Carla França – Repórter
Celebrar a fé humana, lembrar o martírio e a ressurreição de Jesus Cristo. Para os cristãos esse é o significado da Semana Santa, um tempo especial de oração e intimidade com Deus. A preparação, vivida em toda Quaresma (período de 40 dias entre a Quarta-Feira de Cinzas e o Domingo de Páscoa), toma uma dimensão ainda mais profunda a partir de hoje, quando se iniciam – com a celebração do Domingo de Ramos – os rituais da Grande Semana.
“A Semana Santa é o ponto alto do ano litúrgico. Celebramos o tríduo pascal – paixão, morte e ressurreição de Jesus, que é o centro da nossa fé. Se Cristo não ressuscitou, então nossa fé é uma ilusão”, explica o vigário geral da Arquidiocese de Natal e pároco da Catedral, padre Aerton Sales da Cunha.
Permeada de simbolismos, a Semana Santa ajuda os cristãos a refletir nos últimos dias de vida de Jesus na Terra. Sofrimento, morte e ressurreição são lembrados com resignação pelos cristãos que vêem na Páscoa o motivo de renovação para fé.
“É o momento de buscar a reconciliação com Deus para que a partir do Domingo de Páscoa, possamos ser criaturas novas e merecedoras do amor de Jesus Cristo, que se sacrificou por nós”, conta o mexicano Lauril Bonídia, 24 anos, que está morando em Natal há seis meses.
Todo esse crescimento espiritual se dá durante a Quaresma, período no qual os cristãos católicos seguem alguns rituais como o jejum. A dona de casa Maria de Lourdes Segundo, 69 anos, mantém firme a tradição passada pela mãe.
“A partir da Quarta-Feira de Cinzas eu já não como mais carne. Na Quaresma, costumo guardar as quartas e as sextas-feiras. É uma espécie de penitência, mas que não chega nem perto do que Jesus fez por nós”, diz a dona de casa.
O aposentado Eli Alves da Silva, 59 anos, também preserva a tradição do jejum e da abstinência durante a Quaresma e a Semana Santa. “É uma forma de se aproximar de Deus. Se estamos aqui é por ele, então, nada melhor do que viver a paixão e a morte de seu filho, Jesus Cristo”, justifica Eli, que é ministro da Eucaristia na Paróquia São Sebastião, de Parelhas.
Diferente do que muitos pensam, os jovens também participam desse momento de fé católica. O jovem mexicano Lauril Bonídia é um exemplo. Ele faz jejum desde a Quarta- Feira de Cinza. “Quando nos aproximamos da Semana Santa o jejum é mais rigoroso. No almoço, comemos apenas biscoito com suco”, conta o jovem que disse ainda que esse costume também é cultivado no México
Segundo o padre Aerton, a Igreja Católica não vê a penitencia como um desejo de sofrimento e de tristeza. “É um desejo de perdão, de encontro com Deus que vem acompanhado de uma certa alegria. A penitência é um sinal de arrependimento dos pecados no caminho que nos conduz para a conversão”, diz.
Reflexão dos católicos dura 40 dias
Depois de 40 dias voltados à reflexão, os católicos de todo mundo estão prontos para a Semana Santa, maior festa da Igreja Católica, que fundamenta todas as outras.
“O Domingo de Ramos dá início à Semana Santa e celebra a entrada triunfal de Jesus Cristo na cidade de Jerusalém. Jesus foi para Jerusalém para celebrar a Páscoa Judaica com seus discípulos. Os cristãos, manifestam sua fé em Jesus, levando ramos à igreja para serem abençoados pelo padre”, diz o viário geral.
Na primeira metade da Semana, a Igreja não realiza nenhuma celebração especial. Na Quinta-Feira Santa destacam-se a Benção dos Santos Óleos,a Instituição da Eucaristia e a Cerimônia do Lava-Pés. “Nessa celebração o padre refaz um gesto de Jesus Cristo, que mostrou humildade ao lavar, enxugar e beijar os pés dos seus discípulos. Com esse gesto, ele nos deixa uma grande lição de quem quiser ser o maior deve servir ao próximo”, explica padre Aerton.
Na Sexta-Feira da Paixão é lembrada a morte de Cristo. Para a Igreja é um dia de silêncio e jejum. “A Sexta Feira da Paixão e na Quarta de Cinzas são os únicos dias que a Igreja proíbe a ingestão de carne”, orienta o vigário geral.
