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Agricultura irrigada

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Tomislav R. Femenick
Mestre em economia e historiador.

Captar, controlar e distribuir a água com o uso de canais cavados na terra, calhas feitas de bambu ou de barro cozido, túneis, comportas de pedra, aquedutos e noras (rodas de giro vertical à qual eram presos vasos que levam a água do nível inferior ao superior), ou seja, irrigar as terras agrícolas é costume que remonta às primeiras civilizações que se tem notícia. Foi hábito na Mesopotâmia, no Egito, na China, no sudeste asiático, dos povos mediterrâneos, da meso-América, da África subsaariana e dos Andes sul americanos, entre outros. Esse sistema garantiu a sobrevivência de nações que deixaram marcas na história da humanidade. Pode-se dizer que a irrigação das lavouras foi uma dos primeiros atos econômicos da humanidade. No entanto sempre foi se não desconhecida, porém pouco praticada no nordeste brasileiro, até a primeira metade do século passado.

O historiador Raimundo Nonato tinha verdadeiro respeito pelo espírito empreendedor de José Rodrigues de Lima; industrial, comerciante, agricultor, pecuarista, salineiro, um dos fundadores do Banco de Mossoró e da Cooperativa dos Salineiros Norte Rio-grandense, dono de empresa de navegação, construtor e proprietário de imóveis. O que o professor Raimundo Nonato admirava era a capacidade que o meu avó tinha para descobrir o valor potencial de certas atividades produtivas.

No final dos anos 1930, José Rodrigues comprou cataventos novos para a sua salina e ficou com quatro sucatas sem valor de venda. Então procurou uso para os cataventos velhos. Levou os equipamentos uma das suas fazendas, localizada nas Barrocas, depois da Barragem de Baixo. Ali fez uma das suas experiências, uma das primeiras de cultura irrigada do vale do Rio Mossoró: instalando-os em série contínua e, levando a água para a região mais alta do terreno, conseguiu irrigar suas plantações de banana, mamão, laranja, cenoura, abacaxi, girassol etc., usando a queda natural que acompanhava a descida de nível. Usar catavento na agricultura não era novidade. Novo era o método. Essa sua experiência foi repassada para diversas outras pessoas, inclusive ao ex-governador Dix-sept Rosado, que a usou em seu sitio.

Outro grande inovador no processo de irrigação da agricultura no oeste foi o bispo Dom Eliseu Simões Mendes, o terceiro ocupante da diocese de Mossoró. No começo dos anos 1950, através do seu trabalho social junto às populações rurais dos vales dos rios Mossoró e Assú, Dom Eliseu – com ajuda do governo federal – implantou um programa de irrigação com o uso de motobombas movidas a motor diesel, visando produzir alimento para sustento dos pequenos agricultores, bem como excedentes para venda no mercado. Muito embora o sistema de captação de água tenha substituído os cataventos pelas motobomba, o principio de distribuição da água continuou o mesmo utilizado por José Rodrigues. Aliás, presenciei varias reuniões entre eles e o Padre Mota; este último vigário geral da Diocese, ex-prefeito e cunhado do meu avô.

Outro grande avanço da irrigação do semiárido potiguar deu-se no período de expansão da empresa Maisa, quando esta abandonou sua ideia inicial de cultivo de algaroba e passou a plantar frutas. Vários aspectos diferenciaram esse projeto dos anteriores. Entre eles a sua localização, na chapada do Apodi, longe de curso de água normal e, por isso, dependente de poços artesianos, bem como o sistema de distribuição de água com uso de pivôs rotativos.

Os pioneiros estavam no caminho certo. Segundo dados do IBGE, até agosto deste ano 59,75% da produção agrícola do Rio Grande do Norte veio da região oeste. O resto do Estado (incluindo o agreste e o leste potiguar) ficou somente com 40,25%.

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