A saga do gelo e sal

O imenso bloco de gelo de 15 toneladas feito com água salgada coletada na Ponta do Morcego, e que iria amanhecer na Praça Padre João Maria na Cidade Alta, quebrou assim que saiu da ‘geladeira’. A intervenção urbana, obra efêmera do artista visual Nuno Ramos (SP) que encerraria a temporada 2014 do projeto ArtePraia, permanece no Porto de Natal derretendo ao sabor do sol e do vento longe dos olhares do público. A intenção do artista era propor uma reflexão sobre a falta de conexão entre bairros da cidade e seus moradores. Intitulado “pontadomorcego parapadrejoãomaria: uma carta”, o trabalho consumiu R$ 25 mil e meses de planejamento.

#SAIBAMAIS#“Fatores físico-químicos e mecânicos estão envolvidos nesse projeto, e a experiência serviu para instigar nova tentativa – agora com mais propriedade. O fato é que o resultado estético ficou bem acima das expectativas”, garantiu Ramos. Ele relatou que no momento que foram tirar o cubo do contêiner de congelamento, a pedra de gelo se partiu revelando que a água nas camadas internas ainda estava em estado líquido – dos 15 mil litros, estima-se que 4 mil litros não tinham congelado por completo.

Nuno disse que essa foi a primeira vez que não acompanhou todas as etapas da criação. “A intenção continua, agora é batalhar para reenviar essa ‘carta’ da Ponta do Morcego para o Padre João Maria. No Porto ela chegou”, brinca.

O produtor Edson Silva, da Casa da Ribeira, instituição promotora do projeto, constatou algumas falhas na execução. “Primeira lição: precisamos de mais tempo de congelamento. Também tivemos problema para tirar o cubo de gelo de dentro do contêiner, pois o molde cedeu, a água congelada expandiu e fez com que o bloco encostasse (e travasse) nas paredes laterais, então o segundo ajuste é quanto a resistência da estrutura. Outros detalhes serão revistos no tocante ao transporte”, explicou Silva.

Edson estima que, de acordo com técnicos envolvidos na empreitada, em condições normais (sem chuva) o ‘iceberg’ salgado duraria cerca de uma semana até derreter por completo. “O congelamento foi feito por etapas, em camadas. Teoricamente fizemos tudo certo, mobilizamos uma equipe profissional, agora é aprender com a prática e corrigir para conseguirmos êxito na próxima oportunidade”, acrescentou Edson, que também é arquiteto.

Artista reconhecido internacionalmente, Nuno Ramos foi convidado pela Casa da Ribeira para fechar o ciclo efêmero de obras de arte instaladas em locais públicos – em junho, primeira etapa do projeto, instalações performáticas e interativas ocuparam trechos da orla urbana em Ponta Negra, Redinha, Praias do Meio e do Forte.

O projeto ArtePraia 2014 contou com recursos do Governo Federal, através da Lei Rouanet, do Banco Itaú e Programa Itau Cultural. Apoio da Compal (guindaste e transporte) e da Real Reefer (contêiner de congelamento).