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Alceu, nos quatro cantos do Brasil

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Yuno Silva
Repórter

“Sem falsa modéstia, costumo dizer que faço o show mais completo do Carnaval pernambucano”, garante o quase setentão Alceu Valença. Atração principal do pólo Ponta Negra nesta sexta-feira (5), Alceu traz para o Carnaval Multicultural de Natal show temático inspirado em seu filme “A Luneta do Tempo”. Autor de clássicos que fazem a alegria de foliões nos quatro cantos do Brasil como “Bicho Maluco Beleza” e a indefectível “Tropicana”, ele divide a noitada com o também pernambucano Romero Ferro, único artista não potiguar selecionado na chamada pública da Prefeitura que escalou outras 19 atrações locais para o período. A música começa a ecoar por lá a partir das 21h, e o acesso é gratuito.
Artista cujo nome está ligado à cultura carnavalesca, Alceu Valença fala ao VIVER sobre carnavais de rua e o filme que dirigiu
Mas se sua praia é a Redinha, a festa está garantida sob o comando de Andiara Freitas (21h) e do grupo As Nordestinas (23h); enquanto no pólo Centro Histórico Carlinhos Bem apresenta o show “Foliando às 18h.

Intérprete oficial de hinos atemporais como “Diabo Louro”, “Voltei Recife” e “Me segura se não eu caio”, Alceu Valença chega ao Carnaval 2016 em clima de circo, poesia, cangaço e cinema. O mote deste ano é “A Luneta do Tempo”, filme escrito e dirigido por ele e que traz participação da potiguar Khrystal em sua primeira experiência como atriz. O longa, exibido em 2014 na Mostra de Cinema de Gostoso, entra em cartaz dia 24 de março após cumprir agenda de festivais.
Como não poderia deixar de ser, a folia valenciana reúne gêneros que consolidaram a força e a identidade tipo exportação do Carnaval pernambucano. Ou seja, estão garantidos muito frevo-de-bloco, frevo-de-rua, frevo-canção, caboclinhos, maracatus e cirandas.

“Preparei um show completo, apoteótico, irresistível para vocês aí em Natal, acompanhado por minha banda e por um naipe de metais da pesada”, adiantou Valença durante entrevista exclusiva ao VIVER. No repertório, além das clássicas, também estão “Beijando a Flora”, “Bom Demais” e “Maracatu”, um módulo de cirandas, mais sucessos como “Anunciação”, “Como Dois Animais” e “Belle Du Jour”. “Em meus shows de Carnaval canto somente frevos, maracatus, cirandas e caboclinhos que são os estilos que deram identidade à festa e tornaram o carnaval de Pernambuco um dos mais importantes, apoteóticos e populares do País”, explica.

Homenageado no carnaval de Olinda deste ano, Alceu informou que trará para o RN a mesma atmosfera que costuma imprimir nas performances que faz em solo pernambucano. Alceu desembarca na capital do RN acompanhado de Paulo Rafael (guitarra), Tovinho (teclados), Nando Barreto (baixo), Cássio Cunha (bateria) e Jean Dumas (percussão), além do naipe de metais. “Estive há dois anos no Carnaval de Natal e fiquei arrepiado com o calor do público. Alô Natal, estou chegando com tudo!”. Confira entrevista abaixo:

Alceu,  2016 está bem agitado: homenagem em Olinda, segundo ano do bloco Bicho Maluco Beleza em São Paulo, estreia do filme “A Luneta do Tempo” no circuito comercial. No meio dessa correria toda dá tempo para curtir o Carnaval como folião?
Minha curtição é em cima no palco. De vez em quando, se a agenda permite, consigo dar uma olhada no Carnaval de Olinda. Certa vez saí pelas ladeiras com uma máscara de macaco para passar despercebido pela multidão. Adoro observar o povo fantasiado, os papangus, os caboclos de lança, os pierrôs e colombinas, entre outras entidades famosas. Foi quando vi um sujeito magro, barbudo, usando uma tanga, com uma cruz cenográfica a seu lado, completamente bêbado, encostado à entrada de uma igreja. Me aproximei e ele arregalou os olhos e perguntou: ‘Quem é você?’ Eu disse: ‘sou o Alceu Valença’. Ele me encarou, trôpego, e, com a fala pastosa dos bêbados, estendeu-me a mão: ‘Muito prazer, eu sou Jesus Cristo’ [risos]. É essa irreverência que marca o Carnaval brasileiro e faz da nossa festa uma das mais originais e charmosas do mundo.

