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Assentados esperam triplicar a renda

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Os ganhos previstos com o beneficiamento da tilápia animam os produtores potiguares. A estimativa é ao menos triplicar a renda com o pescado. O quilo é vendido hoje por R$ 8, in natura. E caso consigam produzir o filé, que chega a valer R$ 39,99 em um pacote de 1Kg no supermercado,  eles esperam obter três vezes mais.
Criação de tilápia no Assentamento Rosário, em Ceará Mirim (RN): Atualmente o peixe é vendido inteiro e rende R$ 8 por quilo aos produtores. Eles esperam mais
Mas é no couro que enxergam a maior oportunidade de ganho. “Uma jaqueta com couro de tilápia chega a custar R$ 500 e uma bolsa alcança R$ 150”, estima Livânia Frizon, da cooperativa dos produtores de Canudos. “Esse tipo de produto caiu no gosto de grifes italianas e tem potencial para entrar em qualquer loja, em lojas de madame, de luxo”, aposta.

Nos supermercados, a expectativa é disputar espaço com o filé que hoje chega da Bahia, de estados do Sul ou de Goiás, por exemplo. Para lingüiça, nuggets e almôndegas, que também pretendem produzir, o mercado em potencial é a merenda escolar de escolas públicas do estado.

Sustentáveis
O gerente da Unidade de Desenvolvimento Territorial e Agronegócios do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa no RN (Sebrae), José Ronil Fonseca, afirma que o mercado está receptivo a produtos sustentáveis, a exemplo dos que estão nos planos dos assentados. “Esses produtos transformam o que era resíduo em renda”, diz. Ele também ressalta que o reuso da água dos viveiros para irrigação é um exemplo de inovação e sustentabilidade. “E essa integração  piscicultura-agricultura é muito importante. A água é um recurso escasso e pode ser bem empregada nas duas atividades”, completa o engenheiro do Ministério da Pesca e Aquicultura no RN, Andrews Luiz de Araújo.

A aqüicultura, que é a produção de pescados em cativeiro, é apontada como a principal alternativa para garantir a oferta de proteína animal no futuro, segundo Araújo. Mas a atividade também pode trazer impactos negativos ao meio ambiente se for mal orientada. “Muitos jogam sobras dos viveiros em açudes, rios”, exemplifica.

#SAIBAMAIS#Os resíduos podem ir parar ainda no solo, com impactos também negativos. Foi o que mostrou uma pesquisa desenvolvida pela engenheira agrônoma Lia Ferraz de Arruda Sucasas, em que simulou o que ocorreria se resíduos de beneficiamento da tilápia fossem levados para o solo por meio de chuva.

“Os resultados apontam que esses resíduos devem ser encaminhados para um aterro sanitário construído de modo adequado e não podem ser jogados no lixo comum, pois irão contaminar o solo”, declarou a pesquisadora à Agência de Notícias da Universidade de São Paulo.

Lia estudou o tema em sua tese de doutorado, na universidade, e apresentou os resultados em 2011. A pesquisa fez uma “Avaliação do resíduo do processamento de pescado para o desenvolvimento de co-produtos visando o incremento da sustentabilidade na cadeia produtiva”. O campo de observação foi uma  unidade de cultivo do interior de São Paulo.

Bate-papo – Deusimar Freire Brasil
Doutor em Aquicultura e professor associado do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFRN

Por que a criação de tilápia é sustentável no contexto desse assentamento?
 Os fatores mais importantes na determinação da sustentabilidade do Polo de Tilapicultura do Mato Grande são: é uma atividade que possui baixo custo operacional efetivo (custo que efetivamente dispende de recurso financeiro), pois o gasto é basicamente com os alevinos da tilápia, a ração e a energia elétrica para bombeamento da água; ou seja, não há gasto efetivo de dinheiro com mão de obra e encargos sociais e outros que são de natureza empresarial; é um projeto modular coletivo, cada unidade produtiva é composta de 6 famílias e 6 tanques; assim não é necessário que cada família trabalhe diariamente na rotina de manejo dos peixes. Uma família trabalha um dia e só volta a cuidar dos peixes 6 dias depois; com isso há disponibilidade de tempo para cuidar de outras atividades, pois nos demais dias há revezamento no cuidado com os peixes pelas outras famílias participantes; finalmente, e a consideração mais importante, a sustentabilidade envolve as dimensões: econômica, social, ambiental, cultural, política, histórica e ética. Todas essas dimensões são contempladas no Polo de Tilapicultura.

A criação de peixe é uma opção para qualquer realidade de agricultura familiar?
 A criação de peixe é muito importante para a agricultura familiar e principalmente no semiárido nordestino, pois o peixe se produz com água, mas não há consumo efetivo da água. Pelo contrário, com a água se produz o peixe e a água ainda fica disponível para o agricultor utilizá-la com fertilizante e irrigação de cultivos hortifrutiforrageiros. Isso ocorre porque o peixe não “bebe a água” como outros animais terrestres e nem a demanda para rotinas de lavagem de instalações, por exemplo.

O que é preciso para que a sustentabilidade seja praticada?
É preciso adotarmos práticas relacionadas às dimensões da sustentabilidade. Isso quer dizer que a atividade precisa ter viabilidade econômica; promover a justiça social, oferecer alimentos de boa qualidade a preço justo para o produtor e o consumidor e gerar oportunidades de trabalho com dignidade e respeito à legislação trabalhista. Na dimensão ambiental, a produção não pode ser feita às custas da destruição dos recursos naturais: solo, água, vida silvestre, estabilidade dos ecossistemas. Na dimensão cultural, a atividade deve ser feita no contexto dos valores culturais locais. A atividade também precisa levar em consideração a formação política dos produtores e ser pautada em valores e práticas democráticas e republicanas. Precisamos ainda utilizar os recursos naturais sabendo como se deu historicamente a apropriação dos mesmos, ou seja, se há problemas, quem contribuiu com essa situação e que soluções pode-se implementar para reverter. Finalmente, temos a dimensão ética. Nós, seres humanos, temos que nos indignar com qualquer prática que leve a uma degradação humana e do meio ambiente.

SÉRIE
Essa reportagem é a segunda de  uma série que a Tribuna do Norte publica desde domingo (21) sobre a sustentabilidade nos negócios, as perspectivas de mercado e boas práticas já registradas na área. A primeira reportagem mostrou os ganhos que agricultores familiares que apostam na produção orgânica têm alcançado no estado.

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