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Atividade física versus depressão (2)

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Jorge Boucinhas – médico e professor da UFRN – [email protected]

Conforme prometido no Artigo anterior, seguem mais dados sobre a interessante correlação entre a atividade física e o combate à depressão.

Pesquisadores da Duke University, nos EUA, realizaram há algum tempo um estudo comparando os efeitos antidepressivos da corrida com os de um conhecido medicamento, o cloridrato de sertralina (no Brasil com nomes comerciais Serenata, Zoloft, Assert).  Após quatro meses de acompanhamento pacientes tratados com as duas abordagens estavam indo igualmente bem. A medicação não oferecia nenhuma vantagem particular sobre a prática intensa da corrida e mesmo a combinação do remédio com o exercício não intensificou os efeitos. Por outro lado, um ano depois houve uma diferença incrível entre os dois tipos de tratamento. Mais de um terço dos pacientes que estavam sendo tratados com o produto tivera recaídas, ao passo que três terços daqueles que seguiram o programa de corrida ainda estavam indo bem. Eles decidiram, de motu proprio, continuar se exercitando depois do estudo ser concluído.

Um outro dos estudos efetuados lida com os benefícios obtidos pelo ato de usar seja bicicletas comuns seja estacionárias. Tal estudo demonstrou que a maioria dos participantes sentia-se com mais energia e mais relaxada depois de pedalar. Os benefícios permaneceram um ano depois do período oficial da pesquisa porque a grande maioria dos participantes, por vontade própria, continuou a se exercitar regularmente

Outro projeto de pesquisa da Duke demonstrou que juventude não é pré-requisito para serem obtidos benefícios do exercício físico. Pessoas depressivas com idades entre cinqüenta e setenta e sete anos beneficiavam-se tanto de trinta minutos de marcha rápida (sem correr), três vezes por semana, quanto do emprego de medicamentos. Estes aliviavam os sintomas um pouco mais rapidamente mas não de modo mais eficaz.

Através de quais processos o exercício tem tão grande impacto sobre o cérebro? As pesquisas demonstram que ocorre, mais do que qualquer outra coisa, um grande efeito sobre as endorfinas, pequenas moléculas assemelhadas aos derivados do ópio (quais a morfina e a heroína). O cérebro emocional contém muitos receptores para elas e é por isso que ele é tão sensível ao ópio e seus derivados (a heroína tem tão intensa ação psíquica que se constitui no mais forte agente conhecido contra os pesares da separação conjugal e da morte de entes queridos). Não obstante, quando derivados do ópio são usados com freqüência podem viciar, pois os receptores cerebrais vão-se tornando insensíveis a eles e as doses devem ser sistematicamente aumentadas para se obter o mesmo efeito.   Ademais, em razão deles tornarem-se cada vez menos sensíveis, os prazeres comuns, incluindo o sexual, perdem o seu sabor.

Em contraste, as endorfinas produzidas pelo ato de exercitar-se fisicamente operam em forma contrária. Quanto mais o mecanismo natural do prazer é suavemente estimulado pelo exercício, mais sensível o mecanismo em si se torna. Além de saborear bem o sexo e os outros grandes prazeres da vida, as pessoas sistematicamente ativas sentem mais prazer com as pequenas coisas da vida, quais a prática de um hobby, o cultivo de amizades, o trato de animais de estimação, o saborear de refeições, até mesmo o contato humano ocasional.  Em suma, encontram mais prazer na vida.  E, de fato, a experiência do prazer é o oposto da depressão, de vez que esta caracteriza-se mais pela ausência de prazer do que pela tristeza.  Daí que a liberação de endorfinas tem um efeito antidepressivo e ansiolítico tão potente.

Estimular o cérebro emocional exercitando-se influencia, outrossim, as defesas do Sistema Imunológico, acelerando a multiplicação das já citadas células “natural killers”, que também ficam mais ativas contra agentes infecciosos e células malignas. É fundamental deixar claro que o oposto se passa com os dependentes de heroína, cujas defesas imunológicas enfraquecem.

Um outro mecanismo fisiológico importante é igualmente influenciado pela atividade física. Os que se exercitam regularmente mostram maior variabilidade no ritmo cardíaco do que as que não o fazem. Isto significa que seu Sistema Parassimpático (PS), o “breque” fisiológico que traz períodos de calma, é forte. Um bom equilíbrio entre os dois ramos do Sistema Nervoso Autônomo é um dos melhores remédios contra a ansiedade e os ataques de pânico. Todos os sinais e sintomas de ansiedade começam com um Sistema Simpático (S) hiperativo (boca seca, coração acelerado, suadouro, tremedeira, aumento da pressão arterial).  Os Sistemas S e PS estão sempre em jogo e se um deles for mais estimulado torna-se mais forte. O exercício, fortalecendo o segundo, afasta o pânico, um equivalente depressivo.

Fica para o Artigo vindouro a conclusão deste tema tão interessante. 

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