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A literatura de pijama

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É o título da  crônica de Ruy Castro, na Folha de  S. Paulo de ontem, 14. RC é um dos craques da  seleção dos maiores cronistas desta pátria de Rubem Braga, Paulo Mendes, Nelson Rodrigues,  José Carlos de Oliveira, Antônio Maria, Carlos Drummond de Andrade, por aí, e das minhas leituras diárias facilitadas pela internet. Que  sempre faço de bermudas folgadas, velhas e fora da moda. Me sinto bem. Ruy Castro não é somente o grande cronista, mas o biógrafo excepcional de Nelson Rodrigues (O anjo pornográfico), de Garrincha (A Estrela solitária), de Carmem Miranda (Carmem: uma biografia). Junte a esses títulos sua fabulosa história da Bossa Nova: Chega de Saudade. Mais seus livros (vários) de crônicas andando pelos bairros do Rio de Janeiro e ainda seus ensaios pela literatura universal (O Leitor Apaixonado) e tantos outros livros. Um senhor escritor. Jornalista, idem.

“A literatura de pijama” é um cálice do seu estilo apurado, elegante, gostoso e que conquista o leitor logo na primeira linha, na calçada,  cacoete do bom jornalista, como nesta abertura de um texto sobre a revista Playboy, que li dia desses na revista Florense: “O  número 1 da ‘Playboy’ saiu em 1953, nos Estados Unidos. Trazia Marilyn Monroe na capa, mas não a data da publicação.” Ora, Marilyn Monroe atrai logo, de cara,  qualquer cristão, judeu ou muçulmano, todos numa mesma comunhão. Bom, mas falemos sobre “A literatura de pijama”. É bem brasileira. Escreve Ruy Castro:

“Domingos Oliveira, cineasta e dramaturgo que muito admiro, contou na “Ilustríssima” (“A torradeira do poeta”, 11/8) sua experiência como assistente de Joaquim Pedro de Andrade na filmagem do curta “O Poeta do Castelo” (1959), sobre Manoel Bandeira. No filme, Bandeira aparece de roupão sobre o pijama, na cozinha de seu humílimo apartamento na avenida Beira-Mar, no Castelo, preparando o café da manhã. Enquanto o vemos fervendo o  leite, ouvimo-lo em “off” recitando sua poesia. Depois Bandeira fica só de pijama e volta para a cama. Recosta-se e puxa para perto de si a mesinha com a máquina de escrever.

O filme é ótimo, mas, se a ideia era mostrar a simplicidade de vida de um grande poeta brasileiro, a cozinha micro, as canequinhas na bateria e o fogão cuja trempe ele tem de soprar para acender já seriam suficientes. Nunca entendi o roupão e o pijama.

Em outro curta, sobre Nelson Rodrigues, “Fragmentos de Dois Escritores” (1968, de João Bethencourt), vê-se Nelson também batucando à máquina, fumando na janela, tomando sua papinha para a úlcera, e também de pijama, em seu apartamento de Ipanema. E, numa famosa foto, Mário de Andrade posa com um luxuoso “robe de chambre” – dizem que desenhado por ele – em sua casa em São Paulo. Sob o robe, o pijama.

Por algum motivo, os escritores brasileiros gostavam de se deixar filmar ou fotografar em trajes íntimos – e pode haver traje mais íntimo do que o pijama, a roupa com que se dorme e se acorda? Mas esse motivo me escapa. E a regra só se aplica a eles – não tenho notícia de que Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, nem mesmo Hilda Hilst tenham sido um dia flagradas de camisolas ou “peignoir”.

Se alguém me pedir, vou ter de declinar. Não uso pijama desde criança. A verdadeira intimidade está entre uma linha e outro do que se escreve.”

Mais literatura

Deu  na coluna de Ancelmo Gois, de O Globo, com o título “Vida real na ficção”:

– A jornalista Leda Nagle, quando visitou o primo Fernando Gabeira no exílio, na década de 1970, além de levar bombons Sonho de Valsa e comidas típicas, carregou consigo para Estocolmo um quadro de Charles Chaplin, cuja moldura, feita de papel machê, estava recheada de cartas de presos políticos da Penitenciária Lemos Brito, um dos centros de torturas do Rio na época da ditadura militar.

– A história real é parte do novo romance de Edney Silvestre, “Vidas provisórias” (Editora Intrínseca), que terá lançamento hoje (foi terça) às 19h30, na Livraria Travessa do Leblon.

Cascudo

Cláudio Galvão encerra, hoje à noite no Solar Bela Vista, coisa das 19h30, a segunda rodada do Seminário Letras Potiguares, falando sobre Luís da Câmara Cascudo, o musicista. Entrada livre.

Serviço ruim

De um natalense desavisado, mas bastante viajado, ouvi ontem o seguinte desabafo:

“WM, se você for ao Aeroporto Augusto Severo não se sirva nunca do seu bar. Aquilo é uma vergonha e uma ladroeira. Começo desta semana andei por lá. Pedi um suco de laranja e minha mulher um capuchino pequeno. Nos cobraram R$ 10,30 e o serviço é de baixa qualidade. A garçonete trouxe pra mesa o copo de suco na mão, sem bandeja, sem canudo e sem guardanapo. Pior: fez cara feia quando pedimos para ela trazer esses acessórios. Saí puto da vida.”

Rádio Nordeste

A Assembleia Legislativa realiza amanhã, 16, uma sessão especial (10 horas) em homenagem aos 18 anos de funcionamento da Rádio Nordeste Evangélica, ligada à Assembleia de Deus no Rio Grande do Norte. Proposta do deputado Antônio Jácome.

Teatrinho do absurdo

Diálogo acontecido, ouvido e registrado pelo mestre Gaspar,  final da tarde de terça-feira na calçada da Igreja do Bom Jesus das Dores (como tem sofrido!), diante do caos  total que há meses acontece ali por conta de um serviço de saneamento de  uma empresa particular. Centenas de carros, ônibus e caminhões buzinando num corredor de lama fedorenta.

Vendo a escavadeira no  meio da junção da Rio Branco com a  Cordeiro de Farias, mais um bico da rua Teotônio Freire e praça Capitão José da Penha, desembocando na Duque de Caxias, um cidadão, com acentuado sotaque mossoroense, perguntou para um camarada, ao lado:

– É o pré-sal?

O outro, em cima da bucha:

– Não. É o pró-bosta.

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