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A nova psicodelia potiguar

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Yuno Silva
Repórter

Walter Nazário tem 25 anos, nasceu no raiar dos anos 1990, mas suas referências musicais sintonizam momentos da segunda metade da década de 1960 – um período incensado pelo ‘flower power’ e pela nuvem psicodélica que temperava os sentidos. Nessa época surgiram bandas como Os Mutantes, Pink Floyd, Cream, Jefferson Airplane, The Jimi Hendrix Experience e The Doors, só para citar as mais famosas, e é nessa ‘vibe’ experimental e psicodélica que Nazário, compositor e produtor musical natalense, constrói seu legado sonoro. Mas não como coisa que soe datada, pelo contrário, a organicidade eletrônica presente no som de Nazário soa moderna, contemporânea.   
Solo ou em bandas como Mahmed e Igapó das Alma, Nazário surge como protagonista da novíssima safra do ‘rock made in RN’
Solo ou acompanhado, ele vem imprimindo sua personalidade na novíssima safra do ‘rock made in RN’ onde figuram os combos Mahmed, Igapó de Almas, ÓperaLóki e Esquizophanque. Cada banda tem sua personalidade definida, umas mais conhecidas do público outras ainda em gestação, com o fator Nazário em comum.

Entre elas, a que tem mais tempo de palco é a banda Mahmed – tocou em festivais e foi uma das atrações da festa do Dia da Poesia promovida pela Fundação Capitania das Artes agora em março. “O Mahmed está mais organizado, vamos lançar nosso primeiro álbum agora em abril pelo selo Bala Clava, de São Paulo”, informou Walter, lembrando que nesta Sexta-feira da Paixão (3) o ÓperaLóki faz show no Ateliê Bar e Petiscaria, na Ribeira, a partir das 21h. O Igapó de Almas se apresenta dia 12 de abril, na próxima edição do projeto Eco Praça que acontece na Zona Norte.

Digital ou vinil
Vencedor do Prêmio Hangar na categoria Compositor, Nazário diz não confiar no CD, prefere a plataforma digital ou o bom e velho vinil. “Estamos na batalha pra esse disco do Mahmed sair em vinil. O CD está acabando, estraga com o tempo, enquanto o LP, além da durabilidade tem a questão do fetiche”, confessa o músico e professor de História.

Suas criações, que incluem baladinhas, voz e violão e música eletrônica, também podem ser vistas na tela como trilha sonora de performances e do curta “Janaína Colorida feito o Céu”, da diretora Babi Baracho.

Tudo começou em 2007, quando ele, então vidrado em RAP, começou a produzir bases, samples e colagens. Sua meta é viver de música: “Sucesso pra mim não significa grandes públicos, e sim conseguir viver disso, dar condições para meu filho (de 8 anos)”, simplifica. Nazário conta que tocando solo (guitarra, bateria e ‘computador’)  consegue dobrar, triplicar as possibilidades, mas esbarra nas limitações na hora de tocar ao vivo. “Precisaria de uma super banda, por isso estou investindo em uma discotecagem diferenciada: coloco um LP para rodar e acompanho as músicas com guitarra, synth, samples. É um som mais lounge, melódico, pouca batida e muito efeito”.

Ele tem noção da dificuldade de se viver de música em Natal, mesmo com a cidade passando por um bom momento. “Está movimentado, mas é muito tapinha nas costas e cachê baixo”.

Timbres setentistas na essência

Longe do óbvio quando o assunto é rock psicodélico, Walter Nazário se diz influenciado por João Bosco, Jards Macalé, Jorge Ben (antes de virar Benjor), Daniel Ganjaman (produtor musical que trabalha com artistas como Criolo e Otto). “Por baixo das camadas de efeitos e da psicodelia, busco a essência melódica, a sofisticação, brasilidade em geral”. Entre os gringos cita os guitarristas Jimi Hendrix e John Frusciante, a banda australiana Tame Impala, o multiinstrumentista e cantor canadense Mac DeMarco, e os rappers norte-americanos Flying Lotus, Madlib e J Dilla.

Apesar da pegada experimental e psicodélica, a britânica Pink Floyd, um dos expoentes do estilo, não é considerada uma influência importante para o natalense. “Vemos hoje um retorno de timbres setentistas, sou como uma antena: as coisas vão passando e vou captando”.

Dos projetos que participa, a Igapó de Almas, por exemplo, formada por Nazário e Pedras Leão em 2011, “tem uma antena fincada na selva de olho no futuro”. Já o Mahmed transita pelo funk rock, experimental e instrumental, enquanto a ÓperaLóki, criação de Arthur Costa-Pedro, “canta o amor e é, digamos, mais fácil. Diferente da Esquizophanque, uma macumba pop provocativa que mistura funk com progressivo e psicodelismo”.

Para matar a curiosidade, procure Walter Nazário e as bandas que ele participa no soundcloud.com ou no  bandcamp.com, e boa viagem!

Projetos
Mahmed
A banda aposta em melodias elaboradas, e no lado experimental e instrumental da mistura de rock com funk. O quarteto surgiu em 2013, e é formado por Walter Nazário (guitarra e synth), Dimetrius Ferreira (guitarra), Leandro Menezes (baixo e trumpete) e Ian Medeiros (bateria). Lançou o EP “Domínio das Águas e dos Céus” e este mês, pelo selo Bala Clava (SP), apresenta o álbum virtual “Sobre a vida em comunidade” com pretensões de sair registrado em vinil.
[mahmed.bandcamp.com]

Esquizophanque
Formada com a intenção de soar mais “fácil”, acabou por investir em uma sonoridade provocativa e suja, uma “macumba pop” que mescla funk com rock progressivo e psicodelia. Lançou os EPs “Para não esquecer de viver” e “Trio Elétrico Fantasma”. O trio traz na formação Walter Nazário, Pedras Leão e Henrique Lopes.
[esquizophanque.bandcamp.com]

Carreira solo
Eclético, Walter Nazário produz bases eletrônicas desde 2007. Música eletrônica, baladas, voz e violão e sessão ao piano estão no cardápio. Lançou o EP “Corvos” e a coletânea “Hospedando deuses marotos”. Em 2014 faturou o prêmio de Melhor Compositor no Prêmio Hangar, e vem investindo em discotecagens diferenciadas (guitarras e efeitos sobre um LP tocando, a princípio de Geraldo Vandré e de nomes do jazz) para se apresentar no formato solo.
[soundcloud.com/walternazarius]

ÓperaLóki

Surgiu da ideia do cantor e compositor Arthur Costa-Pedro. Também formada por Walter Nazário, Cândido Cosmos e Daniel Morais, a banda lançou o disco “Infancya, sonhos & amores” em 2014. As letras falam de amor e a sonoridade pop flerta com o experimentalismo.
[operaloki.bandcamp.com]

Igapó de Almas
Experimental ao extremo, busca energias da conexão selva e tecnologia. O embrião da banda surgiu em 2011, quando Pedras Leão mostrou algumas composições para Walter Nazário. Em 2014 lançou o disco “A”, disponível para download gratuito.
[igapdealmas.bandcamp.com]

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