Yuno Silva
Repórter
A cena audiovisual natalense está em ebulição, e a todo momento pululam iniciativas que reforçam a máxima de que a “união faz a força”! Cinema é uma atividade coletiva e de uns três anos para cá artistas de diversos segmentos perceberam que só trabalhando em conjunto para fazer as coisas acontecerem – independente dos ainda rarefeitos incentivos públicos. Na esteira das novas produções locais, em meio a nova safra de curtas-metragens que está sendo rodada na cidade, eis que surge surge da cabeça de uma galera inquieta e criativa a websérie de ficção “Septo”, primeira produção do gênero a ser rodada em solo potiguar toda ambientada em Natal.
“Minha personagem, Jéssica Borges, é uma triatleta bem sucedida, convocada para as Olimpíadas de 2016, que chegou a um ponto da vida onde percebe não ser nada daquilo que deseja. Ela passou a vida inteira abdicando do que realmente quer para atender os anseios de outra pessoa (o pai)”, conta a atriz Alice Carvalho, autora do argumento que embasou o roteiro. Todo o processo vem sendo compartilhado pela equipe, formada por 25 pessoas, do roteiro à direção: são três roteiristas fixos e cinco diretores convidados, um para cada episódio da primeira temporada.
A atriz explica que o nome “Septo” está “relacionado à forma com que a personagem enxerga a própria personalidade. Ela esconde o piercing, pois só ela e quem mais ela quiser precisa saber”, explicou. Alice assina os roteiros ao lado do jornalista Aureliano Medeiros (da Tribo Editora) e de Frank Aleixo. A direção dos episódios estão à cargo de Hélio Ronyvon (“Sêo Inácio ou o Cinema do Imaginário”), Vitória Real, Victor Ciríaco (“Abraço de Maré”), André Santos e Tereza Duarte.
“O processo de ‘Septo’ foi bem interessante, colaborativo, escrito a seis mãos”, disse Aureliano Medeiros. O roteirista adianta que “a história traz uma temática atual, que é essa questão da confrontação do eu: quando você tenta ser seu eu melhor”. A websérie aborda a relação conflituosa de Jéssica com o pai, que tem problemas com alcoolismo mas incentiva o trabalho da filha, e com Lua (Anna Zêpa), uma garota livre e independente por quem a protagonista se apaixona “e passa a viver um lance que não sabemos direito o que é”, adiantou Medeiros. Por enquanto apenas o nome das duas atrizes está definido.
Aureliano acrescenta que o pano da produção “é poder também mostrar as belezas de Natal, o que está sendo feito por aqui e como podemos contribuir – como um todo – para a Cultura nacional”.
Pipa Dantas, diretora geral do projeto, lembra que “apesar de Natal ser uma cidade muito linda, infelizmente o RN é o terceiro Estado mais violento do País em relação a questões homoafetivas. Queremos que ‘Septo’ chegue junto e diga ‘ei, o amor é uma coisa linda e precisa ser tratada de forma natural'”, sentencia.
Financiamento coletivo
Paralela a pré-produção, já em curso, o projeto está na fase de captação via financiamento coletivo no Catarse (catarse.me/pt/septowbs), ou seja, para acontecer de acordo com o planejado os realizadores contam com apoio do público. A meta é alcançar R$ 15 mil até o próximo dia 5 de março, e contribuições a partir de R$ 10 já rendem recompensas – quem colaborar com R$ 100, por exemplo, terá seu nome nos agradecimentos nas redes sociais e incluído nos créditos finais de dois episódios. Também irá receber arquivo eletrônico com roteiro dos três primeiros episódios, cartaz impresso, três ingressos para a festa de lançamento em Natal e camiseta com estampa exclusiva da websérie. Até o momento foram arrecadados R$ 2,3 mil.
“Septo” é uma realização independente da Marmota Filmes em co-produção com o Coletivo Caboré Audiovisual e produção associada do portal Brasileiríssimos, de Recife, conhecido dos internautas por divulgar artistas da área musical. Segundo o cronograma divulgado, as gravações da websérie iniciam em abril, a pós0produção está agendada para o mês de maio e o lançamento estimado para junho deste ano.
Serviço
A websérie “Septo”, com as atrizes Alice Carvalho e Anna Zêpa, entra na reta final da campanha de financiamento coletivo via Catarse (catarse.me/pt/septowbs) – colaborações a partir de R$ 10. Projeto com formato pioneiro no RN, “Septo” está com lançamento previsto para o mês de junho.
Bate papo com Alice Carvalho, atriz e roteirista
Alice, há quanto tempo você vem cultivando a ideia de levar “Septo” para as telas?
O projeto surgiu em outubro de 2015, quando criei o argumento que deu origem ao roteiro. Inicialmente seria um curta, uma tendência dos realizadores locais, e como o segmento da websérie não existe fomos amadurecendo a proposta. Até para atingir um público maior (via internet com lançamento através da parceria com o portal Brasileiríssimos).
O discurso LGBT estava presente desde o início do projeto?
Não, o conflito maior seria da triatleta (presa a uma rotina que ela não gostava) com seu pai e sua busca por descobrir-se. Nesse meio ela teria um romance com uma pessoa mais livre, que funcionaria como válvula de escape. Como essa pessoa ainda não estava definida, se seria um homem ou uma mulher, resolvemos matar dois coelhos com uma cajadada só: falar dessa busca pelo encontro do íntimo, do eu; e mostrar um amor autêntico que independe de gênero, de sexo. Queremos que as coisas sejam encaradas de forma natural, se fomos observar o amor homoafetivo está por aí. Não incluímos um casal gay na trama para fazermos a linha ‘série legal sem preconceitos’, nem para dar lição de moral no público. Queremos naturalizar isso, não vamos levantar bandeiras que não forem autênticas.
E como foi acertada essa direção coletiva?
Além de fomentar e dar visibilidade ao que vem produzido aqui no RN, acredito ser uma forma de unir pessoas que trabalham com audiovisual. Aqui em Natal somos muito órfão, falta valorização, então somos um bando de órfãos – mas sem o discurso do coitadinho – querendo trabalhar junto. E a forma como cada um enxerga a realidade amplia as possibilidades de traduzir o que se passa com a personagem, os conflitos, os pensamentos.
Como funciona a parceria com o portal “Brasileiríssimos”?
Conhecemos o pessoal através do (produtor) André Maia (do Ateliê Bar e Petiscaria). Ele trabalha comigo no Coletivo Provisório (de teatro), também trabalha com a banda Plutão já foi Planeta, e já conhecia o Josué Veloso do Brasileiríssimos. Nos reunimos com ele, mostramos o projeto, disse que seria uma forma de lançar esse vertente audiovisual e ele topou na hora.
