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Alice no país do pode ser

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Nivaldete Ferreira ([email protected])

Alguém sonhou que, numa cidade avassalada por assaltos e assassinatos perpetrados, em grande parte, por garotos socialmente excluídos, havia um grande galpão semelhante àquele construído no cruzamento da avenida Jaguarari com a Capitão-Mor Gouveia (Natal), destinado à comercialização de produtos oriundos de agricultura familiar e que se depreda ano a ano por falta de ocupação. No sonho, o prédio havia se tornado no Galpão de Fazeres para a Juventude… E havia lá professores de tudo para centenas de jovens e meninos sem teto, sem açúcar e sem afeto, ocupados em atividades as mais diversas: aprendizado escolar, esporte, luthieria, artes e outros. Havia assistentes sociais, profissionais da psicologia e da filosofia para conversar com os mais encapetados, revoltados ou descrentes de si; com os afetados por dramas familiares e principalmente com os que tendiam a rejeitar aquele ambiente por efeito da sedução que a adrenalina do crime neles havia causado. Havia comida, roupa, produtos de higiene pessoal que o comércio fazia questão de doar (não importa se por razões óbvias); trabalho voluntário e de estagiários acadêmicos. Havia vigilância também, sim, porque os anjos estão no céu, mas não era uma vigilância ameaçadora nem maternoide, mas uma que observava discretamente o espaço e até participava de algumas atividades. Pouco tempo depois viu-se a transformação: aquele espaço ganhou a estima dos acolhidos, que passaram a falar em “desejo de ser”. E desejar ser já é uma forma de ser, ou pelo menos a véspera disso. Eles estavam se ocupando também de sonhar, e os administradores da cidade e do estado compreenderam o quanto é possível sanar e prevenir esses problemas e que tinham tudo à mão: locais, professores, colaboradores e ajuda da iniciativa privada e do governo federal. Viram também que as despesas com o Galpão eram muito pequenas, principalmente se comparadas aos ganhos de toda ordem. Enfim, soube-se depois: alguns jovens se dedicaram à informática, outros se tornaram músicos, outros seguiram o esporte, outros escolheram graduações as mais variadas. E os galpões se multiplicaram pelos bairros e outras cidades seguiram o exemplo.

Isso tudo se passou em Sonhópolis, mas não é uma utopia. Pode acontecer em nossa querida Natal que, como está, lembra mesmo um ambiente de guerra. O nome “Natal”, sabemos, quer dizer nascimento. Mas precisa urgentemente significar mais, ter o sentido de “Natalópolis”: lugar de nascimento, onde jovens praticantes de violência orientada -e seus futuros alunos- possam nascer para uma vida de bons fazeres, em que a experiência de criar seja afinal a melhor pedagogia. Pois assim como a experiência de destruir faz o desastre e pede mais, a experiência de criar pode fazer o milagre de querer a vida. Para si e para todos. Só é preciso que os governantes façam a sua parte. Isto é absolutamente viável e urgente.

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