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“As pessoas não estão abertas ao novo”

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O ingresso de Wagner Kallieno no mundo da moda está intrinsecamente relacionado a sua avó, que reside na cidade de Angicos. Foi obesrvando a avó criar e produzir os vestidos que ela própria usaria nas missas angicanas dominicais que Wagner despertou para a moda. Naquela época, sonhava em fazer roupa, costurar, não sabia definir o nome daquela profissão. As primeira dificuldades surgiam pela ausência de uma faculdade de moda no Estado, Wagner chegou a cursar Engenharia Elétrica.

Mas estava no universo da moda sua realização e a grande projeção. Semana passada inaugurou sua loja própria em Natal, mas o nome Wagner Kallieno já é conhecido e reconhecido no país, a arte do estilista que traz para o moderno o produto artesanal do Nordeste, como o famoso bordado de Caicó. “Eu elegi as riquezas da  minha terra para ser o meu diferencial. Apesar de ser coisas regionais, são coisas maravilhosas. O bordado rechilieu, a renda, os bordados em pedraria”, destaca.
Com 10 anos de carreira, Wagner Kallieno vem conquistando território nacional com peças modernas, contemporâneas e uma linguagem sexy.
Mas nesse universo, Wagner reconhece que sofreu, sim, preconceito por estar levando o produto nordestino para o refinado mundo da moda. “O preconceito existe com relação a eu ser nordestino e tentar levantar essa bandeira, mas eu acredito que com talento a gente consegue vencer todas as barreiras”, destaca o estilista.

Com 10 anos de carreira, o estilista Wagner Kallieno, formado em moda em Natal, vem conquistando território nacional com peças modernas, contemporâneas e uma linguagem sexy. Suas peças são elaboradas com recortes e mistura de materiais e os vestidos de festa são o seu carro chefe. Em 2010, o estilista foi o vencedor do Rio Moda Hype e hoje, com 28 anos, o potiguar tem 40 pontos de venda de sua marca espalhados pelo Brasil.

Com vocês, Wagner Kallieno:

Você abriu em Natal a primeira loja com nome próprio. Por que a necessidade de deixar as multimarcas e enveredar pelo seu próprio negócio?

Essa necessidade veio a partir dos meus clientes, que me cobravam. Porque quando a gente vende para multimarca nem sempre o lojsta compra toda coleção. Ele compra o que se adequa ao perfil de cliente dele.  E com isso deixava de fora todo um mix de produtos que a gente tinha. Então os clientes cobravam porque viam em mídias sociais, viam as pessoas usando e nem sempre eles tinham acesso. Agora com loja própria eles conseguem ter acesso a todo  mix de produto que a marca tem para oferecer.

 Sua carreira ultrapassa os dez anos e seu nome já repercute em todo país. Você chegou onde queria?

Não. Acho que agora é só o comecinho de tudo, onde as coisas começam a tomar forma e se encaixar. Eu ainda tenho um  objetivo que é bem mais alto.

Como você se descobriu para o mundo da moda?

Foi através da minha avó que me influenciou. Eu sabia que queria ser, queria costurar, trabalhar com roupa. Na verdade, eu não sabia que isso era ser estilista. Até porque no meu tempo de criança a informação não chegava com tanta rapidez como hoje em dia. Mas daí eu fui crescendo e sabia que queria ser estilista. Mas era muito difícil aqui em Natal, a gente não tem um mercado de moda, não é cidade que tem tradição de moda. O ser estilista era algo como um sonho distante, mas que eu queria muito na minha vida. Daí, em 2003, quando comecei a faculdade de moda comecei a entender como funcionava o mercado, comecei a trabalhar com isso e as coisas começaram a acontecer.

Como a sua avó, uma angicana, pode ter lhe influenciado para a moda?

Ela era estilista dela mesma. Era costueira, mas só costurava para ela. Daí ela estava o tempo todo fazendo as roupas que ela tinha que usar na missa do final de semana. Era bordando, costurando, fazendo essas coisas. E eram roupas contemporâneas. Até hoje são roupas que a gente consegue ver e me lembra coisas que eu via no passado com ela (a avó).

Você é um profissional que costura mesmo e não só desenha?

Eu sei fazer todas as operações de uma roupa, desde o molde, a costura, acabamento, bordando e tudo. Para mim flui melhor a criação quando eu vou e ponho a mão na massa. Na verdade, para se desenvolver uma coleção você tem que fazer a peça teste e essa peça teste eu faço questão de eu mesmo fazer para ela sair de acordo com o que eu imaginei.

Mas você desenha?

Eu desenho péssimo. Hoje em dia tenho gente que consegue me ajudar nessa parte do desenho. Eu crio e depois que a peça está finalizada aí vem alguém e desenha para mim.

