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A imortal imagem do ser

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Tádzio França
repórter

Uma breve reflexão em vídeo sobre a morte comoveu Cannes. O prestigioso festival francês de cinema exibiu, em maio deste ano, o curta-metragem “La Fille de Dibutades” (A Filha de Dibutades), obra de estudantes brasileiros recém-formados do curso de cinema e audiovisual da universidade de Sorbonne Nouvelle, Flávia Cardoso Sampaio, Ana Araki e Guilherme Ferraz. Um feito notável para a carreira dos novos profissionais, e que será exibido em Natal nesta quinta-feira, às 19h, na Aliança Francesa. Flávia Sampaio está na cidade à convite da professora Andréia Carvalho.
Formada em cinema e audiovisual pela universidade Sorbonne Nouvelle, a baiana Flávia Cardoso Sampaio está em Natal para falar sobre seu curta selecionado no recente Festival de Cannes
Um trabalho de conclusão de curso, feito artesanalmente e sem maiores pretensões além da boa nota, inserido num dos maiores festivais de cinema do mundo. Daí é retirado o valor extra de “La Fille de Dibutades” para Flávia Cardoso, baiana que mora há cinco anos em Paris. “Quando terminamos o vídeo, que deveria ter cinco minutos, com tema livre, a professora ficou impressionada com o resultado. Ela nos encorajou a inscrever o curta em Cannes. E para nossa surpresa, fomos selecionadas. Há gente que trabalha um ano para concluir uma obra dessas, e a nossa de apenas três meses já conseguiu essa repercussão, foi incrível”, relata.

O filme foi feito em 35 mm e selecionado para ser exibido no ‘Short Film Corner’, a mostra de curtas do Festival de Cannes. O tema e a forma como foi trabalhado garantiram a surpresa que o curta-metragem franco-brasileiro provoca no espectador.

O mito de Dibutades

 Flávia se inspirou no mito grego de Dibutades, sobre a origem da pintura, relendo a história para a fotografia. A base para essa interpretação moderna veio dos textos do teórico Roland Barthes, principalmente do livro “La Chambre Claire”, e de trechos que falam sobre a simbologia das fotos das pessoas mortas, costume comum no final do século XIX.

A conexão é óbvia: segundo o mito, a jovem Ditubades projetou a sombra de seu amado, que partia para a guerra, na parede e traçou uma linha em torno dela. A intenção era guardar sua imagem para sempre. Assim nasceu a pintura, e seu sentido se estendeu à fotografia: a intenção de imortalizar a imagem. O curta se trata de uma reflexão sobre a relação entre a arte fotográfica e a morte, reunindo fotos de pessoas falecidas entre o fim do século XIX e começo do XX. A ideia era “guardar” a alma dos falecidos.

A narrativa, entre um casal apaixonado que lida com a morte, usa textos de Roland Barthes, Marilyn Monroe e do poema “Les trois allumetes”, de Jacques Prevert. Os atores, uma francesa e um brasileiro, não dialogam, apenas narram as frases. “O curta não conta propriamente uma história. É uma reflexão sobre amor, morte e vida, sobre o que deixamos para trás. E a única coisa que resta são fotos para mostrar que estivemos aqui”, explica Flávia.

Toda a produção do filme foi artesanal. “Utilizamos material próprio, como câmera, microfone, e improvisamos as locações, editamos no meu notebook e o figurino veio do armário dos atores”, relata Flávia. Uma ação conjunta entre amigos e colegas, com vários improvisos, e ótimos resultados. Em Cannes, os videomakers iniciantes tiveram contato direto com outros produtores e diretores. Para Flávia, a estreia com o ‘pé direito’ já está rendendo alguns frutos. Ela recebeu propostas no Brasil – para produzir e ser produzida – e está escrevendo o roteiro de um novo curta (agora com 15 minutos). “A repercussão em Cannes abriu muitas portas, sem dúvida”, atesta. A próxima parada de “La Fille de Dibutades” é o Festival Brasileiro de Filmes em Toronto, o BRAFFT, entre setembro e outubro.

Serviço:

Exibição do curta “La Fille de Dibutades”, quinta, às 19h, na Aliança Francesa. Acesso livre.

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