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Arena das Dunas: indagações sem respostas

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Guia Dantas – repórter

O Complexo Esportivo Arena das Dunas, projeto desenvolvido  especialmente para Natal ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, pode ser considerado um paradoxo, no que diz respeito aos trabalhos já desenvolvidos. Cumprindo até agora todas as exigências impostas pela Fifa, como por exemplo, os licenciamentos que envolvem os projetos – algo que nem alguns dos representantes do Ministério Público acreditavam, face o prazo dissonante dos especificados em lei – o grupo que coordena o evento no Rio Grande do Norte ainda não cumpriu com exigências que são consideradas praxe e prioritárias por profissionais da área. Um exemplo disso é o registro do projeto junto ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio Grande do Norte (Crea), que os engenheiros dizem ser medida inicial a ser tomada em qualquer obra do porte. Além disso, criticou o deputado estadual José Adécio, perguntas sobre estrutura, viabilidade econômica e ambiental e, sobretudo, relacionadas à necessidade de demolição da área onde encontra-se o estádio Machadão, ainda não foram, até agora, respondidas.

Durante o Fórum de Discussão Técnica, promovido pelo Crea há dois meses, muitas indagações ficaram sem reposta, mas com a perspectiva de serem esclarecidas posteriormente, à medida em que o processo fosse se desenhando. “Não foi o que aconteceu”, enfatiza o parlamentar do DEM.

Depois da demolição do Machadão e outros equipamentos na área serão 16 mil metros cúbicos de entulhos de concreto
Os questionamentos, durante o Fórum, foram focados em questões relacionadas ao meio ambiente. Os técnicos questionaram sobre os cerca de 16 mil metros cúbicos de entulhos de concreto que serão encalhados na área após a demolição do Machadão. Segundo o engenheiro e deputado José Adécio, isso significa dizer que serão necessários 50 caçambões todos os dias, durante 64 dias ininterruptos, para levar todo o lixo do local.

Outro assunto abordado diz respeito ao efluente sanitário, que passará a ter a área, após concretizado o projeto. A previsão é que se tenha 120 mil pessoas no local, durante os eventos, o que resultará em 2 milhões e 400 mil litros a cada 12 horas. Alguns defendem a criação de um emissário marinho, outros uma lagoa de captação e outros sugerem como possibilidade o tratamento e lançamento da água no rio Potengi.

De acordo com o vereador Raniere Barbosa (PRB) existe a necessidade de ampliar as informações para toda a sociedade. “É preciso dar maior transparência. Muitas vezes as críticas surgem a partir da falta de informação. Considerado um dos principais gargalos do trânsito de Natal, a área onde será construído o complexo terá que comportar mais seis mil veículos transitando na localidade, já que esta é uma das recomendações da Fifa. Isso sem contar com o complexo todo, onde se imagina que seriam 18 mil vagas. Como comportar esse trânsito ali? Eu queria que o Governo Estadual ou Municipal explicasse isso”, concluiu o deputado José Adécio.

Complexo esportivo terá três fases

Os questionamentos levantados por técnicos e autoridades do governo estadual e municipal, durante o Fórum de Discussão Técnica da Copa 2014, promovido pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio Grande do Norte (Crea) foram respondidos pelo secretário de Turismo do Estado e coordenador-geral do Comitê Geral potiguar, Fernando Fernandes. Ele disse, na ocasião, que serão três as fases de concretização de todo o complexo esportivo, idealizado exclusivamente para o evento mundial.

De acordo com Fernandes, foi desenvolvido inicialmente uma espécie de Plano Diretor, onde a primeira fase seria a construção dos primeiros blocos – o Centro Administrativo do Estado, do Município e a área comercial. “Dentro dessa fase vai se iniciar a parte de construção, resolvendo o problema e a recuperação de Lagoa Nova”, disse, à época; na segunda fase, seria construída a arena esportiva  e a ampliação dos centros administrativos. Hoje, a informação que se tem é a de que prioridade máxima se dará a construção da Arena das Dunas e que estruturas outras ficarão em segundo plano.

O modelo inicial previa como terceira e quarta fases, a conclusão do Centro Administrativo, área privada e, em seguida, o Centro Administrativo da Prefeitura. Por último, a construção de mais uma torre comercial na ponta do terreno.

Fernando Fernandes explicou ainda que antes da definição pela área onde será construída a Arena das Dunas, foi apresentado aos arquitetos que sobrevoaram Natal, em dezembro do ano passado, as duas áreas públicas que teoricamente seriam sugeridas para ser firmado o estádio. Uma, no início de Parnamirim, aonde chegou a ser feito um projeto do antigo Estrelão – uma área pertencente a Datanorte. “Esse espaço tem, ao mesmo tempo, um comprometimento com ações trabalhistas e não está mais disponível, além de ser por onde passa parte do rio Pitimbu”, frisou.

A outra, assinalou o secretário, em Capim Macio, está inserida em um  bairro residencial, com vias de acessos estreitas e sem roteiro de ônibus regular. “Havia outras discussões muito fortes também quanto à lagoa de tratamento de águas pluviais”, completou.

