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Arte para mudar a paisagem

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ARTISTAS - Wagner Barja,  Sayonara e Sânzia Pinheiro e Ronald Duarte

Imagine uma exposição de arte onde a galeria é um bairro populoso e a realidade é a tinta e o tecido da construção artística? Esse é o panorama que os artistas do projeto denCidade, promovido pela Funarte com patrocínio da Petrobras, estão inseridos. As intervenções começam hoje e vão até o dia 20, no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, zona norte de Natal.

O Projeto começou no dia 10 de março, quando artistas de diferentes estados brasileiros puderam conviver e conhecer de perto o cotidiano dos moradores do bairro. No decorrer das conversas, as intuições e sensações foram sendo recortadas e coladas em projetos que começam a ser executados hoje.

Cada artista elaborou intervenções que pudessem criar resgnificações às impressões que eles tiveram sobre o bairro. Violência, cultura, sociedade, medo, diversões, ausências, sorrisos, foram sendo registrados e transformados em arte. Na visão de Wagner Barja, artista convidado, agente cultural e Diretor do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República (DF), o caráter do Projeto é estabelecer o mapeamento sócio cultural da comunidade com a linguagem artística da intervenção urbana.

“A resignificação da arte nos faz olhar além da janela para observar o horizonte. A palheta do artista interventor é outra. O Museu aqui é a rua. Essa arte é a que provoca, questiona e lança um olhar crítico sobre a sociedade, mexendo nas feridas”, disse.

O artista carioca Ronald Duarte, que também está no projeto, — e é conhecido por movimentar os bairros do Rio de Janeiro com suas intervenções — compartilha do mesmo pensamento. “As intervenções devem mexer no pus da ferida exposta. O Brasil precisa gritar junto a dor dessa ferida que já não cicatriza mais. A forma como as cidades são construídas não deu certo e o que vamos fazer agora? Acredito que o artista chega para questionar, fazer a pergunta, Para onde estamos indo?”, disse Ronald, que em 2006 fez uma intervenção no Rio de Janeiro levando três caminhões pipa para as ruas do “Morro da Coroa”, lavando as ruas com água vermelha lembrando sangue. No decorrer da semana participam do DENCIDADE os artistas Júlio Castro, Jean Sartief, Marcelo Gandhi, Gabriela Posada, Guaraci Gabriel, José Pinheiro, João Natal, Elizabete Corandini, Sayonara Pinheiro, Adriana Lopes, Civone Medeiros, Ilkes Rosemir, Marcelo Amarelo, Zé Frota e Vinicius Dantas (do Rio Grande do Norte); Júlio Leite e Sandoval (da Paraíba); Mariana Smith (do Ceará); Ronald Duarte (do Rio de Janeiro); André Komatsu (de São Paulo); Lourival Batista e Bruno Monteiro (de Pernambuco); e Wagner Barja (do Distrito Federal).

Entrevista / André Komatsu

“A importância do Projeto DenCidade é crucial”

O artista plástico André Komatsu é o representante de São Paulo no projeto Dencidade. No domingo (16), ele antecipou a realização de uma primeira intervenção no bairro: uma provocação à questão do território, chamada “Paralelos Civilizatórios”. Para isso usou um muro que fica localizado atrás da “base Dencidade”, que funciona na sede do conselho Comunitário Nair Bezerra (Rua do Atleticano, nº 10, Alvorada IV).

Antes da intervenção, ainda no sábado (15), ele explicou sua proposta de intervenção falou também acerca da importância do DenCidade, projeto de intercâmbio artístico que está sendo realizado no bairro de Nossa Senhora da Apresentação; e pretende adensar no Estado a discussão e a produção de arte contemporânea. 

 TRIBUNA DO NORTE – Como você foi incluído no Dencidade?
André Komatsu
– Eu fui convidado porque no final do ano passado fui convidado pela Funarte — dentro daquele projeto Redes — a dar um workshop sobre intervenção, em Mossoró. Lá eu conheci a Sayonara (Pinheiro). Foi lá que ela viu alguns trabalhos meus que mexem com essa questão da cidade.

 TN – Há quanto tempo você trabalha com intervenção urbana?
AK –
Na verdade é que eu não trabalho só com intervenção. Trabalho com uma série de mídias e a intervenção é uma delas. 

 TN – Como é o seu projeto?
AK
– Até me perguntaram antes o que eu ia fazer. Eu expliquei que não sabia ainda. Mas que estava pensando em fazer algo ligado à discussão de território, que é algo que desenvolvo no meu trabalho, mas também que eu acho que tem a ver com o bairro aqui. Porque por meio de algumas pesquisas eu vi que aqui em natal o que cresceu muito foi essa questão da especulação imobiliária. E eu acho que esse bairro entra nesse tipo de discussão porque aqui — segundo os moradores — era uma fazenda que foi loteada e depois reloteada. E eu entendo que é preciso conhecer o espaço, sentir o lugar para poder realizar. Com base nisso planejei algumas interferências.

 TN – Como o quê?
AK –
Uma delas eu pensei em implantar no muro de um condomínio fechado que estão fazendo uma marreta pendurada por uma corrente. Que a idéia é mostrar a possibilidade de que qualquer um pode romper aquilo. Porque eu acredito que esses condomínios criam todo um sistema de reclusão e exclusão do mundo. Ao invés de juntar a comunidade, separa. Porque é uma segmentação dentro da comunidade.

TN – Qual a importância de um projeto como esse?
AK –
Acho crucial. Porque ao invés de ser numa sala de exposição que vai prefeito e etc., onde terá toda aquela pompa — que é uma grande mentira — é aqui: uma situação real. Estamos lidando com pessoas reais e com a geografia real. Portanto, é um meio mais rico. É um meio que te propõe ações. Não é você que propõe. É ele que te propõe. É uma série de informações que você tem de filtrar e escolher algumas. É um meio rico.

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