Ney Figueiredo [ Consultor Político ]
Certamente, se os generais argentinos tivessem estudado um pouco a história de Gibraltar,não teriam invadido as Malvinas. Desde 1704 os ingleses ocupam uma faixa de 6,5Km quadrados em pleno território espanhol. É certo que este pequeno pedaço de terra foi concedido aos britânicos pelo Tratado de Utrecht “sem qualquer excessão ou impedimento”, em parte de pagamento da Guerra de Sucessão Espanhola.
O governo espanhol tem reclamado e ,em determinados momentos,tomado medidas extremas como cortar a luz e o fornecimento de agua para a pequena península.
Pergunta-se:qual a importância do lugar? Estando numa posição estratégica entre a Europa e a Africa, na ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo, no tempo das guerras convencionais,quando os canhões eram armas de grande poder destrutivo,era vital controlar esse estreito de não mais de 13 km. Mas hoje, com os formidáveis artefatos nucleares e eletrônicos seus canhões, que já não mais funcionam, seriam silenciados numa fração de segundos.
Quando terminou o governo Franco,que havia fechado as fronteiras por trinta anos, surgiu uma luz no fim do túnel. Finalmente,a democracia chegava a Espanha,havia um novo rei e esperava-se um gesto de grandeza da Inglaterra. Tudo em vão. Este gesto não veio e a ferida não cicatriza,porque é absurda e injusta.
Somente para argumentar,dá para admitir a Argentina ocupando espaço equivalente em solo brasileiro? O Guarujá,por exemplo? A rivalidade, que no futebol já margeia a fronteira do insuportável, iria transbordar para uma disputa sangrenta e sem fim.
Se o orgulho e a teimosia inglesa não abriram mão de um rochedo que não produz um pé de repolho e que não tem sequer um mineral de valor,ocupado por trinta mil pessoas e milhares de macacos,simpáticos e hospitaleiros na sua maioria,por qual razão abririam mão de uma território ultramarino situado a 14.500 quilômetros, que interessa as suas pretensões estratégicas no Atlântico Sul, inclusive para defender suas posições quanto a exoração de recursos naturais?Ainda mais que, agora, 30 anos depois da malsinada guerra,existem fortes indícios de haver petróleo em aguas profundas em torno das ilhas.
E há o problema do simbolismo,que é importante para o outrora poderoso império inglês. Em torno de símbolos aconteceram as maiores atrocidades da humanidade,quando milhões de seres humanos perderam as suas vidas.
Qual o sentido das cruzadas?Qual a importância da procura do Santo Graal?E a absurda guerra do Paraguai iniciada por Solano Lopes contra adversários infinitamente mais poderosos do que ele?
Quando a Dama de Ferro, Margareth Thatcher, despachou a poderosa força tarefa para expulsar os maltrapilhos e mal equipados soldados argentinos das Malvinas,a um custo de bilhões de libras,ela não agiu com a razão,mas com a história do seu povo,que jamais iria perdoá-la por qualquer vacilo em defesa do império Britânico.
Foi este mesmo sentimento que fez Winston Churchil travar a batalha aparentemente impossível de ser vencida contra a formidável máquina de guerra nazista. Como afirmou Barbara Tuchman em seu clássico A Marcha da Insensatez,”Por que os homens com poder de decisão política tão frequentemente agem de forma contrária àquela apontada pela razão e que os próprios interesses sugerem?