Fernando Fernandes disse que, se mostrando as áreas inicialmente propostas inviáveis, os próprios arquitetos identificaram o espaço onde hoje funciona o Centro Administrativo, pela localização geográfica e pelos acessos que consideraram acessíveis. “

‘Perguntas continuam sem resposta’

O deputado estadual José Adécio (DEM) garante ser um fervoroso torcedor para que Natal se mantenha como uma das sedes da Copa do Mundo em 2014. “Sou 100% RN no evento”, garantiu. Ele enfatiza, porém, ser contrário a qualquer espécie de demolição nos 47 metros quadrados do terreno onde comporta hoje os estádios Machadão e Machadinho, além do Centro Administrativo do Governo do Estado e suas diversas repartições públicas.Ele propôs uma Audiência Pública na Assembleia Legislativa para discutir o que chama de percalços ainda sem resposta. O evento ocorrerá no dia cinco de outubro, às 9h30. José Adécio disse que a ideia é questionar as autoridades municipais e estaduais sobre assuntos como efluente sanitário, entulhos oriundos da demolição do Machadão e o trânsito da região onde será construído o Complexo Arena das Dunas.Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o parlamentar elencou oito motivos os quais, na sua opinião, demonstram a inviabilidade do projeto atual que tem como premissa Natal como sendo sede do maior evento esportivo do mundo, que ocorrerá no Brasil, em 2014. Veja na íntegra.

Demolição
Eu sou cem por cento a favor da Copa do Mundo em Natal, porém sou peremptoriamente contra a demolição dos estádios  Machadão e Machadinho, do Cartódromo, Papódromo, uma Creche e todo o Centro Administrativo. Mas eu não sou contra por ser contra, mas sim porque eu não encontrei ainda justificativa para se demolir todo um patrimônio público estadual e municipal com vida útil em perfeita condição e servindo a comunidade do Estado e onde se gastou milhões e milhões de reais para se construir.

Na contramão
Nós estamos sendo a exceção à regra e não a própria regra. De acordo com a própria CBF, conforme documentos que eu adquiri, todos os estádios estão sendo reformulados e adequados às exigências da Fifa. Apenas Recife, onde o projeto de construção se justifica. Porque Natal vai demolir o Machadão e todo esse complexo? Ora, a própria CBF analisa cada possível estádio desses e diz qual o maior desafio. Segundo eles, o novo estádio de Natal pode ter dois destinos. Uma herança positiva ou negativa. A CBF diz que para se ter um destino positivo se faria necessário que o futebol do RN se desenvolvesse de forma a alcançar e manter dois clubes na elite A do Brasileirão e alcançar uma participação na Copa Libertadores da América. Quem está falando isso é a Confederação Brasileira de Futebol.

Entulhos
A razão do meu pronunciamento na AL e também de ter pedido a realização da Audiência Pública é em virtude de não encontrar resposta para algumas perguntas. Primeiro, o que fazer de milhares e milhares de metros cúbicos de entulhos? Para se ter uma ideia da dimensão disso, só o Machadão são 16 mil metros cúbicos de entulhos de concreto. Isso significa dizer que 50 caçambões todo dia tirando material de lá gastaria 64 dias ininterruptos para levar tudo para fora de Natal. Além do mais, é preciso saber se esse outro município aceitaria isso.

Efluente sanitário
O que fazer com o fantástico efluente sanitário para cerca de 120 mil pessoas, que resultará em 2 milhões e 400 mil litros por cada 12 horas? Se esse complexo for construído como eles estão querendo vai ter uma hora que haverá cerca de 48 mil no campo de futebol, shopping, prédios, então a média que se prevê para esse mega-empreendimento seria 120 mil pessoas. É outra pergunta que eu não encontrei resposta. Alguns falam em emissário marinho, mas qual o custo disso e qual a tecnologia moderna que adaptaria isso? Outros sonham em lagoa de captação. Se optarem por essa alternativa o lençol freático está a oito metros e vai poluir toda aquela água. Outros, menos sonhadores, falam em tratamento e lançar a água no rio Potengi. Essas questões precisam resposta.

Trânsito
Aquela área onde está o centro administrativo comporta mil vagas. Ali é onde há  maior gargalo de trânsito de Natal. Só a Fifa pede para o novo estádio mais seis mil vagas, ou seja, aumentaria o tráfego sete vezes. Isso sem contar com o complexo todo, onde se imagina que seriam 18 mil vagas. Como comportar esse trânsito ali? Eu queria que o Governo Estadual ou Municipal explicasse isso.

Escolha do terreno
Eu tenho uma pergunta que gostaria de destacar, até porque sou engenheiro civil. Todo o Rio Grande do Norte sabe que esse terreno foi escolhido através de um sobrevôo. Chegou a Fifa e a CBF e as autoridades de Natal disseram o lugar. É elementar quando se vai construir um empreendimento dessa natureza fazer prospecções do terreno, levantamentos geológicos, topográficos, consulta aos órgãos ambientais e de trânsito e as agências reguladoras de serviço de  água e esgoto. Nada disso foi feito. O que se sabe é que hoje existe apenas uma maquete de computador, mas não se conhece o projeto de arquitetura e quem assinou, o projeto de engenharia civil, estrutural, hidrosanitária e elétrica.

Leilão
Para completar, é preciso que se alerte as autoridades municipais e estaduais, se querem a Copa aqui em 2014 como nós queremos, que se dê o primeiro passo. A prefeitura deve mandar um projeto de lei à Câmara de Vereadores e o Governo do Estado à Assembleia, pedindo autorização a essas casas legislativas para que se possa fazer o leilão para os investimentos de PPP.

Inquérito
Além de tudo isso eu quero registrar que já há dois inquérito civis – o de 034/09, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público; e o n.º 19/09, da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente. Essas peças fazem questionamentos e denúncias da maior gravidade.

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