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A saga dos Lacerda

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Yuno Silva
repórter

De militante comunista a um dos maiores porta-vozes das ideologias conservadora e direitista no Brasil, o jornalista Carlos Lacerda (1914-1977) entrou para a história como um político controverso. Para entender até onde ele chegou e as ideias que defendeu, é preciso olhar para trás e conhecer a trajetória pública das três gerações da família Lacerda. E é o próprio quem narra no livro “A República das Abelhas” (Companhia das Letras). Escrito pelo neto dele, o historiador Rodrigo Lacerda, 45, o título remonta – a partir de fatos reais – um intervalo entre 1890 e 1950 da política nacional. “Na intimidade do seu túmulo ele (Carlos Lacerda) reconta sua história para si mesmo, captura um lado mais analítico, mais bem-humorado, e menos o lado furioso, público”, disse Rodrigo, que conversa com o público do Festival Literário da Pipa sobre sua obra e sua família.
Jornalista e político, Carlos Lacerda ressurge pelas mãos do próprio neto, o historiador Rodrigo Lacerda, no romance histórico A República das Abelhas
#saibamais#O autor carioca abre os debates na Tenda Literária dia 8 (sexta), às 19h, segunda noite do Flipipa, com o tema “A Saga dos Lacerda: Do final do império a Era Vargas”. Graduado em História pela USP, sua estreia na literatura com (o romance) “O Mistério do Leão Rampante” rendeu-lhe o Prêmio Jabuti de 1996.

Em entrevista exclusiva a TRIBUNA DO NORTE, Rodrigo Lacerda percebe seu livro, apesar de classificado como biografia pelo mercado, como um “romance histórico”: “Há uma série de aspectos exclusivamente literários presentes nele, que a crítica pode até não ter visto, pois a atração das histórias e do personagem abafam um pouco esse lado”. Ele acredita que “A República das Abelhas” deixa duas contribuições importantes: “primeiro enfatiza o quanto os antecessores familiares na política influenciaram a carreira e a visão de Brasil do meu avô, coisa que só alguém da família talvez pudesse fazer; e mostra como as alianças entre uma elite sindical e antigas oligarquias são construídas com o simples intuito de ocupar e distribuir o poder – algo que faz sentido mesmo hoje”.

Rodrigo, de alguma maneira sente o peso do seu sobrenome; traz cobranças, gera expectativas? Como lida com isso?
Já senti mais. Quando era criança, entendia menos e a memória daquele período político estava mais fresca. Hoje em dia não sinto tanto. Acho até que está havendo, em certos círculos, uma reavaliação do personagem, menos contaminada pelo ambiente de radicalização ideológica da época.

Seu avô Carlos Lacerda foi uma figura controversa no cenário político nacional. Qual a grande colaboração dele que você destacaria?
Acho que foi um político que não tinha medo de dar más notícias ao povo. Pode parecer pouco, mas acho um detalhe importante. Sua atuação tinha uma transparência muito grande. A idéia de que a popularidade de um político é um capital para ele queimar quando necessário, quando suas convicções sobre o que é melhor para o país o obrigam, mesmo que sejam impopulares, me parece uma grande contribuição. Não é o que praticam os políticos atuais, na sua maioria, e obviamente isso implica em falta de transparência.

E como era seu avô na intimidade familiar? Você teve bastante contato com ele?
Não tive muito. Ele morreu quando eu tinha 9 anos, e era um homem bastante ocupado, mesmo depois de cassado e fora da política. Na intimidade, embora o temperamento explosivo e até autoritário existisse, ele era muito mais tranquilo do que na política. Meu livro mostra o quanto seu estilo iracundo era, ao mesmo tempo: uma tradição política brasileira; uma tradição política familiar, pois era o estilo do pai, também chamado de “destruidor sistemático”; uma questão de temperamento, de prontidão natural para o enfrentamento; e uma estratégia política para “chacoalhar” a passividade do povo diante dos descaminhos políticos do país.

Em “A República das Abelhas”, você dá um passeio por três gerações dos Lacerda. Há planos para centrar foco em algum dos personagens ou mesmo desdobrar alguma passagem que mereça ser detalhada?
Não! Detalhei até demais. Sou o contrário das pessoas que, ao escreverem um livro sobre um assunto, julgam-se donas dele, e autoridades nele, e não querem mais sair dessa zona de conforto. Eu, quando  acabo um livro sobre um assunto, em geral estou farto dele, depois de anos de pesquisa e leituras específicas, e justamente aí é que não programo nenhum retorno, seja que assunto for.

Ao longo do processo de pesquisa topou com alguma informação que chamou atenção?
Muitas! Comecei o livro achando que teria de fazer um mergulho na mente da direita brasileira. Mas à medida que fui remontando os antecedentes políticos da família, esbarrei na figura do pai do Carlos Lacerda, Maurício, um socialista democrático até o fim, e na dos tios, dois secretários-gerais do Partido Comunista, que me obrigaram a estudar muito mais a história da esquerda no Brasil do que a da direta. Então a família virou um micro-cosmo das opções políticas que se ofereceram ao país ao longo daquele período.

E essa polêmica em torno das biografias não autorizadas, qual sua opinião sobre o assunto?
Claro que sou a favor da total liberdade. Se alguém se sentir ofendido, ou caluniado, que processe. Mas censura prévia não dá. Nesse aspecto, creio que a liberdade de expressão fala mais alto do que o direito de privacidade. Embora sejam ambos direitos muito importantes.

Algum novo projeto em vista?
Sim, tenho um livro de contos e um romance em andamento. Mais de imediato tenho um guia de leitura para jovens do “Hamlet”, de Shakespeare. Era para ser uma adaptação, mas não queria simplesmente recontar a história com as minhas palavras. queria que os jovens tivessem contato com o texto e sentissem ele funcionando.
Romance remonta a trajetória de três gerações da família

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