bate-papo
Jean Paul-Prates, diretor-geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE)
Em Mossoró, seis empresas que atuavam na cadeia de petróleo e gás passarão também a atuar na cadeia de energia eólica. Como enxerga esse tipo de iniciativa?
O pessoal tem um grande mérito que é a grande capacidade de aprender e improvisar (no bom sentido) rápido e sobretudo de resistir a “mudanças de vento”, literalmente. No setor de petróleo há ciclos de “vacas gordas e vacas magras” a todo momento. Mossoró, mais do que nenhuma outra cidade, sabe o que é isso. Portanto, buscar novos nichos ou especialidades faz parte de quem tem este bom perfil. Além disso, é normal que empresas de outros segmentos gradualmente migrem para os setores renováveis – como evolução de sua trajetória de crescimento. Até com as grandes acontece isso. A Alstom, empresa francesa de grande porte, hoje envolvida em fabricar turbinas eólicas, atuava tradicionalmente no setor nuclear, na confecção de reatores nucleares.
Os empresários estão buscando alternativas para enfrentar o desaquecimento da produção de petróleo e manter o faturamento. Iniciativa como essa pode reduzir a dependência que o Estado tem do petróleo e gás?
Temos que fazer isso! Não é só o empresário mossoroense que tem que se preparar para depender menos da indústria do petróleo local. Todos nós temos que fazer isso. Grito isso há anos a fio. Quem não quiser enxergar a realidade, aposte o contrário. Nosso setor petrolífero ainda tem muito o que desenvolver pela frente, mas será algo muito mais multi-setorizado e geograficamente espalhado. Não acabou o petróleo – mas o esforço para manter os níveis de reservas e produção será cada vez maior. Isso exigirá mais especialização e ainda mais persistência e capacidade financeira para aguentar os trancos das fases de baixa. Por isso a diversificação, para alguns, faça sentido. Para outros, buscar outras perícias e tecnologias relacionadas com outras regiões também é um tipo de diversificação muito válida.
Há espaço para novos empreendedores no ramo de construção de parques eólicos no Estado?
Há espaço de sobra. O RN é um gigante dos ventos. E, ao lado do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Piauí e Maranhão forma a maior “bacia de vento” do Brasil e uma das três maiores do mundo – entre as economicamente viáveis. Portanto, há e continuará havendo mercado para equipamentos e profissionais desta indústria nas próximas décadas, embora estejamos sempre sujeitos a períodos mais difíceis em função de intempéries normalmente de natureza político-administrativa.
Quantas fábricas de torres temos?
No RN, somente uma fábrica de torres de concreto da Wobben, instalada no município de Parazinho. Trata-se de uma fábrica itinerante, montada para atender construções em curso.
Por que não temos mais fábricas desse tipo?
Há vários fatores que influenciam. Mas o caso do RN é principalmente a logística.