Ramon Ribeiro
Repórter
A música afrobrasileira, aos poucos, vem ganhando leituras contemporâneas. Novos expoentes da cena musical do país se debruçam sobre nomes esquecidos como Pedro Santos e Os Tincoã. Imerso nesse caldeirão de ritmos está a Bixiga 70, banda paulistana revelação da cena instrumental brasileira, que desembarca em Natal pela primeira vez.
O show acontece no Warm Up Festival, versão de aquecimento do Festival Dosol 2015 (já confirmado para o final do ano). A apresentação dos paulistanos será no domingo (17), a partir das 18h, no Pepper’s Hall. A banda potiguar Mahmed abre a programação.
Duas guitarras, uma bateria, um baixo, um teclado, dois percussionistas, um sax barítono, um sax tenor, um trombone e um trompete.
Uma big band instrumental de peso que reúne dez músicos com longa estrada na cena musical de SP – com passagens pelos grupos de Anelis Assumpção, Emicida, Rodrigo Campos e Funk como Le Gusta, para citar alguns.
Formado há cinco anos, o Bixiga 70 surgiu com o intuito de explorar o território de fusão da música instrumental africana, latina e brasileira. Seu nome está ligado ao estúdio de onde surgiu, na Rua Treze de Maio, número 70, no coração do Bixiga, bairro tradicional de São Paulo.
A banda tem três discos no currículo, o último foi lançado em abril deste ano, homônimo como seus antecessores, e segue a mesma linha de continuidade conceitual e artística.
A influência do afrobeat – bastante citada nas críticas do primeiro disco, de 2011, e no segundo, de 2013, – no álbum mais recente se dilui num caleidoscópio de novas referências, como candomblé, a música malinké do oeste africano, hip hop, funk latino, cena Black Rio dos anos 70 e a música de rua dos carnavais brasileiros, das ruas de São Luís do Paraitinga às ladeiras de Olinda.
Foi a primeira vez que todo o processo de produção ficou inteiramente nas mãos do grupo. Em entrevista ao VIVER, Cris Scabello, um dos guitarristas do grupo, destacou, a forma coletiva e horizontal de criação do disco, “de modo a preservar a liberdade criativa do conjunto”, disse.
O trabalho também foi influenciado pelas viagens do grupo, que já se apresentaram nos Estados Unidos, Europa e a primeira vez na África, no Festival Mawazine, no Marrocos.
Depois de Natal o grupo segue sua turnê de lançamento do disco. “O plano é continuar tocando, produzindo, gravando. Sem expectativa de estouro de uma hora pra outra. Nosso maior interesse é pelo processo, pelo caminho”.
O Bixiga 70 também prepara dois documentários. Um deles, sobre a turnê que o grupo fez pela cidade de Nova York em 2014, será lançado até julho deste ano.
Já o outro filme fala da história da banda. Este último, todavia, ainda não tem data para ser finalizado.
Bate papo
Cris Scabello,
guitarrista
Cris, com base na trilogia, poderia dizer o que mudou do primeiro para o terceiro disco?
CS: O disco atual está mais brasileiro. Os anteriores formaram a identidade da banda. Nos deixaram mais maduros. No novo fomos bem além do afrobeat. Outro diferencial é que tínhamos mais experiência tocando juntos.
Como foi o processo de criação do disco novo?
Por contrato com a nossa gravadora, tínhamos que entregar um disco novo. Então depois da turnê europeia, no ano passado, acabou sobrando um mês e meio para produzi-lo. Começamos tudo do zero, obedecendo nosso processo que é coletivo e horizontal de composição de arranjos. Estávamos musicalmente férteis depois da viagem. Cuidamos de todo o processo: produção, composições, gravação. Tudo no nosso estúdio.
Vocês são uma banda instrumental, não é fácil alcançar um grande público como vocês estão fazendo. A que você atribui isso?
Para muitos, a figura central de um cantor é mais atraente. Mas pra gente isso nunca atrapalhou. Acho que o fato de sermos uma banda instrumental só conta a favor. Sempre fomos muito seguros com relação a isso. O foco é jogado nos arranjos, na música apenas. As pessoas querem dançar mais que olhar para o palco.
E no exterior, como tem sido a repercussão ao trabalho de vocês?
No exterior tem sido muito produtivo. Para o público não existe a barreira da língua, o que torna nosso som mais acessível.
Quem
“Bixiga 70”, o disco, é um aprofundamento das raízes da banda que remetem aos pontos de candomblé, à música malinké, hip hop, funk latino, cena Black Rio dos anos 70 e à música de rua dos carnavais brasileiros O disco completa a trilogia com os primeiros álbuns.