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As muitas voltas de Leno

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Yuno Silva
repórter

Histórias para contar sobre a música brasileira e os tempos áureos da Jovem Guarda não faltam ao cantor e compositor natalense Leno Azevedo, cuja veia crítica continua em plena forma. Fã confesso dos Beatles e roqueiro de carteirinha, o músico – que ainda carrega o rótulo romântico desde a época que formou dupla com Lílian, entre 1966 e 68 – lança no próximo dia 21 de julho, às 20h, no Teatro Alberto Maranhão seu primeiro DVD solo intitulado “Leno ao vivo – o mundo dá muitas voltas”. Ele também aproveita a ocasião para apresentar oficialmente ao público o CD “Leno, canções com Raulzito”, originalmente composto no início dos anos setenta e regravado no ano passado.
Com DVD pronto, Leno Azevedo fará show de lançamento no próximo dia 21
O DVD e o CD estarão à venda a partir desta segunda-feira, 11, nas lojas Rio Center e nas melhores bancas e livrarias da cidade; enquanto que os ingressos antecipados (R$ 40 e R$ 20 meia) estarão disponíveis na ótica New Vision do shopping Midway Mall e na própria Rio Center. Gravado em setembro de 2010, no Centro de Convenções da Via Costeira, o DVD levou seis meses para ficar pronto. “O resultado final ficou tão bom, que já estou planejando lançar um disco duplo com o áudio”, adianta Leno.

A produção do DVD contou com a participação de Paulo Sarkis no baixo, Zé Marcos (teclado), Cléo Lima (guitarra), Raphael Bender (bateria), Quarteto de Cordas Paraguay, vocais das irmãs Manuela e Marina, metais de Isak e Cosme Damião; mais as convidadas Camila Masiso e Daniela Abreu, que dividiram o palco com Leno em “Lixo Eletrônico” e o eterno mega hit “Pobre Menina”. A captação do áudio ficou a cargo do estúdio  Megafone, a mixagem sob responsabilidade de Jota Marciano do Studium e as filmagens são da Digital Produções.

Sobre o show, Leno informa que Camila e Daniela ainda não confirmaram presença, e que Cléo Lima será substituído por Hugo Albuquerque por questões de agenda, mas “a base do show no TAM dia 21 será a mesma. Também estou guardando algumas surpresas e quero contar com outros convidados especiais”, disse o músico durante entrevista à TRIBUNA DO NORTE em seu apartamento em Petrópolis.

“Neste projeto faço uma retrospectiva geral da carreira, desde os tempos da dupla com a Lílian, passando pela fase solo, pelo repertório do disco ‘Idade Mídia’ (lançado em 2006), até desembocar nas músicas que fiz com Raul Seixas nos anos setenta e que acabaram de ganhar nova roupagem no CD ‘Leno, canções com Raulzito’. Dessa época, ainda recuperei a inédita ‘Uma pedra no seu caminho’, que encontrei perdida em uma fita antiga”, contou o artista, cercado por livros, DVDs e principalmente discos (centenas de CDs e cerca de dois mil LPs), clássicos do rock’n roll que dão uma pista de seu gosto musical.

Longe do rótulo

Alto e magro, aparentando menos que seus 62 anos, Leno Azevedo acompanhou toda a transformação da indústria fonográfica e a evolução tecnológica do setor. Trabalhou como produtor musical free lancer da finada CBS (quando produziu as bandas potiguares Impacto 5 e Flor de Cactus) e foi o primeiro brasileiro a gravar um disco (não lançado) em oito canais. “Se o disco ‘Vida e obra de Johnny McCartney’, gravado em 1970 com Raul Seixas, tivesse sido lançado seria um divisor de águas na minha carreira, teria mudado minha imagem artística. Foi uma espécie de antecipação de tudo que estava para chegar no Brasil em termos de rock. Estávamos passando por um momento muito traumático com a repressão da ditadura Militar, e havia toda uma eferverscência artística rolando. Da turma da Jovem Guarda, só eu e o Erasmo Carlos percebemos isso naquela época”, arrisca.

Leno conheceu Raul antes dele ser mitificado: “Ficamos muito amigos, tínhamos muito em comum: nossos escritores favoritos eram os mesmos, pensávamos parecido, e começamos a experimentar tanto no estúdio que o disco começou a ficar conceitual demais para os padrões mercadológicos da CBS – sem falar que a censura havia vetado seis letras”, lembra. “Acredito que, mesmo sendo pouco comercial, o lançamento teria valido a pena”.

A gravação de “Vida e obra de Johnny McCartney” ficou perdida por 25 anos, até que um pesquisador encontrou as fitas e ligou para Leno. “Consegui autorização para recuperar a fita, e cheguei a lançar o material praticamente original em 1995, por um selo próprio (Natal Records)”, recorda. Em 2008, o álbum chegou a ser relançado nos Estados Unidos, e uma segunda edição ampliada desse mesmo disco foi produzida no início de 2010.  O personagem título do álbum ironiza a fama e o culto à celebridade, e Leno se diz de certa forma vítima da própria fama: “Logo no primeiro disco percebi que iam nos rotular de casal romântico. Romântico até que a gente era cada um para o seu lado, mas casal nunca fomos. Pode soar exagerado, mas sempre fui muito irônico diante do sucesso.”

Crítica ampla

Politizado e inquieto, Leno não consegue ficar calado diante de certos assuntos, e acredita que a tecnologia trouxe não só facilidades,  mas “muita acomodação”. “Esses dias vi uma entrevista do Elton John falando disso, de como a música era melhor quando vinha da alma, do coração. Hoje basta apertar um botão e o cara pensa que está fazendo música. O excesso de tecnologia fez com que a música perdesse bastante da emoção”, garante.

Também reclama de não receber convites para tocar em Natal e, apesar de não ter nada a favor das grandes gravadoras, acha que elas dão uma filtrada na enxurrada “de coisas ruins que circulam na internet hoje em dia. Como destacar alguém no meio dos milhões que estão aí?”, questiona.

Amante da liberdade proporcionada pela informalidade, nunca bateu o ponto em um emprego “normal”, voltou a morar em Natal por ter se cansado da violência das cidades grandes: “Estava cansado dos espigões, e quando chego em Natal vejo uns maiores que na orla do Rio de Janeiro. Chego aqui e não posso mais ir à praia por estarem poluídas. Sinto omissão por parte do natalense, uma certa ‘bovinidade’ imperante onde ninguém reclama de nada”, constata. Sobre a Copa do Mundo em 2014 também alfineta: “Percebo um ar de deslumbramento com a Copa em Natal, mas acho que só um milagre vai fazer com que os investimentos milionários dêem retorno. Espero estar enganado, mas do jeito que está é complicado”, finaliza.

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