No Sábado de Aleluia, um dia antes da Páscoa, a missa é realizada sem a celebração da Eucaristia, como também ocorre na sexta. Neste dia a Igreja proclama a ressurreição, os católicos mais uma vez, renovam a fé em Cristo. Chegado o domingo de Páscoa, os católicos celebram a ressurreição de Cristo. A Bíblia diz que a ressurreição aconteceu no primeiro dia da semana. E é por esse motivo que a Igreja ‘guarda’ o domingo e não o sábado.
“Esse é um momento em que a Igreja convoca todos os cristãos para que nesta Semana Santa procurem abrir os corações para um Deus mais solidário e fraterno na convivência com o outro. E assim celebrar a Páscoa com uma vida nova que Deus concederá a cada um para se feliz”, diz padre Aerton Sales da Cunha.
Igreja Católica incentiva fiéis a doarem sangue
A Semana Santa é tempo de paz, amor e de união entre as pessoas. E como a doação de sangue é um gesto que representa todo esse amor ao próximo, a Arquidiocese de Natal e o Hemornorte firmaram uma parceria para a realização de uma campanha de doação de sangue, durante esse período. Com o lema “Eu vim para que todos tenham vida”, a campanha, que será realizada nos dias 29, 30 e 31 deste mês tem o objeto de receber o maior número de doações possíveis.
“Nós vamos disponibilizar a estrutura da Paróquia da Catedral, aqui, no subsolo, para a coleta do sangue. A Igreja compreende que doar sangue, além de ser uma necessidade, é também um sinal da solidariedade”, diz o Vigário Geral da Arquidiocese de Natal e Pároco da Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, padre. Aerton Sales da Cunha.
Serão três pontos de coleta de sangue. Um no subsolo Catedral Metropolitana, que fica na Av. Deodoro da Fonseca, Centro. Outro na sede do Hemonorte, na Av. Alexandrino de Alencar, 1800, Tirol, e o terceiro é na Casa da Cidadania, na Av. Paulistana Zona Norte de Natal. “É uma oportunidade do cristão doar um pouco de sua própria vida, assim como Cristo fez com a gente”, diz padre Aerton.
Mais informações, nos seguintes telefones: 3201-4559 / 3615-2800, na Paróquia da Catedral; 3232-6724 / 6725, no Hemonorte.
O sacrifício visto de formas diferentes
A comemoração da Semana Santa não é semelhante em todas as religiões. Evangélicos, espíritas, umbandistas, adeptos do candomblé, possuem sua forma própria de recordar o sacrifício, morte e ressurreição de Cristo na cruz.
Espíritas
“O Espiritismo não celebra a Semana Santa nem comemora a Páscoa. No entanto, respeitamos todas as religiões que as celebram, pois nós espíritas respeitamos a diversidade das perspectivas religiosas”, explica o presidente da Federação Espírita do RN, Éden Lemos.
Para os espíritas todos os ensinamentos de Jesus devem ser estudados e vividos diariamente. “Entendemos que a vida em nosso planeta só será feliz quando efetivamente amarmos a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos, saindo do discurso sem ações concretas para uma vivência real deste amor que Jesus nos ensinou a viver”, diz Éden.
Evangélicos
Os cristãos protestantes celebram todos os meses a instituição da Santa Ceia, a morte e ressurreição de Jesus. “Para nós, não há nada de especial na Semana Santa, é uma semana como outra qualquer, até porque todos os meses nós celebramos a instituição da Santa Ceia”, diz o pastor da Assembleia de Deus, Márcio Klauber Maia.
Os protestantes também não associam alguns símbolos da Páscoa como o coelho, o ovos de chocolate aos seus elementos. “Incentivamos que os nossos membros busquem o jejum e a penitência durante todos os dias do ano r não em uma semana específica”, explica o pastor Klauber.
Muçulmanos
Entre os muçulmanos, não há celebração pela Semana Santa, apesar do Islam respeitar e considerar Jesus como um dos maiores profetas enviados por Deus à humanidade. Toda a história da Virgem Maria e sobre o nascimento milagroso de Jesus é aceita pelos muçulmanos e está contada, com pequenas variações de detalhes, no Alcorão, o livro sagrado do Islam. A semelhança termina, justamente, na versão sobre a morte do Cristo.
