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A volta da Catita

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Yuno Silva
Repórter

Final feliz para Catita nº 3, uma das primeiras locomotivas a vapor a cruzar o solo potiguar e a única que sobrou para contar a história das estradas de ferro que rasgaram o Estado na virada do século 19 para o 20. Encostada há 39 anos no Museu do Trem em Recife, sem receber os devidos cuidados, a máquina irá retornar ao Rio Grande do Norte após uma peleja encampada há onze anos pelo Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural e da Cidadania (IAPHACC). A decisão foi tomada no último dia 11 de setembro, quando o juiz federal Janílson Bezerra de Siqueira determinou a devolução da locomotiva para uma aposentadoria digna – ela será restaurada para figurar como atração principal do Museu Ferroviário, nas Rocas, cuja inauguração está prevista para maio de 2015.
Praticamente abandonada em Recife, a Catita nº 3 chegou ao RN em 1906, vinda da Inglaterra. Em 1916 fez a travessia inaugural na antiga ponte de ferro sobre o rio Potengi
O nome do museu, Manoel Tomé de Souza, é uma justa homenagem ao mecânico que salvou a pequena locomotiva de virar sucata no final da década de 1950, quando a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) resolveu substituir todas as locomotivas a vapor por máquinas a diesel.

Fabricada na Inglaterra em 1902, a Catita nº 3 chegou ao RN em 1906. Em 1916 fez a travessia inaugural na antiga ponte de ferro sobre o rio Potengi, puxando a velocidade média de 15km/h a composição que conduzia figuras importantes do cenário local como o então governador Joaquim Ferreira Chaves, Januário Cicco, Henrique Castriciano e Juvenal Lamartine. Ainda participou da inauguração da ponte de Igapó, em 1970, antes de se aposentar definitivamente em 1975, quando seguiu para Pernambuco. “A central regional da RFFSA era no Recife, e quando viram a Catita funcionando ficaram loucos com aquela preciosidade e mandaram buscar”, disse Ricardo da Silva Tersuliano, presidente do IAPHACC.

A locomotiva ficará sob a guarda da entidade civil em parceria com o IFRN-Cidade Alta, que está à frente da reforma da antiga oficina de trens nas Rocas, a rotunda, que irá abrigar o Museu Ferroviário.

Recepção festiva
O retorno da Catita nº 3 está marcado para o próximo dia 11 de outubro, e uma grande festa está sendo preparada para recepcionar a locomotiva. “A carreta que fará o transporte sai do Recife pela manhã, e calculo que lá pelas 14h estará chegando em Parnamirim. Vamos nos concentrar ali na Rainha do Pastel, às margens da BR-101, de onde sairemos em carreata pela cidade até as Rocas”, adiantou Ricardo Tersuliano.

O presidente do IAPHACC comemorou a decisão da Justiça em devolver aquele que ele considera “o mais importante resgate da história ferroviária” do RN. De acordo com a sentença, “a locomotiva reclamada encontra-se, há muito, abandonada à própria sorte, à mercê de toda sorte de intempéries, sem, portanto, qualquer garantia de preservação do seu valor histórico e cultural”.

Tersuliano informou que a chegada da Catita nº 3 será saudada pelo Clube de Carros Antigos de Natal, pelo Jipe Clube do RN, Federação dos Motociclistas do RN, ferroviários e “quem mais quiser participar” da carreata que irá seguir pela BR-101, avenidas Salgado Filho, Hermes da Fonseca, Prudente de Morais, Alexandrino de Alencar, Coronel Estevam (Av. 9), Rio Branco e Duque de Caxias, até alcançar a Esplanada Silva Jardim e terminar na Travessa das Donzelas, nas Rocas.

Bate papo – Ricardo Tersuliano
Pesquisador

Como a Catita nº 3 escapou de ir para o ferro velho?
Em 1957, quando a RFFSA mandou dar baixa nas locomotivas a vapor, as 26 máquinas que circulavam no RN foram vendidas em leilão para sucata. Depois de ver 25 locomotivas serem desmontadas, o chefe da oficina aqui em Natal, Manoel Tomé de Souza, pediu para deixarem a Catita de lembrança para mostrar às futuras gerações. Para compensar, Manoel ofereceu 12 toneladas de sucata da própria oficina de trens – um ótimo negócio para todo mundo, pois a empresa que comprou as locomotivas iria ganhar 2 toneladas a mais que o lote arrematado e não teria trabalho para desmontar a Catita.

Essa foi a época da primeira restauração?
Exatamente. Manuzinho (o mecânico-ferroviário-de-visão) restaurou a Catita 3 e ficou utilizando a pequena locomotiva para manobras de vagões dentro da oficina. Em 1970 a máquina passou por nova restauração para participar da inauguração da ponte de Igapó, quando a turma da RFFSA de PE viu e mandou buscar. Foi o próprio Manoel, todo triste, quem embarcou a locomotiva rumo ao Recife.

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