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Bento XVI inicia visita a Cuba

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Havana – O Papa Bento XVI desembarcou no início da tarde de ontem em Santiago, segunda maior cidade cubana, iniciando uma visita oficial de três dias a um dos poucos países ainda regidos pela. A programação incluía a celebração de uma missa em homenagem ao 400º aniversário de aparição da Virgem da Caridade do Cobre, na praça central de Santiago.
Bento XVI chega a Santiago e é recebido pelo presidente Raúl Castro
Nesta terça-feira, o Papa faz uma visita ao santuário da Virgem da Caridade e embarca para a capital, Havana, onde tem encontro com o presidente do Conselho de Estado e do Conselho dos Ministros da República no Palácio da Revolución de Havana, Raúl Castro. Na ilha, especula-se também um possível encontro dele com o ex-presidente cubano Fidel Castro.  À noite, o pontífice de 84 anos de idade, tem encontro com os bispos cubanos.

No desembarque, Bento XVI, lembrou a visita histórica de seu antecessor, João Paulo II, em 1998, que “deixou uma marca indelével na alma dos cubanos” e destacou que a visita anterior desobstruiu os caminhos para um melhor relacionamento entre a Igreja e o Estado cubano, caracterizado por um espírito de maior colaboração e confiança entre ambos.

“De fato, a sua passagem pela Ilha foi uma espécie de brisa suave de fresca aragem que deu novo vigor à Igreja em Cuba, despertando em muitas pessoas uma renovada consciência da importância da fé e encorajando a abrir os corações a Cristo, ao mesmo tempo que reacendeu a esperança e revigorou o desejo de trabalhar corajosamente por um futuro melhor.

No discurso, o Papa disse ainda que a devoção à “Virgem Mambisa” sustentou a fé e encorajou a defesa e promoção de tudo o que dignifica a condição humana e dos seus direitos fundamentais; e hoje continua fazê-lo ainda com mais força, dando assim testemunho visível da fecundidade da pregação do Evangelho nestas terras e das profundas raízes cristãs que configuram a identidade mais genuína da alma cubana.”

Para Arturo López Levy,  professor da Universidade de Denver, nos Estados Unidos, há uma diferença grande entre a Cuba visitada por João Paulo e a de agora, que recebe Bento XVI:   “Em 1998, João Paulo II conheceu uma Cuba onde a paralisia antimercado e a perpetuação ideológica da guerra fria em ambas as orlas do Estreito de Flórida, propiciaram um agregado crescente de problemas; Bento XVI chegará a uma ilha em transição onde, tanto o estado como a sociedade civil, fazem propostas para enfrentar essa crise, que dura já mais de 20 anos.

MÉXICO

Bento XVI se despediu do México no final da manhã de ontem pedindo aos mexicanos que exerçam sua fé contra a pobreza e a violência ligada às drogas. O chefe da Igreja Católica transmitiu sua mensagem sob a sombra do monumento Cristo Rei, um dos mais importantes símbolos do cristianismo mexicano, que relembra o levante católico romano da década de 1920 contra leis que proibiram serviços religiosos públicos, como o celebrado pelo papa.

O papa sobrevoou o monumento num helicóptero militar mexicano Superpuma quando se dirigia para o Parque Bicentenário, onde entrou no papamóvel em meio a uma multidão entusiasmada, estimada em 350 mil pessoas.

Geralmente visto como austero e reservado, Bento XVI encantou o país que adorava seu carismático antecessor, João Paulo II, ao usar um sombreiro de abas largas, com o qual foi conduzido ao altar do ensolarado parque. Antes da cerimônia, o local estava movimentado, com as pessoas tirando fotografias com seus telefones celulares e distribuindo comida. Quando a missa começou, todos ficaram silenciosos, alguns ajoelhados, olhando para o altar e para os telões.

Esperando Bento XVI

Arturo López Levy – Professor das Universidades de Denver e Colorado, especializado na política norte-americana até Cuba e América Latina

Denver (Adital) – Nesta segunda-feira,  Bento XVI chegará a Santiago de
Cuba. O Papa encontrará um país em transformação, não só nas reformas
econômicas impulsionadas pelo governo de b, mas também pelas mudanças
sociais que a Ilha e suas Diásporas têm vivido na última década. Em
1998, João Paulo II conheceu uma Cuba onde a paralisia antimercado e a
perpetuação ideológica da guerra fria em ambas as orlas do Estreito de
Flórida, propiciaram um agregado crescente de problemas; Bento XVI
chegará a uma ilha em transição onde, tanto o estado como a sociedade
civil, fazem propostas para enfrentar essa crise, que dura já mais de 20
anos. Um consenso nacional advoga por avançar para padrões
internacionais de direitos humanos e uma economia mista.

Neste contexto a visita papal contribui à agenda do governo cubano em
três níveis: a) consolida o diálogo institucional entre a administração
de Raúl Castro e a Igreja Católica, criando incentivos para que esta
última participe de forma ordenada na renovação do sistema vigente, b)
contribui para criar um ambiente internacional favorável aos projetos de
abertura e reforma ainda sem abandonar o regime de apenas um partido e
c) reforça a imagem de um país em transição frente ao qual se elevam os
custos da rígida posição norte-americana de isolamento contra a Ilha.

