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Agravamento do quadro preocupa

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As autoridades de saúde pública devem tirar de uma reunião prevista para a manhã  desta segunda-feira, dia 30, uma série de recomendações para evitar que a pandemia de gripe “A” se alastre, ainda mais, depois dos quatro dias de Carnatal, na primeira semana de dezembro.

Procura de pacientes com suspeitas de Gripe A coloca no limite a capacidade de atendimento da rede hospitalarO secretário estadual de Saúde Pública convocou essa reunião ontem à tarde, quando participava de outra discussão, na sede do Samu Metropolitano, em Dix-Sept Rosado, para a qual foi chamado sem saber do que se tratava: “Era uma coisa que nem sei o que era”.

Desencontros à parte na reunião que foi convocada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), as autoridades sanitárias que participaram da reunião do Samu, demonstraram preocupação com a possibilidade de propagação do vírus H1N1 no período do Carnatal, entre os dias 3 e 6 da próxima semana.

A promotora de Defesa da Saúde, Iara Pinheiro, disse que o Ministério Público não tinha formação técnica para opinar sobre a realização ou não do Carnatal, mas informou que só vai tirar um posicionamento depois que tiver em mãos algum documento técnico sobre o risco que a circulação do vírus da Influenza “A” doença pode trazer num evento que contará com milhares de pessoas: “Vamos ouvir o que as autoridades sanitárias têm a dizer, compadeço e me preocupo, mas o folião deve avaliar o risco, uma responsabilidade exclusiva dele”.

Iara Pinheiro ouviu dos técnicos que o Ministério da Saúde não recomenda o cancelamento de eventos, mas ela  também se preocupa com o fato de que não existe uma rede leitos suficientes em Natal e no Estado “para dar suporte ao número tão altos de doentes”, na hipótese de haver um grande número de pessoas infectadas com vírus da chamada gripe suína.

O infectologista André Prudente trabalha no Hospital Gizelda Trigueiro, unidade de referência no tratamento de doenças infectocontagiosas em Natal, e diz que lá não existe leitos de UTI suficientes para atender uma demanda de pacientes infectados pela gripa “A”: “Nós temos quatro  leitos de UTI para casos não graves, para casos graves, nenhum”.

Tanto é, segundo Prudente, que dois pacientes que hoje estão em estado grave,  foram transportados para dois particulares da cidade: Hospital do Coração e Natal Hospital Center.

Prudente também fala da insuficiência de respiradores mecânicos para serem usados por pacientes com deficiências respiratórias. No HGT existem oito para a UTI e um para o serviço de pronto-socorro.

Se houver explosão do vírus H1N1 durante o Carnatal, Prudente disse que “não sabia qualificar e nem mensurar as consequências” disso para a população: “Vai morrer gente”.

A infectologista Rosângela Morais também disse não ter conhecimento de que na rede hospitalar privada tenha ventiladores mecânicos suficientes para atender uma grande demanda de doentes de gripo “A”. Ela informou que no Hospital Walfredo Gurgel existem 52 desses aparelhos, e explicou, também, que na forma grave da doença, o uso da máquina é a única maneira que o paciente “precisa para ganhar tempo”, enquanto tenta se recuperar da infecção do H1N1.

HWG

Já a diretora do HWG, Hélida Bezerra garantiu que aquela unidade não tem suporte para atender uma demanda alta de pacientes: “Nós que trabalhamos com saúde estamos muito preocupados. Se houver 10 pacientes em estado grave após o evento, não teremos como atendê-los”. Ela ainda disse que  que o fechamento das duas unidades de terapia semi-intensiva pelo Cremern, na última semana, agrava a situação.

O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia no Rio Grande do Norte, Hênio Godeiro Lacerda, disse que nos 15 dias depois do Carnatal, aumenta bastante os casos de doenças respiratórias, o que pode se agravar com a gripe “A”.

Hoje, segundo Godeiro, “não se sabe para onde vai essa onda”, mas lembra que em Salvador (BA), já tramita uma ação pedindo a suspensão do de um carnaval fora de época em 2010, além do fato que no Rio de Janeiro decidiu-se pelo seu cancelamento.

Hospital registra casos de gripe A em crianças

Segundo o levantamento mais recente da Secretaria de Saúde Pública no Estado (Sesap), o Rio Grande do Norte tem 74 casos confirmados de gripe H1N1. Destes, nove são de óbito em decorrência da doença. O número de casos de gripe A (H1N1) confirmados só no Hospital Promater chamam a atenção para a situação da doença no Estado.

