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Alto falantes para Dosinho, D. Militana, Zambê…

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Dácio Galvão [ [email protected] ]

Um dia sonhamos e idealizamos um disco compacto. Realizamos. Mais uma possibilidade de massa sonora podia erguer em tempos globalizados a bandeira de certo localismo desfraldando estandartes em diálogos musicais. Identitários. Canibais. Explico: composições se reinventariam nas cores potiguares interagindo por entre recortes de interpretações além fronteiras. Outros territórios: maranhense pernambucano paraibano carioca.

Sob a batuta de João da Banda e direção musical de Gilberto Cabral escalamos um timaço. Os metais antropofágicos da Banda Sinfônica de Natal direcionavam sons e vozes de Zeca Baleiro, Dominguinhos, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Leo Gandelman ,Rodolfo Amaral, Hilkélia. Elegemos canções populares de K-Ximbinho, Dorgival Dantas, Elino Julião, Gilliard, Mirabô Dantas, Babau… Etnomúsicas calcadas na transmissão oral em “Suíte Zambê” e na “Suíte Militana”. Salve o mestre Geraldo de Zé Cosme das Cabeceiras e D. Militana de Oiteiros! Carnavalização geral nos arranjos sinfônicos. Da Banda do Siri do Bloco Baiacu na Vara e no hino das Kengas ‘Sou mais que uma mulher’.

Uma pegada só do começo ao fim do fim ao começo como se diz por aí. Perpassando o sacro na execução de “Nossa Senhora da Apresentação” perseguindo o profano no “Frevo do Alecrim”. Seqüestro do barroco. Boa tensão. Assim. Numa circularidade estética potiguar sem peias nem freios. Mais navegos. Mais apontes. Mais aportes. Pontes e contrapontos. Vias transversas. Travessias.

Repertório para acrescentar e não violentar o kitsch. “Aquela Nuvem” de Gilliard garoto que perambulou no bairro da Cidade da Esperança é relida reelaborada em tons rouquenhos por Baleiro reeditando ápice neo-romântico. Mergulhos no afro-iberismo escancarando de vez a falsa dicotomia entre o erudito e o popular.

Das melodias-partituras às sonoridades mnemônicas numa claríssima abertura para a tradição pulsar no chão do Maestro Neves e de Neemias Lopes. Ou no pavimento do quase martelo agalopado montado por Wagner Tiso repisando resultados de acordes de tempos atrás na Toada da Barra do Rio Grande. Pontos memoriais. A Banda Sinfônica Municipal emerge de tradições de bandas (marcial, filarmônica, de retreta) instaurada há séculos. Por latitudes do Sertão do Seridó, são indispensáveis em alvoradas, festas religiosas, datas celebrativas. Nesse CD de 2008 a Sinfônica transgride nas regências. Anima na diversidade de condução de invenção que é no mínimo provocativa. É ouvir e conferir. Ouçam e apertem o cinto.

Ou soltem o corpo e caiam na gandaia na frevança de Dosinho. Sim o nosso Dosinho nas popularíssimas “Doido também apanha” e “Vão me levando” em antológica interpretação do bruxo Alceu Valença. Homem da meia noite. Admitem os especialistas que o autor de “Vou danado pra Catende” faz parte e não é de hoje dos poucos grandes cantores do gênero no país. Gênero que é tombado como patrimônio imaterial da humanidade desde 2013. Arraso total. E Dosinho consagrado na terra de Capiba e Claudianor Germano é compositor de há muito imortalizado. Na voz do povo. Não no jabá midiático. Aliás é bom lembrar que Dominguinhos também gravou uma das mais entoadas músicas de Dosinho que é o Hino do ABC Futebol Clube no CD-brinde patrocinado pela Empresa de construções civis ltda. Marcha-frevo sanfonada como Sivuca gostava e compunha.

A diferença é que nesse arranjo se juntaram rebates dos sopros de metais pernambucanos e guitarras baianas dedilhadas por Aroldo Macedo. Assinamos a direção artística de produção dessas gravações. Conversas interlocuções abraços e generosas liberações. Vida. Na geografia onde a roda da economia criativa “freve” nosso Dosinho foi gravado ainda por Antonio Nóbrega no CD em que o multiartista comemorou os 100 anos do Frevo. Nesse compasso nesse diapasão ou no passo rítmico que Dosinho jogou com força criativa é que vamos reencontrá-lo sempre. Alegria, fanfarras, troças risos e expressões efusivas. O artista plástico Venâncio Pinheiro bem o caricaturou quando da ambientação do carnaval de Natal em 2007 espalhando na ambientação dos pólos multiculturais nas camisetas nos pórticos e adesivos traços inconfundíveis do riso da sua fisionomia. Dosinho é carnaval. Será sempre o mais querido!

E a Banda Sinfônica não deixou por menos fisgando essas duas definitivas composições num justo acerto repertorial. Celebremos privilegiadamente então a figura humana de Dosinho e as três das suas principais crias. Ouvidos atentos para ouvir. Corpo solto para balançar. Toda hora é hora.Vamos lá! 

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