Nas suas coleções você coloca itens regionais, inclusive o bordado de Caicó. De onde vem essa preocupação?

Como estilista acho que é importante a gente ter um diferencial. Eu elegi as riquezas da  minha terra para ser o meu diferencial. Apesar de ser coisas regionais, são coisas maravilhosas. O bordado rechilieu, a renda, os bordados em pedraria, Caicó é muito famoso por tudo isso. Mas vale salientar também que há um ponto negativo. As pessoas ainda são muito preconceituosas e isso nem sempre soa bonito ou bom aos olhos dos clientes do Sul e Sudeste. Eu sofro e já sofri muito. Hoje talvez  não tanto, mas o preconceito existe com relação a eu ser nordestino e tentar levantar essa bandeira, mas eu acredito que com talento a gente consegue vencer todas as barreiras. Foi uma coisa que eu coloquei e não pretendo abandonar nas minhas coleções.

O que esperar da sua nova coleção?

Nosso verão foi inspirado nas sensações boas que o sol de Natal me desperta. E aí eu optei por fibras naturais, como linho, seda pura, o bordado foi feito com madeira, madrepérola. É uma coleção bem iluminada, tem tons claros. Usamos linha com fio de metal, seda com fio de metal que é para dar uma modernizada e tirar a cara do artesanal da roupa. Tem esses tecidos bem tecnológicos. Mas é uma coleção solar. Uma coleção iluminada.

O que lhe inspira a criar?

Eu me inspiro em tudo que ocorre ao meu redor. Eu vivo de observar. Tudo que acontece me influencia e me inspira. Não tenho um foco de inspiração. Mas tudo que vai acontecendo, as mudanças de comportamento, isso me inspira e me faz conceber a coleção seguinte. O verão está chegando na loja e eu já estou na inspiração do inverno que é o que vai chegar ano que vem.

É complicado estar na moda?

É complicado sim. Cada região tem o seu perfil e isso é muito engraçado. As peças que as pessoas do Sul compram da minha coleção não são as que do Norte compram. Então, estar na moda é cultural, vai do olho e da cultura. Eu tenho uma ideia, eu jogo um conceito, onde as pessoas se identificam e outras não. Mas não quer dizer que sou o dono da verdade e só estará na moda quem usar Wagner Kallieno. Devem ter pessoas que amam minha roupa e outras acham horrorosa. Então, é meio cultural a coisa de moda. As pessoas não devem se prender, vai muito de estilo. Moda tem a  ver com comportamento, com personalidade. As vezes você se arruma inteira, com uma roupa que não tem a ver com sua personalidade e parece que você está fantasiada de outra pessoa, que não é você.

A moda implica no bom gosto?

Bom gosto é uma coisa que nasce com você. É como caráter, você tem ou não tem. Lógico que com o tempo você apura, consegue refiná-lo, mas já nasce com você. Você não precisa de dinheiro para ter bom gosto, você não precisa de ter dinheiro para se vestir bem, quando você tem bom gosto você consegue fazer com as ferramentas que estão na sua mão.

Você já chegou a escrever que a moda é muito dinâmica, a peça vai e volta?

É muito chato isso. A gente está em 2014 e as vezes eu penso que não tem mais nada para gente inventar e tudo já foi inventado. Mas a moda é chata porque é feita de memória. Cadê a criatividade, não existe. A moda está feita do passado, de memória, de coisas que já existem e a gente faz ela com a nova cara. E isso ocorre porque as pessoas não estão abertas ao novo. Quando a gente cria de verdade, faz o novo, as pessoas não estão abertas a isso. O novo assusta. É muito difícil de você ser, realmente, um criador porque o novo assusta muito. Então ultimamente a gente pega aquilo que já é sucesso e faz com a nossa cara, com a minha linguagem, com a minha linha de raciocínio.

O que fazer para estar sempre na moda?

Acho que para mulher estar sempre na moda vai ser bem complicado.  O que ela pode fazer é ler um pouco mais, saber o que favorece a ela. O corpo da brasileira, principalmente do Nordeste, é um pouco difícil e falo isso porque enfrento muito isso. É descobrir o que favorece, o que fica melhor. A saia lápis abaixo do joelho é para uma mulher mais alta e até a altura do joelho uma baixinha pode usar e vai estar alongada, vai conseguir estar chique.


Bate e volta:

Qual a peça que não pode faltar: saia lápis. Hoje em dia a saia lápis é o
item mais sexy da temporada, o comprimento no joelho deixa a mulher
mais torneada, mais chique e daí você joga com qualquer coisa. Saia
lápis é o ícone do momento
 
Qual a cor: eu sou tão monótono  com cor, para mim ou é preto ou é branco. Amo essas duas cores
 
Em quem você se espelha: tenho muitos ícones, no Brasil o Reinaldo Lourenço e a Glória Coelho são referência para mim

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