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Alecrim: como e onde tudo começou

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LARGO DO RELÓGIO - Tudo foi criado para sinalizar os bondes, segundo empresário

Delvira Gondim – Repórter

Um descampado constituído por roçados e algumas casinhas de taipa. O ano era de 1856 e as raríssimas pessoas que habitavam no lugar vieram prestigiar o Presidente da Província, Antônio Bernardo de Passos, inaugurando o Cemitério Público que ora se tornava um dos marcos da ocupação das terras que deram origem a um dos bairros mais populosos de Natal: o Alecrim.

Oficializado como bairro pela lei nº 251 de 30 de setembro de 1947, o Alecrim teve suas primeiras filas de casas erguidas na Praça Pedro II, onde, dizem os mais idosos, morava uma velhinha que costumava enfeitar com ramos de alecrim os caixões dos “anjinhos” enterrados no cemitério e por isso o bairro recebeu tal nome. Outros também contam que a origem do topônimo se deve ao fato de na época existir uma enorme quantidade de alecrim-do-campo no local. Mas a criação de fato do bairro do Alecrim ocorreu no dia 23 de outubro de 1911.

Em 1929, durante a administração do Prefeito Omar O’Grady, a expansão urbana da cidade começou a ser traçada no Alecrim. O arquiteto Giacomo Palumbo foi o responsável pela delineação do bairro e, por influência da cultura americana, planejou as avenidas e ruas largas registradas com números. A numeração das avenidas de 1 até 12 foi associada a nomes de personagens históricos, intercalados com nomes de tribos.

Chega o ano de 1941. Em meio ao clima da II Guerra Mundial, é instalada a Base Naval e o bairro passou por uma aceleração no seu processo de urbanização. Várias pessoas vindas do sertão e de outras regiões migraram para o Alecrim visando negócios na capital. É registrado um aumento significante na população.

Com o crescimento populacional em andamento, a cultura do bairro começa a ganhar um setor de lazer. Foram inaugurados cinemas (São Luís, São Pedro, São Sebastião, Paroquial e Olde), dois teatros (Sandoval Wanderley e Jesiel Figueiredo), o Alecrim Clube e  o bar Quitandinha, na Praça Gentil Ferreira, que era um dos principais pontos de encontro de boêmios durante a II Guerra Mundial.

De bairro pouco habitado, o Alecrim logo ganhou um fluxo crescente de pessoas e comércio. Aos poucos o aspecto quase bucólico do lugar transformou-se numa aglutinação de feirantes comerciantes, marcada na década de 20 com a inauguração de uma das mais tradicionais feiras da cidade até os dias de hoje e na década de 80 com a construção do camelódromo, erguido num trecho da rua Presidente Bandeira.

Fortalecimento do comércio

Logo após a II Guerra Mundial, tem início a presença marcante do comércio e do crescimento do bairro do Alecrim.

O empresário e presidente da Associação de Empresários do bairro do Alecrim, Francisco Denerval de Sá, lembra que chegou a morar no local na época e pôde acompanhar as mudanças no comércio do Alecrim. De início trabalhava na loja do pai, onde hoje é dono (Casa Sarmento) e observou que até os anos 60 o entorno do Mercado Público do Alecrim foi o responsável por proporcionar o grande fluxo de pessoas na época. “As primeiras pensões eram aqui. A Pensão Caiana, na Gentil Ferreira, por exemplo, recebia o pessoal que vinha do interior para fazer comércio no Mercado. Eram caminhões de frutas, verduras, animais e paravam lá para descarregar no Mercado”, conta Denerval.

O Mercado Público foi transferido nos anos 70 para a Avenida Quatro, esquina com a Avenida Seis e hoje é o conhecido “Mercado da Seis”. Vários edifícios comerciais começaram a ser erguidos na época. Leonel Leite foi um grande incentivador do comércio e veio da Ribeira para o Alecrim e construiu o primeiro edifício comercial, o “Edifício Leite”; Manuel Leopoldo, outro empresário, construiu o “Edifício Leopoldo” e assim, vários outros pontos comerciais históricos foram surgindo como o Armazén Elias Lamas, Casa Azul, Farmácia Dutra, entre outros.Denerval conta também que o Largo do Relógio foi criado para sinalizar os bondes.

Cordelista conta história da feira

“Amigo vou lhe dizer, ouvinte vou te contar. Se arrume pois sábado vamos juntos passear, e na feira do Alecrim maravilhas vou te mostrar”. Com esses versos o poeta cordelista Elinaldo Gomes de Medeiros, o “Boquinha de Mel”, inicia a história da feira do Alecrim contada em um dos seus cordéis intitulado “A feira do Alecrim homenageia seus heróis”.

Segundo o poeta, o paraibano José Francisco dos Santos possuía uma mercearia e na ocasião conheceu o vendedor da região, João Ferreira e os amigos Balbino Marques e João Estevam de Andrade que fundaram a feira no dia 18 de julho de 1920. A idéia era que a feira do Alecrim funcionasse no domingo, mas o governo não aceitou e o dia escolhido foi o sábado. Na época, não se pagava imposto na feira, mas depois de 1930 a Prefeitura começou as cobranças.

Luís da Câmara Cascudo apresentou José Francisco como o idealizador da feira no dia 23 de março de 1957 e no ano seguinte, no dia 12 de junho a Câmara aprovou a lei nº 823-E para o funcionamento da feira e uma placa de bronze foi fixada na rua Nove, nº 1297, mas logo em seguida foi roubada e derretida num ato que os moradores da época chamaram de vandalismo contra o progresso da feira.

Hoje a tradicional feira do Alecrim possui 515 metros de cobertura (tendas), banheiros, lixeiras e placas de identificação de produtos que estão separados por tipo.

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