“Não acreditamos que Jesus, a paz de Deus esteja com ele, foi crucificado. Deus informa, no Alcorão, que os romanos e os judeus se enganaram e crucificaram um outro e que Jesus foi arrebatado, tal como o profeta Elias”, explica o médico Expedito Ferreira, presidente da Associação Beneficente Muçulmana do Rio Grande do Norte. “Uma das crenças básicas na doutrina islâmica é que Jesus não morreu, mas voltará próximo ao fim dos tempos para liderar os crentes no Deus Único”, completa ele.
Candomblé e Umbanda
Sendo religiões de origem africana, na essência, o Candomblé e a Umbanda não comemoram a Semana Santa. “Mas em decorrência da interferência cristã nessas duas religiões, nós passamos a respeitar alguns pontos”, explica a mãe de santo da Tenda Espírita Iemanjá Ogum Té, Cremilda dos Santos
Segundo ela, no período da Quaresma acontece o retiro dos orixás. É um período de preparação dos orixás, eles são cobertos com um pano -assim como os santos da Igreja Católica -recebem oferendas. “Eles ficam cobertos até a Sexta—Feira Santa. “Da sexta para o sábado todos os filhos dormem no chão da Tenda para esperar a chegada dos orixás que acontece a partir das 6h da manhã. No domingo, não há nenhum ritual específico”, diz Cremilda.
Rituais da Semana Santa
A Semana Santa é um período muito especial para os católicos. É a maior festa da Igreja, que procura seguir os passos de Jesus Cristo. Os rituais tem início no Domingo de Ramos e chegam ao fim no Domingo de Páscoa, dia da ressurreição de Cristo. Confira os principais rituais da Semana Santa.
Domingo de Ramos:
O Domingo de Ramos dá início à Semana Santa e lembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, aclamado pelos judeus. A Igreja recorda os louvores da multidão cobrindo os caminhos para a passagem de Jesus, com ramos e matos proclamando: “Hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor”. (Lc 19, 38; Mt 21, 9).
Quinta-Feira Santa:
Neste dia a Igreja Católica celebra a Instituição do Sacramento da Eucaristia. Na Quinta-feira Santa, destacam-se dois grandes acontecimentos:
Missa dos Santos Óleos: a celebração, que geralmente acontece pela manhã, relembra a instituição do sacerdócio. Os padres de todas as paróquias participam da missa e renovam as promessas sacerdotais. Nesse ritual também são abençoados os óleos utilizados no Batismo, no Crisma e na extrema unção.
Instituição da Eucaristia e Missa do Lava-Pés:
Com a Missa da Ceia do Senhor, a Igreja dá início ao chamado Tríduo Pascal e comemora a Última Ceia. Nesta missa faz-se, portanto, a memória da instituição da Eucaristia. Durante a celebração ocorre a cerimônia do Lava-Pés que lembra o gesto de Jesus na Última Ceia, quando lavou os pés dos seus apóstolos.
Sexta-Feira Santa:
Celebra-se a paixão e morte de Jesus Cristo. O silêncio, o jejum e a oração marcar este dia. É um dia de profundo respeito diante da morte Jesus Cristo. Geralmente, às 15h, horário em que Jesus teria sido morto, é celebrada a principal cerimônia do dia: a Paixão do Senhor. Ela consta de três partes: liturgia da Palavra, adoração da cruz e comunhão eucarística. Depois deste momento não há mais comunhão eucarística até que seja realizada a celebração da Páscoa.
Sábado Santo:
No Sábado Santo ou Sábado de Aleluia, a principal celebração é a “Vigília Pascal”, que tem início na noite do sábado em memória da ressurreição de Jesus Cristo. Nela o Círio Pascal é acesso, resultando as cinzas. O significado das cinzas é que do pó viemos e para o pó voltaremos, sinal de conversão e de que nada somos sem Deus. Um símbolo da renovação de um ciclo.
Domingo de Páscoa:
A palavra “páscoa” vem do hebreu “Peseach” e significa “passagem”. Era vivamente comemorada pelos judeus do Antigo Testamento. A ressurreição de Jesus Cristo é o ponto central e mais importante da fé cristã e marca a passagem da morte para a vida, das trevas para a luz. A ressurreição de Jesus Cristo marca o início de uma vida nova para todos os cristãos São celebradas missas festivas durante todo o domingo.