A Promater já atendeu sete crianças e um adulto que foram confirmados com a doença,  sem contar as notificações que ainda aguardam o resultado do exame, realizado em Belém (PA). O último lote de laudos recebido pelo Laboratório Central (Lacen) trouxe casos notificados ainda de setembro e outubro passado.

Vale ressaltar que em julho, quando foi confirmado o primeiro caso da doença no RN, a média de notificações  da doença à Sesap era de uma por dia. Hoje são cinco, em média. No caso da Promater, a unidade já trabalha no limite de internações infantis e, por causa disso, às vezes, a espera por uma vaga no leito chega a 24 horas.

Ontem, havia duas crianças na internadas a unidade com suspeita da Gripe A, mas em decorrência de pneumonia, uma vez que os casos que não são graves são tratados em casa. Em uma das salas de observação infantil, três pacientes aguardavam uma vaga para se internar. Duas delas já tomavam o Tamiflu, tratamento indicado para a doença. Há ainda uma recepcionista da Promater que teria sido internada no Hospital Walfredo Gurgel com suspeita da Gripe H1N1.

“A situação é difícil de controlar porque na recepção de um hospital circula gente de todos os lugares. É preciso que todos tenham a consciência de se prevenir”, alerta a enfermeira Cecília Paiva, membro da Comissão de Controle de Infecções Hospitalares da Promater. Ela lembra que uma vez que as crianças, gestantes e idosos são o grupo de risco da doença, o cuidado deve ser redobrado.

“Além de urgência e internação pediátrica, funciona uma maternidade aqui”, destaca. O policial Félix Lima aguardava ontem da manhã  a internação da esposa, que ia dar à luz o primeiro filho do casal. Para se prevenir, ele pediu que ela usasse uma máscara cirúrgica enquanto estava na recepção do hospital. Uma paciente de 21 anos que estuda Direito em uma instituição privada onde recentemente houve suspeitas da doença, esteve ontem na Promater.

A mãe da garota, que não quis se identificar, estava indignada pela continuidade das aulas. “Graças a Deus a suspeita de minha filha foi descartada, ela tem pneumonia. Mas acredito que os outros três alunos suspeitos estão sim, com a doença”, disse. Para dar conta dos pacientes com suspeita da doença, a Promater designou um fluxo de triagem para os casos suspeitos, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde.

“Os pacientes que chegam com queixa respiratória já recebem máscara e os mais graves têm prioridade”, diz. “Mas como não há um espaço isolado específico, no período da manhã usamos as salas de pequenas cirurgias para isolar a espera desses pacientes”, explica  Cecília. Porém, a alta demanda de pacientes infantis, segundo ela, demonstra a necessidade de mais leitos pediátricos no Estado.

“O pronto-socorro infantil está sempre cheio, principalmente à tarde”. Dois pediatras trabalham por turno no PS da Promater.

“O ideal é que não  haja Carnatal”

Frente à realidade crescente de pacientes com casos de gripe A na Promater, a direção de um dos maiores hospitais particulares da cidade está convicta da opinião de que o Carnatal não deveria se realizar.

“A festa vai ajudar a disseminar ainda mais a doença. Seja pelo aperto de mão, espirro, beijo ou copos compartilhados”,  alerta a enfermeira Cecília Paiva, membro da Comissão de Controle de Infecções Hospitalares da Promater.  “A direção do Hospital pediu uma posição da Sesap sobre o assunto”.

Segundo ela, a preocupação maior diz respeito ao período posterior à festa. “Vai ter gente lá que não sabe ainda que está doente por estar no período de incubação do vírus, e outras que poderão ser contaminadas durante o evento, levando o vírus para casa. O aglomerado de pessoas facilita”, comenta.

A enfermeira acredita ainda que uma vez que o evento recebe pessoas de todo o Estado e país, há grandes chances do vírus se espalhar no interior do RN. “A gripe H1N1 poderá ser levada para locais onde ainda não há casos confirmados”, completa.

Nenhum outro evento a céu aberto chegou a ser suspenso em virtude da presença da doença na capital. A assessoria de imprensa da Destaque Promoções, empresa que promove a festa, explicou que em nenhum momento houve o pensamento de suspender o evento.

“Não há nenhum motivo que justifique suspender o Carnatal ou qualquer outro evento no país. O Ministério da Saúde não recomendou nenhuma medida de isolamento e dados do próprio órgão mostram que a situação não demonstra essa necessidade”, disse.

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