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Bruxismo pode causar sérios danos aos dentes e à mandíbula

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Isaac Ribeiro – repórter

Se você está acordando com dor de cabeça, cansado, sentindo os músculos da face doloridos e tem percebido um certo desgaste nos dentes, é bom ficar atento e procurar logo um especialista. Você pode estar com bruxismo, disfunção causada por um série de fatores, principalmente estresse, depressão e ansiedade. Mas não só por isso. Os chamados hábitos parafuncionais — aqueles que não têm função nenhuma de benefício para o organismo, como mascar chicletes, roer unhas e até ver televisão com postura incorreta — também podem causar o problema.

De acordo com uma pesquisa inédita, divulgada durante o Congresso Internacional de Odontologia, realizado em fevereiro, na cidade de São Paulo, o bruxismo atinge 30 milhões de pessoas no Brasil.

Distúrbio comportamental é provocado principalmente por estresse e ansiedade, sendo as mulheres, na faixa etária entre 15 e 35 anos, as mais afetadasCaso não seja tratada, a disfunção pode causar grande desgaste e até a perda dos dentes, sem falar no encurtamento dos músculos faciais e lesões nas articulações da mandíbula. Não é para menos… Quem sofre desse mal chega a contrair e apertar os dentes por cerca de 12 mil vezes durante a noite. O normal seria algo em torno das 280 vezes.

Todo mundo pressiona um pouco os dentes quando está nervoso, é normal. O que não está certo é fazer isso de forma compulsiva, repetidas vezes, e de forma inconsciente durante o sono. Apesar de o bruxismo ser observado em pacientes de todas as idades,  a incidência maior é em mulheres, principalmente aquelas na faixa entre 15 e 35 anos.

De acordo com o especialista em reabilitação oral, Rodrigo Sousa, cerca de 70% das pessoas apresentam algum sinal de bruxismo. “É uma coisa que atinge quase todo mundo.” A professora de História, Bruna Rafaela de Lima, 28 anos, teve bruxismo e lembra ter sofrido bastante. “As dores de cabeça eram fortes demais e constantes. Sentia dores também na região facial e na do pescoço, descendo para os ombros. Quando acordava, era terrível, pois parecia que tinha passado a noite em claro. Tudo isso, acompanhado com muitas dores nas articulações e indisposição”, relata.

Alguns pais podem ficar preocupados com o ranger de dentes de seus filhos pequenos. Mas a literatura médica relata ser algo normal, principalmente na fase da dentição mista. “Isso acontece, mas não é motivo para desespero. Mas é bom procurar logo um odonto-pediatra”, esclare Rodrigo.

Por ser um problema multifatorial, o tratamento requer uma equipe formada por vários profissionais, entre dentista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e psicólogo. O primeiro passo para o diagnóstico é uma conversa franca sobre hábitos de vida com o objetivo de identificar situações que possam estar provocando o distúrbio.

A origem do nome bruxismo vem do fato de os antigos acreditarem ser o ranger de dentes noturno obra de feiticeiros ou bruxas. Alguns chegavam até a fazer um orifício no alto do crânio dos afetados pelo problema para que por ali a bruxaria deixasse o corpo.

Se não for tratado logo, o bruxismo pode causar danos irreparáveis ao sistema estomatognático, ou seja dentes, estruturas ósseas, músculos, articulações, glândulas e sistemas vasculares, linfáticos e nervosos. Isso sem contar com problemas psicológicos e vícios posturais, já que a boca e o próprio rosto começam a ficar deformados. É preciso identificar e tratar o problema o mais rápido possível.

Como o bruxismo é um distúrbio comportamental, relacionado a problemas de estresse e ansiedade, principalmente, o primeiro passo para o tratamento é identificar justamente quais as situações estressantes da vida do paciente. Para tanto, o dentista deve fazer uma investigação completa com o paciente, buscando saber seus hábitos de vida e histórico.

“Temos que conversar bastante com o paciente. O exame clínico consiste numa anamnese bastante profunda, porque eu quero descobrir o nível de ansiedade envolvido no problema; quero descobrir hábitos parafuncionais; saber a profissão da pessoa, porque ela pode ter uma atividade que a leva a ficar  muito tempo curvada, estressada… Eu quero conhecer a pessoa. Vamos tentar descobrir o nível do envolvimento no aspecto psicológico”, explica Rodrigo Sousa, especialista em reabilitação oral.

Mas nem sempre isso é possível no primeiro encontro, daí o tratamento ser demorado em alguns pacientes. Estabelecido o diagnóstico, é hora de iniciar o tratamento. Geralmente, ele é feito através da confecção de um aparelho chamado placa de oclusão, moldado a partir da arcada dentária da pessoa. Colocado na hora de dormir, o dispositivo impede o desgaste dos dentes.

“A placa protege os músculos, a  articulação temporo-mandibular (ATM) e vai funcionar também como um elemento psicológico. Logo ao colocar o aparelho, automaticamente, a pessoa está se conscientizando que ela tem aquele problema. E isso acaba, de certa forma, tendo influência no aspecto psicológico”, comenta o especialista.

O jornalista Yuno Silva, 35 anos, foi diagnosticado com bruxismo quando tinha 27. Ele suspeita ter tido o problema quando garoto, pois seu irmão mais novo também teve. “Fui ao dentista, que viu o desgaste nos meus dentes e confirmou ser bruxismo. Nas crises, não conseguia nem abrir a boca. Até hoje meus caninos são desgastados”, comenta ele, que teve que usar a placa de oclusão.