Impensável para você, então, ficar longe da festa?
Tenho a missão de espalhar arte, brasileira, pernambucana, e por isso mesmo planetária, onde quer que me apresente. Jamais poderei me afastar do carnaval ou do São João, as grandes festas populares, e é por isso que me sinto como um espelho do meu povo. Eu me reconheço nele e ele se reconhece em mim.

Assim como Elza Soares canta em “A Mulher do Fim do Mundo”, você vai cantar até o fim?
Já combinei com Deus que vou viver até os 140 anos, sempre em cima de um palco [risos]. É o lugar onde me realizo, me comunico, afasto minhas neuroses, onde me sinto pleno. E o Carnaval vai existir sempre, até depois do fim do mundo.

Este ano você faz 70 anos (em julho), qual o segredo para manter o espírito jovem. Está tudo na cabeça? Como você trabalha isso?
Até me assusto quando mencionam isso. Sinto-me como um garoto de 18 anos. Sou eternamente o menino de São Bento do Una, que se encantava com os blocos de frevo que passavam pela Rua dos Palmares quando me mudei, ainda criança, para o Recife. E claro que a música, a energia do palco, contribuem demais para este estado de espírito. E também a prática de exercícios diários, de adotar uma alimentação alcalina dentre outros hábitos saudáveis. No mais, a juventude é como um passo de frevo: entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé.

Se fosse escolher uma única música para representar seu repertório de Carnaval, qual seria?
Difícil escolher, mas posso citar “Voltei Recife”, um clássico de Luiz Bandeira que redescobri nos anos 1980 quando o projeto Asas da América, criado por Carlos Fernando, revitalizou o frevo para as gerações contemporâneas. Tem também o “Hino do Elefante” (ou “Olinda quero cantar…”), de Clídio Nigro, que não pode faltar.

Tirando Recife e Olinda (e Natal, que seria suspeito demais), qual outro lugar tem um Carnaval que você gosta?
O Carnaval de rua vem ganhando fôlego em todo o Brasil. Isso é ótimo, é uma festa essencialmente popular feita para todo tipo de gente. Incluo nessa lista São Paulo, onde o crescimento do Carnaval de rua tem sido vertiginoso – a exemplo de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro. Tem também o de João Pessoa, que costumo participar, uma festa sempre muito bonita. Tem também as cidades do interior em diversos estados. Em Pernambuco, posso citar Bezerros e Paulista e outras em que canto regularmente, como São Lourenço da Mata, Carpina, Pau D´Alho, Timbaúba, Catende, e por aí vai.

Seu filme “A Luneta do Tempo” chega ao circuito comercial agora em março. Como estão as expectativas?
Rapaz levei dez anos escrevendo o roteiro, três para rodar, e mais algum tempo esperando o filme entrar em circuito. “A Luneta” será exibida nas principais capitais do país e em diversas cidades do interior. O trailer já está circulando na minha página do Facebook (facebook.com/alceuvalencaoficial).

Serviço
Carnaval Multicultural de Natal 2016.
As atrações desta sexta (5) no Pólo Ponta Negra (a partir das 21h) são os pernambucanos Alceu Valença e Romero Ferro; na Redinha (também às 21h), Andiara Freitas e As Nordestinas; e no Centro Histórico show com Carlinhos Bem às 18h. O acesso é gratuito.

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