Um elemento central da adaptação estratégica da Igreja Católica para a
defesa das liberdades religiosas, dentro do sistema pós-revolucionário
tem sido a sequência na recuperação de espaços sociais. Diferente à
oposição política radical que, através de atos dramáticos (como as
recentes ocupações de paróquias pelo quase desconhecido Partido
Republicano de Cuba, apoiadas desde Washington pelo cubano-americano de
direita Mauricio Claver-Carone para “aguar a festa do Cardeal Ortega”),
reivindica a aceitação de um pluralismo mal organizado sem relevância
popular, a Igreja recupera gradualmente espaços sociais, e depois,
negocia o reconhecimento dos mesmos. O Episcopado cubano reivindicou o
direito a peregrinar da Virgen de la Caridad pelos povos de Cuba depois
que a presença de fiéis transbordava as paróquias, não antes.

A Igreja quer expandir sua presença social, de um nacionalismo leal, no
qual seus valores, interesses e ideais são reconhecidos como legítimos,
ainda que sejam diferentes dos postulados pelo Partido Comunista no
governo. Nesse sentido, desde a visita do papa João Paulo II em 1998, a
Igreja tem expandido seu papel na assistência social, no combate à
pobreza e desamparo, e na formação das novas gerações.

Sua extensa rede tem contribuído na ampliação das liberdades religiosas,
de reunião e expressão na Ilha. Desde a ascensão ao poder de Raúl
Castro, com seu novo estilo de governo, a Igreja também tem dado voz às
propostas de reformas e aberturas graduais. Um importante questionamento
é se além do novo Seminário católico, o governo reconhecerá
oficialmente novos centros de formação e elaboração de pensamento
social-cristão, como é o caso do Centro Cultural Padre Félix Varela,
permitindo-lhes desenvolver sua tarefa em condições de normalidade.

Nas propostas que circulam na “esfera pública” da Ilha é possível
rastrear um arco ideológico diverso. As comunidades religiosas advogam
por um diálogo inclusivo com movimentos de reivindicação feminina,
ambientalista, de defesa dos consumidores, e dos setores
afrodescendentes. O gerenciamento eficaz desta pluralidade, no presente,
está diretamente conectado com a capacidade de garantir a
governabilidade futura em Cuba. É por isso que facilitar o diálogo e a
civilidade ente cubanos de posturas políticas diversas constitui um eixo
central de diferentes atores nacionais, incluídas as comunidades de fé.

A visita papal deve consolidar o papel social das comunidades religiosas
como participantes ativos na gestão de um novo modelo econômico-social
cubano. A expansão do gerenciamento das comunidades religiosas não se
limitará à Igreja Católica, pois as portas abertas pela mesma serão
usadas pelos outros grupos de fé. A preparação desse novo modelo deve
resultar em um trânsito para um sistema político mais pluralista e uma
economia com maior participação do mercado sem perder o importante setor
de benefício social na educação e saúde, desenvolvido nas últimas
décadas.

O diálogo do presidente Raúl Castro com a Igreja Católica em seu mais
alto nível, através do Sumo Pontífice, e o Cardeal Ortega elevará o
perfil dos Bispos como interlocutores legítimos dentro do sistema
político cubano. Tal passo tem consequências no interior do Partido
Comunista, onde existem setores que mantêm suspeitas contra qualquer
tipo de pluralismo não comunista, inclusive para organizações como a
Igreja Católica, com posturas de clara rejeição às tentativas
intervencionistas associadas à política norte-americana derivada da Lei
Helms-Burton.

Outro passo simbólico bem-vindo será a proclamação do padre Félix Varela
na condição de “venerável”, pois com este gesto se eleva o
independentismo fundacional e o enfoque gradual-reconciliador a opção
preferida da Igreja cubana na véspera do 160º aniversário de sua morte
em 2013.

É outro sinal que expressa as potencialidades de uma narrativa histórica
nacionalista, não isenta de desafios e limites, promovida de modo não
partidário, pela organização maior e importante da sociedade civil
cubana. Esta visita a Cuba do Bispo de Roma, diferente do ocorrido em
1998 com o Papa Wojtyla, contou com o apoio entusiasta do Bispo de Miami
Thomas Wenski e vários bispos cubano-americanos como Felipe Estévez de
St. Augustine, onde faleceu o Padre Varela em 1853. A presença de
cubanos emigrados na ilha a propósito da visita papal e o ano jubileu de
2012, acelerarão as aberturas que têm lugar de modo gradual dentro da
sociedade cubana, nas relações entre Cuba e sua Diáspora e no lucro de
um ambiente internacional mais favorável aos processos de mudança em
Cuba.

Em concordância com sua doutrina social, a Igreja cubana é um nó
articulador entre setores cubanos nacionalistas e partidários da justiça
e a equidade na ilha e a diáspora, no governo e fora do mesmo. A
normalização de espaços de pensamento da Igreja Católica, para expressar
um nacionalismo responsável, de oposição leal ou apoio condicionado,
favorece a expansão gradual do pluralismo já existente. Tal postura
contém uma implícita rejeição às propostas radicais de estadismo
totalitário e capitalismo neoliberal. A visita de Bento XVI contribuirá
para que a Igreja avance em seu gerenciamento de reconciliação, a favor
do desenvolvimento, da abertura gradual e da moderação.

[Artigo escrito com Lenier González,
vice-editor da revista Espacio Laical do Conselho de Laicos da
Arquidiocese de la Habana. Se graduou em Comunicação Social na
Universidade de La Habana.


Fuente y traducción: Infolatam – http://www.infolatam.com.br]

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