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Anjo azul pede passagem

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Yuno Silva – repórter

A escultura chama atenção por suas dimensões: são 12 metros de altura e 28 toneladas de ferro e cimento. Obra do artista plástico Jordão, o anjo azul é facilmente notado por quem transita pela avenida Hermes da Fonseca e servia como ponto de referência para a galeria de arte que funcionou no local entre 2007 e 2010. Apesar de vistosa, e um tanto desproporcional para o local onde está instalada, a enorme escultura de concreto está com seus dias contados. Não, ela não será destruída. Seu destino é a praia de Caraúbas, município de Maxaranguape – distante cerca de 45 quilômetros da capital, sentido litoral norte do RN.

Escultura de 12 metros de altura e 28 toneladas, instalada na Hermes da Fonseca, deve ser levada para a praia de Caraúbas, litoral norte do RNO antigo proprietário do imóvel onde funcionou a Galeria Anjo Azul, Anchieta Miranda, comerciante e amante das artes, repassou a casa para o empresário Adroaldo Carneiro, com anjo e tudo, no segundo semestre de 2010, e desde então a obra de Jordão passou a ser um obstáculo nos planos de Adroaldo. Proprietário da empresa Adroaldo Tapetes, Carneiro pretende construir no local nova sede para a filial natalense.

De sua loja em Recife, ele lembra que chegou a oferecer, sem sucesso, a escultura à Prefeitura do Natal: “Tentei doar o anjo para a Prefeitura, mas não obtive resposta. Ficaram de verificar custo de remoção e transporte, chegaram a sugerir alguns lugares para colocar o anjo como na praça da árvore em Mirassol ou próximo à ponte Forte-Redinha”, disse. “Não cheguei a falar pessoalmente com a prefeita Micarla de Sousa, ficaram de marcar uma reunião com ela que não aconteceu. Talvez tenham achado caro os custos de remoção e transporte. Faltou interesse”, arrisca.

Segundo o empresário, os custos para remover, transportar e reinstalar o anjo azul gira em torno de R$ 20 a 30 mil. “A obra não tem nada a ver com nossa proposta. Estamos querendo construir no local um prédio moderno, e o arquiteto Felipe Bezerra já está elaborando o projeto”, informou. “Gostaria bastante que a escultura ficasse em Natal, em alguma praça, na entrada da cidade, até no canteiro em frente… em qualquer lugar interessante. Inclusive, adotaria a praça, manteria o lugar para onde o anjo fosse”, garantiu. “Ali, a escultura está impensada, não há espaço para as pessoas apreciarem direito. Do jeito que está parece um boi em pé em cima de um prato, ou melhor, um peru em um pires. Está desproporcional”, analisa.

Caraúbas

Diante do desinteresse do poder público municipal, Adroaldo acabou acertando a doação com uma amiga, a vitralista Analys Berti. Há vinte anos morando no RN, vinda de Curitiba (PR), a artista pretende levar o anjo para a praia de Caraúbas, em Maxaranguape, onde tem uma casa e mantém seu ateliê. “A escultura do anjo azul é, ao mesmo tempo, kitsch (termo usado para categorizar objetos de valor estético distorcidos e/ou exagerados) e interessante. Minha intenção é que a escultura se torne um ponto de referência turística em Caraúbas, uma atração”, contou Analys.

Ela chegou a pedir apoio para a prefeitura de Maxaranguape, mas, como não concordou com o local sugerido para instalação, as negociações ainda estão indefinidas: “Não quero que o anjo azul fique em qualquer lugar. Imagino uma praça – bem cuidada – onde as pessoas possam se encontrar para tirar fotos”, disse. “A intenção é incentivar o turismo da cidade. Já me prontifiquei em ceder parte de um terreno que tenho na entrada da cidade para construir uma praça… não quero colocar o anjo no meu quintal, mas quero que seja em um local coerente”, frisa.

Para a vitralista, amiga de Adroaldo há cerca de 18 anos, a retirada da escultura tem que coincidir com o início das obras da nova sede, ou seja, a remoção do anjo azul ainda pode esperar mais um pouco. “Jordão está ciente de tudo: irá acompanhar todo o trabalho de remoção, transporte e instalação. Sabemos que a escultura poderá sofrer danos nessa operação e que algumas partes podem ser removidas para facilitar o transporte”, finaliza.

O escultor

A obra de 12 metros e 28 toneladas, de acordo com informações de Jordão, custou R$ 188 mil e um ano para ser concluída. “Só de ferro tem mais de R$ 40 mil”, garante o artista. “Pelo que sei, a Prefeitura do Natal queria que Adroaldo ficasse responsável por todos os custos: remoção, transporte e instalação, por isso acabou não dando certo”, disse.

Jordão contou que chegou a procurar a Fundação José Augusto, que ficou interessada em ficar com o anjo: “Mas apresentei o projeto um pouco tarde, não tinha mais como voltar atrás. Pessoalmente não me agrada a ideia da obra ir para Caraúbas, mas já me comprometi e vou acompanhar tudo de perto – quero saber onde vão colocar minha escultura”, conclui.

O secretário de Comunicação da Prefeitura do Natal, Jean Valério, disse que lembra do assunto, mas desconhece se a doação da escultura chegou a ser oficialmente formalizada. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a assessora de imprensa da Secretaria de Serviços Urbanos (Semsur), Marina Lino, pasta procurada para doação da escultura: “Quando a Galeria Anjo Azul entrou em contato, houve interesse, fomos até o local fazer uma avaliação técnica. Identificamos dois problemas principais: primeiro, a escultura foi construída no próprio local, fato que dificulta a remoção e transporte; segundo, a estrutura do anjo azul é oca e isso torna a obra mais frágil. Teríamos que contratar equipe especializada e o artista para possíveis reparos. Diante disso, avaliamos ser dispendioso e arriscado o procedimento. Mas sim, houve interesse por parte da Prefeitura em ficar com o anjo azul”, garante Marina.

Nos resta aguardar e acompanhar o trabalho da equipe que será contratada por Jordão e Analys Berti para levar a escultura até Caraúbas.

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