Ele acredita não ter mais o problema e, hoje, toma alguns cuidados específicos, procurando se afastar de situações estressantes, principalmente antes de dormir. “Posso até ter ainda hoje, mas não sei. Pelo menos a minha companheira não reclama de eu ranger os dentes à noite.” 

MASSAGENS E RELAXAMENTO

Mas como é causado por diversos fatores, o bruxismo também deve ser tratado por profissionais de outras áreas, principalmente da fonoaudiologia, um fisioterapia e um psicologia. É comum haver uma espécie de rodízio durante o tratamento, com encaminhamentos de um médico para outro. Além das dores e comprometimento do mastigar, as deformações causadas nos dentes acabam com a autoestima e geram depressão. Na avaliação da psiquiatra Paula Borba, as pessoas com bruxismo possuem uma espécie de termômetro psicológico na boca, que reflete as tensões cotidianas. “Um passo importante para tentar curar ou pelo menos diminuir o problema é cortar a tensão psicológica. Isto pode ser feito através de esportes, ioga e exercícios de relaxamento. Já distúrbios psiquiátricos, como depressão e ansiedade, devem ser avaliados e medicados se necessário”, diz Paula, atestando ainda ser o bruxismo causado 100% devido ao estresse.

Já a fonoaudióloga Tatiana Seabra trabalha as consequências do encurtamento e as dores musculares resultantes do mastigar noturno. Entre as consequências disso ela cita reações como dor de cabeça, enxaqueca, fadiga nos músculos da boca, dor na cervical e na nuca. Ela realiza série de alongamentos e relaxamento nas áreas atingidas, principalmente no músculo masseter, responsável pela mastigação.

O número de sessões, porém, depende de cada caso, e os exercícios também devem ser feitos em casa. “Se você passar a semana inteira sem fazer exercício e teve bruxismo durante a semana toda; então, vou ter que relaxar novamente aquela musculatura, pois ela já tensionou de novo”, explica ela, dizendo atender muitos casos de bruxismo em seu consultório.

COMO DETECTAR

Um exame chamado polissonografia pode detectar o problema, pois registra todas as reações durante o sono. Mas ele pode ser dispensado caso haja relatos de pessoas que dormem no mesmo ambiente de quem sofre de bruxismo. Isso sem falar no desgaste dos dentes.

FORMAS DE EVITAR

O bruxismo não pode ser prevenido, mas há formas de combater os fatores que o causam, principalmente situações de estresse antes de dormir. Os especialistas recomendam não assistir televisão antes de adormecer, ouvir música suave, tentar esquecer os problemas cotidianos e recorrer a tudo que favoreça o sono, inclusive tornar o ambiente escuro e muito confortável. 

TRATAMENTO

à Placa de proteção

Feita de acrílico e silicone e moldada sobre os dentes pelo dentista, deve ser usada ao dormir. Ela impede a pessoa ranger os dentes, permitindo apenas que as arcadas se encostem, mas sem prejuízos e desgastes. Após um ano, é feita uma avaliação para identificar a necessidade de continuar usando a placa protetora. Vale ressaltar que ela combate o ranger de dentes, um dos efeitos do bruxismo, mas não as suas causas.

à Terapia

Muita vezes uma avaliação psicológica se faz necessária para combater as causas emocionais do bruxismo. Geralmente, o paciente só controla o problema quando resolve seus problemas emocionais.

à Medicamentos

Relaxantes musculares e calmantes para dormir costumam ser prescritos pelos médicos.     

Bate-Papo» Rodrigo Sousa, especialista em reabilitação oral

Como a pessoa percebe se tem bruxismo?

Quando a pessoa acorda com cansaço muscular, já que passou a noite toda pressionando os dentes. Às vezes a pessoa tem enxaqueca, cefaleia ao acordar, cansaço muscular na região temporal. E o bruxismo é cíclico. Durante um momento da vida ele se manifesta, depois some. Geralmente, está associado ao estresse, à ansiedade.

Se o problema é cíclico, significa dizer que não há uma cura definitiva?

Não existe um tratamento que se diga: “Vou curar você! Vou tirar o bruxismo de você”. Não, porque é um hábito e não tem como extrair isso da pessoa. Mas o tratamento busca minimizar esses efeitos através do tratamento psicológico, terapia, mudança de hábitos; às vezes hábitos de postura, coisas do dia a dia mesmo, como por exemplo você inserir na sua rotina a natação, a caminhada, você ter um momento para a família, coisas que melhoram a condição de vida da pessoa.

É verdade que até mesmo a posição em que a pessoa costuma ver tevê pode causar o bruxismo?

É tudo uma questão de postura. Não é legal você estar deitado na cama assistindo televisão, principalmente se você passa muito tempo naquela posição que não é a adequada.

Há alguma relação entre aparelho ortodôntico e bruxismo?

O que ocorre é que às vezes a pessoa imagina que está rangendo os dentes e que por isso ela precisa colocar um aparelho ortodôntico para corrigir a posição dos dentes e se retrata ao bruxismo. Seria uma visão muito específica achar que só a questão da oclusão está relacionada como fator principal para desencadear o bruxismo. Uma coisa que deve ficar clara é que não é só a questão do dente, porque ele está mal posicionado, ou está faltando um dente, e isso aí vai desencadear o problema. Ele é multifatorial. A pessoa range porque tem um aspecto psicológico envolvido, entre muitos outros…

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