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Bate-papo à distância

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Carlos de Souza – Especial para o Viver

A tarefa era das mais assustadoras. Entrevistar Danuza Leão, escritora super lida, cronista idem, mulher de Samuel Weiner, namorada de Antonio Maria, irmã de Nara Leão, um legítimo pedaço da história do Brasil que agora encanta o país com sua autobiografia intitulada Quase Tudo, Companhia das Letras, R$ 38,00, em que ela conta o sofrimento de uma mãe que perdeu o filho, jornalista famoso, Samuca Weiner; diz como trocou o marido poderoso por um assalariado boêmio e revela sua idade no final do livro, um dos segredos mais bem guardados de sua vida. Danuza Leão tem 72 anos  e atendeu minha ligação numa tarde qualquer deste setembro sem graça. Disse que eu retornasse a ligação mais tarde porque ela estava aparando as unhas do gato. Quando retornei estava bem humorada e a entrevista virou conversa. Ela contou como passou a escrever crônicas e foi da mesma forma com que as coisas vêm acontecendo em sua vida. Naturalmente. Ela é convidada para escrever algo e de repente todos ficam apaixonados pela sua forma de escrever, franca e direta. “Eu comecei no Jornal do Brasil e no mesmo dia no Estado de S. Paulo. Eu fazia uma crônica por semana, depois passei a fazer duas e  depois passei a fazer três. E também para revistas”.  Ela tem o fascínio dessas pessoas que viveram naturalmente o grand monde e não dão a mínima para isso. Aos 18 anos foi a primeira modelo brasileira a ir trabalhar na França onde namorou com o ator Daniel Gélin. Quando adolescente era comum a convivência com Di Cavalcanti e Vinicius de Moraes. Conversando com o jornalista Woden Madruga aqui na redação, fico sabendo que ele a viu um dia em Copacabana, no final dos anos 50. Woden vai participar da mesa com Danuza no Flipa e confessa uma grande admiração por ela. “Era uma mulher muito bonita”, diz ele. “Namorou com o jornalista Tarso de Castro e um dia os dois tomaram banho de mar nus na Bahia”. 

Danuza Leão participa do Flipa dia 24, autografa seu novo livro “Quase Tudo”Ainda muito jovem conheceu o jornalista Samuel Weiner, fundador do jornal Última Hora com quem teve os filhos Deborah (Pinky Weiner), Samuel (Samuca) e Bruno. Um casamento complicado em que Samuel Weiner estava cada vez mais dedicado ao jornal e ela cada vez mais envolvida com mundo da alta sociedade e pessoas do poder. Aí surgiu a paixão com Antonio Maria que estragou tudo com um ciúme desenfreado e ela foi para Paris com os filhos juntar-se ao marido.  Em uma vida tão veloz era quase impossível que ela não se envolvesse com drogas, a heroína e o champanhe corriam francos. “Hoje não bebo mais, não vou a festas. Fico em casa cuidando das minhas coisas, escrevendo, cuidando do gato. Saio para caminhar, fazer ginástica”. Uma mulher que sabe agora apreciar as coisas simples da vida. Ela foi também casada com o jornalista Renato Machado, mas  o fato de ele ser mulherengo estragou de vez o casamento.   

Antes de falar com Danuza eu tinha lido algumas entrevistas que grandes jornais e revistas fizeram com ela e notei que as perguntas eram sempre sobre sua vida privada. Passei ao largo, não quis perguntar sobre suas dores maiores, as mortes de seu entes queridos, Samuel Weiner, Nara Leão.  O filho Samuca Weiner, que era repórter da Bandeirantes, faleceu em um acidente em 29 de junho de 1983, eu lembro bem esse dia. Isso a atirou numa vertiginosa queda com o auxílio do álcool. Só com muito esforço é que conseguiu se livrar do vício, que ela substituiu com muito trabalho e dedicação ao ato de escrever. Decidi então só perguntar sobre seu processo de criação. Ela escreve compulsivamente. Prepara suas colunas e nos finais de semana se dedica a escrever os livros. Às vezes até esquece a passagem do tempo. “Um dia comecei a escrever no sábado e quando já era domingo à tarde estranhei que minha empregada não havia chegado ainda. Ela nunca falta sem avisar. Então liguei  e ela me disse, ‘mas hoje ainda é domingo’. Só então percebi que não tinha parado ainda de escrever”. Nesses momentos ela diz que ainda atende ao telefone, mas avisa logo que está ocupada e desliga em seguida.

Perguntei se ela vive do que escreve. Sim, seus livros vendem muito bem e tem as crônicas nos jornais. Mas Danuza Leão não é rica. Seu maior bem é o apartamento de três quartos onde mora no Rio de Janeiro.

Ela detesta ser chamada de literata, acha que crônica não é um gênero literário e diz que escreve o que vem à cabeça. Não gosta de ler livros, só lê jornais, mas seus livros fazem a delícia dos leitores brasileiros num país de analfabetos: As Aparências Enganam, Fazendo as Malas, Larousse dos Gatos, Na Sala com Danuza, Crônicas para Guardar, Danuza Todo Dia e este delicioso Quase Tudo.

No final de nossa conversa ela perguntou se Pipa era uma praia bonita. Eu disse que era uma Búzios piorada . Ela disse, “como assim?” Muito selvagem ainda, respondi. Ela respondeu, “é assim que eu gosto. Diga aos organizadores que quero ficar o final de semana lá”. Era a resposta de uma mulher que já viveu com o high society brasileiro com suas praias de luxo e ri dessas pessoas.

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