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A poesia de Carlos Newton

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Carlos Newton Júnior nos dá um novo e belo livro de poesia, De mãos dadas aos caboclos, quando ainda se ouvem as fanfarras que consagraram o seu penúltimo trabalho, Poeta em Londres, de 2005, ambos editados pela  Bagaço, do Recife. De mãos dadas aos caboclos, saiu agora, coisa de dois meses, numa edição graficamente bem cuidada e onde se destaca a capa bolada a partir de uma xilogravura de Virgílio Maia (outro grande poeta e artista gráfico) “sobre pintura rupestre do Sertão do Seridó, Rio Grande do Norte”.

Em carta para o autor, o poeta  Ivan Junqueira, da Academia Brasileira de Letras e um dos grandes nomes da nossa poesia –  acaba de ganhar o Prêmio Jabuti – 2008, da Câmara Brasileira do Livro, na categoria Poesia, com o livro “O outro lado” -, falou assim sobre o livro de Carlos Newton Júnior:

– Eu já o conhecia de alguns poemas publicados na revista de Arnaldo Saraiva e dos constantes elogios que lhe faz Alexei Bueno. De mãos dadas aos Caboclos, justifica plenamente a escolha daquele e os encômios deste. Há em sua poesia não apenas uma exigência de arquitetura verbal que muito estimo, mas também algo que defino como verdade, essa verdade de que carece a imensa maioria dos que atualmente se dizem poetas.

– Os Fragmentos I, IV, VI, IX, X, XI, XIII, XV, XVII, XXIII, XXVIII e XXX de “Sagração”, assim como o poema “Os Mortos”, bastariam para situá-lo entre os melhores poetas que hoje escrevem entre nós.”

No Fragmento XXX, Carlos Newton canta:

“Somente agora, aos quarenta anos de idade, / eu me aproximo de ti, Maiacovski. / Antes fosse pela tua vida / de comandante revolucionário; / antes fosse pelos teus versos / cortantes, claros, combativos; / antes fosse pela inveja do teu porte / de gigante bem apessoado, / com crânio repleto de versos / que saíam de tua boca numa voz imperativa / como o estrondo do trovão. // Eu me aproximo de ti / por causa do amor. / Por não acreditar no trigésimo século / e saber que não irei ressuscitar / para revê-la. // Porque, com o meu coração dilacerado, / eu também desejei ser um czar / para gravar uma única imagem sobre todas as moedas / e fazê-la brilhar pela terra inteira, / cheia de alegria. / Sei, por ouvir dizer, / que poema algum irá jogá-la nos meus braços / e apagará a chama que me queima.” (…)

O poeta, crítico, tradutor e editor Alexei Bueno(também ganhador do Prêmio Jabuti, duas vezes, com “O patrimônio construído”, 2002, e “Poesia Reunida”, 2003), disse sobre a obra de Carlos Newton: “O pernambucano Carlos Newton Júnior, após publicar Canudos: poema dos quinhentos, importante retorno lírico a esse episódio mais traumático da história brasileira, editou Poeta em Londres, livro sob todos os aspectos da maior maturidade poética, que o consagra como um dos grandes poetas dessa geração”.

Em 2004, Alexei Bueno organizou para a Danú Editorial, de Santiago de Compostela (Espanha), a antologia Poesia Brasileira Hoxe, na qual incluiu 10 poemas de Carlos Newton que seriam publicados depois em Poeta em Londres (2005). Nessa edição galega, Carlos Newton aparece ao lado de outros grandes poetas como Ledo Ivo, Gerardo Mello Mourão, Carlos Nejar, Alberto Cunha Melo, Ariano Suassuna e Ferreira Gullar.

Machado de Assis

Amanhã, 29 de setembro, faz cem anos da morte de Machado de Assis, o mais importante escritor brasileiro. Desde janeiro, no rastro desta memória, que o país celebra Machado e sua obra. Ele está em atos oficiais, em seminários acadêmicos, em festivais literários, em bienais de livros, na reedição de seus livros, nas capas de revistas especializadas e não (a Veja da semana que passou, por exemplo, publicou uma grande reportagem de 12 páginas), nos cadernos dois e suplementos literários de nossa imprensa, em artigos, ensaios, crônicas, rica, múltipla e variada produção intelectual que se espalha pelo país inteiro.

Esta semana teve o lançamento de toda a obra de Machado de Assis na internet. Do lugar mais obscuro deste país, que ressente de livrarias e bibliotecas (inclusive escolares) é possível, agora, alcançar toda a produção intelectual do escritor: seus romances, seus contos, sua poesia, suas crônicas, seu teatro, sua crítica literária e teatral, seus ensaios, suas traduções. Basta que naquela cidade tenha um sinal digital, um computador que possa subir na garupa da internet. Sim, isso é fantástico. Fantástico conhecer Machado de Assis e sua obra monumental. Que a moçada tenha esse privilégio, viva!

Semanas atrás, acho que foi em junho, o jornal “O Globo” publicou no caderno “Prosa & Verso”, dois obituários de Machado Assis. Um, em o Paiz; o outro, no Correio da Manhã, edições do dia 30 de setembro de 1908. Eram os dois principais jornais do Rio de Janeiro, naquela época. Destaco trechos do texto de O Paiz:

– A literatura nacional acaba de soffrer, com a morte e Machado de Assis, seu chefe incontestado, uma perda verdadeiramente irreparável, e que não podia ser maior nem mais dolorosa.

– Sem falar nos seus dotes de imaginação, que não eram extraordinários, Machado de Assis foi um dos escriptores mais puros da língua portuguesa no século XIX, e o seu nome será repetido ao par dos de Garret, Camillo e outros mestres ilustres.

– Favorecido por uma cultura literária formidável e pela faculdade do trabalho abundante e fácil, Machado de Assis deixa uma obra considerável, a maior, talvez, que ainda saiu da penna de um homem de letras brazileiro (…) nenhum trabalho, ainda o mais insignificante, lhe saiu das mãos que não tivesse o cunho do definitivo, do bem acabado.

Mais adiante o obituário de O Paiz transcreve um artigo que o escritor Arthur Barreiros escreveu sobre Machado de Assis, e que foi publicado em num dos jornais cariocas em 1885, bem ao estilo da época. Lá pras tantas disse o escritor fluminense, que não chegou a viver 30 anos:

“A sua vida literária, que se estende, como um golfo grego e azulado, de águas travessas e risonhas, das Crysálidas aos Papéis Avulsos, e forma um opulento fio de pérolas, raro será o homem de gosto que não a conheça no todo ou em parte.”

E sobre o romance “Memórias Póstumas de Braz Cubas”:

– É a sua obra prima, a mais trabalhada e a mais saborosa, a que definiu inteiro e vivo, philosopho adorável, de um scepticismo, nem brutal, nem deshumano – gota a gota adquirido como um veneno irresistível – indócil, religioso à sua maneira; e o vinco pessimista que desse volume para cá marca todas as suas páginas, poderia ser tomado como um arrebique mais, se elle não fosse um convencido”.

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