Valério Andrade – crítico de Televisão
Conhecida como “viúva negra”, a sua picada é mortal, e, terminada a fecundação, ela devora o macho. A versão humana – vista com frequência no cinema noir – também provoca mortes e leva homens à perdição. A margem da figura da fêmea fatal, perpetuada em “O Anjo Azul”, existe um tipo de mulher- aranha que na maneira de agir foge a corporificação das heroínas do mal imortalizadas por atrizes como Marlene Dietrich e Bette Davis.
São, porém, tão perigosas e impiedosas como a “viúva negra”. Nelas, o mal acha-se acobertado pelo rosto angelical, como o de Jean Simmons no filme (“Alma em Pânico”) de Otto Preminger. Se Adriana Esteves virou uma Bette Davis em Avenida Brasil, Vanessa Giácomo, fisicamente, assemelha-se a Jean Simmons, e, na história, a sua Aline também aparenta ser o que não é.
Na galeria feminina de Amor à Vida, Aline é mais (perigosamente) sedutora e enigmática do que Paloma (Paolla Oliveira). Enquanto Paloma é previsível na sua pendular relação amorosa, entre Bruno e Ninho, o jogo amoroso de Aline é mais envolvente e desperta maior curiosidade. Enquanto Paloma é óbvia, Aline é sutil.
É ainda no filme noir americano, fora do grupo humano decadente do expressionismo alemão, que vemos a jaula do amor abrir as portas para os velhos. E na jaula, cego de paixão, seduzido pela juventude, como aconteceu com Edward G.Robison em “Almas Perversas”, esse personagem – tomado emprestado à vida real – não percebe que lá na jaula, quem é a fera é a bela. Se manteve-se fiel ao perfil físico da heroína, Walcyr Carrasco, em contrapartida, alterou o físico masculino, substituído o homem feioso por alguém bonitão e charmoso como Antônio Fagundes.
É justamente por César ser vivido por Antônio Fagundes, em vez de ser um sósia de Edward G. Robinson, e que poderia, que seria convincente a secretaria estar apaixonada pelo patrão.Se fosse verdade, tudo se resumiria naquele tradicional triângulo amoroso e, mais cedo ou mais tarde, Aline seria demitida e substituída por outra secretária, possivelmente, não tão jovem e bonita. Entretanto, como Aline é uma “viúva negra”, foi César quem virou prisioneiro da sua teia de aranha do amor.,
Fisicamente perfeita para o papel – e sem essa moldura visual Aline não seria plenamente convincente – Vanessa Jacome, provavelmente, está tendo a melhor interpretação de sua carreira. Dissimulada nas intenções, delicada no convívio social, exibindo, sem afetação, beleza, charme e sensualidade, Aline, a personagem e Vanessa Giácomo, a atriz, estão ajudando mais Amor à Vida do que Paloma e Paolla Oliveira.