trabalhar alegando falta de repasses por parte
do Governo Federal. Em setembro de 2011, chegou-se a anunciar o prazo
para conclusão: 31 de agosto deste ano. Estavam previstas mudanças
significativas na altura do Sam’s Club em Neópolis; nas imediações do
antigo Posto Senador; e em frente ao conjunto Cidade Satélite.

O real: A estrutura viária da BR-101, principalmente no trecho urbano de Natal
entre o Viaduto de Ponta Negra e o retorno de Cidade Satélite, não
acompanhou a velocidade de ampliação da frota de veículos que circulam
na Região Metropolitana. A necessidade de replanejar o trânsito é
comprovada pelos engarrafamentos diários que afligem a população que
utiliza a rodovia.
Marginais da BR-101

Praça André de Albuquerque
No papel: Elaborado pelo arquiteto Carlos H. Nogueira, o projeto Janelas
do Potengi previa intervenções que incluíam desapropriações para
descortinar a vista do rio; construção de equipamentos de lazer,
calçadão e um túnel (início na altura da Praça das Mães e final após a
praça João Tibúrcio, por trás da Igreja do Galo) para desviar todo o
tráfego. Pontos de ônibus e estacionamento também seriam subterrâneos.
Praça André de Albuquerque
O real: Marco zero da fundação de Natal, em 1599, a Praça André de Albuquerque
está cercada pelos principais imóveis tombados pelo Patrimônio Histórico
no centro da cidade. Descaracterizada ao longo do tempo, perdeu seu
contato com o rio Potengi e hoje é testemunha da falta de estrutura para
receber o chamado turismo cultural. Durante o dia, seu entorno se
transforma em estacionamento concorrido.
Área da Praça André de Albuquerque

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