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Buraco da Catita no meio do caminho

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Yuno Silva
repórter

O buraco está fechado. Mas não para todos. Desde o começo do mês os frequentadores do Buraco da Catita, um dos lugares mais movimentados da Ribeira e reduto certeiro para quem quer curtir e conhecer a boa música instrumental produzida em Natal, vem topando com a nova configuração do local: agora, para o público apreciar as atrações musicais que ilustram as noites no bairro histórico, é preciso pagar ingresso. Até aí tudo bem, não  fosse o fato de ter isolado o acesso a travessa José Alexandre Garcia. Em vez do simples ir e vir do público, há uma grade instalada fechando o calçadão lateral. É necessário pagar o couvert adiantado de R$ 5 para entrar. Se por um lado trata-se de mais uma das tentativas de manter o lugar funcionando, do outro existe o questionamento do público quanto a restrição da passagem pública e da forma como foi feita: à revelia.
Buraco da Catita surgiu há três anos com a proposta de valorizar o chorinho e o samba. O caminho seria se transformar em Ponto de Cultura, mas problemas financeiros mudaram os rumos do espaço
Ocupar parte da calçada é aceitável em muitos lugares, como o boêmio bairro da Lapa no Rio de Janeiro e mesmo em Paris, onde os cafés derramam suas mesas pelos largos calçadões, mas nada pode ser feito sem uma organização mínima: é preciso ter licença específica para um estabelecimento instalar mesas na área externa – porém, há um ponto nevrálgico neste imbróglio que divide opiniões: não há uma lei em Natal para regular esse tipo de ocupação, e já há jurisprudência se verificarmos que bares e restaurantes do bairro de Petrópolis já se utilizam desse expediente. Soma-se a isso o fato de que mais de 70% do público, segundo dados dos administradores do Buraco da Catita, consumir bebidas dos ambulantes que montam banca nas proximidades.

“Não temos como manter o espaço aberto se não houver receita. As pessoas querem ouvir música, usar o banheiro mas não colaboram com o negócio – aí fica difícil!”, disse Camilo Lemos, instrumentista e um dos sócios idealizadores do Buraco da Catita ao lado do arquiteto e músico Marcelo Tinoco, proprietário do imóvel. “O público diminuiu, e a apuração do bar nunca foi suficiente para tornar a coisa viável. Temos que pagar as contas, investir, cuidar da manutenção, mas não estávamos conseguimos nem pagar o aluguel conforme combinado com Marcelo – nosso mecenas”, lamenta Lemos. “E a maneira que encontramos para continuarmos com a qualidade da programação foi cobrar o couvert antecipado”, justifica.

Desde que começou a funcionar há cerca de três anos, em um antigo imóvel da rua Câmara Cascudo (antiga rua das Virgens), o Buraco da Catita vem buscando alternativas para não fechar as portas. Começou com projeto musical e tinha um potencial para, no futuro, virar um Ponto de Cultura em 2009, com a abertura de edital da Fundação José Augusto para novos pontos, o que não ocorreu. “Não há incentivo por parte do poder público, e se não fosse nosso investimento pessoal já teria fechado”, garante Camilo, que não formalizou pedido de licença junto a prefeitura para restringir o trânsito de pedestres no passeio público.

“Quero deixar claro que não estamos bloqueando a passagem, quem quiser atravessar pode, o que estamos é evitando a permanência das pessoas na área em frente ao Buraco da Catita sem o pagamento de couvert”, disse. “Cansei de pedir ajuda no microfone, dizer para as pessoas consumirem no nosso bar, estava ficando chato tanto pra mim como para os clientes. Como fui informado de que não há esse tipo de licença previsto em lei aqui em Natal, estou atrás da liminar que permitiu esse fechamento parcial na Lapa (Rio de Janeiro) para entrar com o processo”, adianta Camilo. “Além do problema com os ambulantes, temos que prezar pela segurança dos nossos clientes”, complementa Chico Bethoven, músico e parceiro de Camilo Lemos e Marcelo Tinoco durante este mês de agosto.

Bom-senso

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou o setor de operações da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb). Sueldo Medeiros, adjunto da Semurb e responsável por essa fiscalização, disse que o caso está sendo analisado pela secretaria e que a fiscalização irá fazer uma visita no estabelecimento no sentido de esclarecer e tenter organizar a ocupação. “Quando a calçada é larga, é possível ocupar parte do espaço com mesas, mas é necessário deixar um espaço livre de no mínimo 1,20 metro de largura para o livre trânsito de pessoas. Claro que há outros condicionantes como a quantidade do fluxo de pessoas, as questões de acessibilidade, e se tudo for atendido de forma satisfatória esse limite mínimo pode ser considerado e aceito. Temos que usar o bom senso, pois não temos legislação específica, o que não podemos deixar é que tudo seja feito à revelia”, ponderou Sueldo. “Na primeira fiscalização não vamos autuar ou multar, e sim orientar, educar, conciliar”, avisa.
Buraco da Catita fecha parte da Travessa Alexandre Garcia, de quinta a sábado, e divide opiniões do público
Dono do Neruda entrará como sócio do Espaço

A partir de setembro, um novo sócio entra em cena no negócio: o empresário Marcelo ‘Patinha’ Freire Lima, que já toca um café e o restaurante Neruda, em Petrópolis. A estreia está prevista para 9 de setembro e há fortes indícios de que uma cervejaria irá entrar com fornecedora exclusiva. “O diferencial do Buraco da Catita é o charme da Ribeira, o clima informal e a programação musical de qualidade do lugar, e isso vamos manter”, adianta Marcelo, que tabelou o novo couvert em R$ 10 a partir do próximo mês. “Os artistas potiguares precisam ser valorizados e a intenção é preservar o nível das apresentações: as sextas e os sábados continuarão com sua programação normal – choro e roda de samba respectivamente –, mas as quintas-feiras de jazz vão ficar em stand by”. Segundo o empresário, neste primeiro momento a casa vai abrir esporadicamente às quintas  sem uma programação fixa. “E no primeiro domingo de cada mês vamos continuar integrados ao projeto Circuito Cultural Ribeira”, garante.

Sobre a questão da ocupação da calçada, Marcelo Freire chama atenção para o que já ocorre em Petrópolis e diz que a estrutura montada na área externa não pode atrapalhar os pedestres. “Se por ventura for proibido vamos respeitar a determinação, mas será um prejuízo para o público”. A única mudança prevista são melhorias nos banheiros e na cozinha. “O que queremos, com a parceria, é oferecer um pouco mais de conforto aos clientes”, finaliza o empresário.

Palco de grandes eventos

O Buraco da Catita surgiu há mais de três anos como iniciativa de músicos e apaixonados pela cultura musical brasileira, que se encontraram em alguns dias da semana para tocar chorinho no Beco da Lama.  Logo as rodas se expandiram e foi necessário se mudar para o histórico bairro da Ribeira, em torno de um velho casarão que serve de apoio (serviço de bar e banheiros) para o público que vinha atraído pela boa música. Em pouco mais de um ano, vários projetos foram produzidos com sucesso nesse espaço, como o Ribeira de Pau e Corda, a Gafieira do Catita e os centenários de Cartola e Noel Rosa, este último após a reforma realizada pela Prefeitura em 2010, que construiu o calçadão e iluminou o espaço. O lugar também foi palco de shows memoráveis como o do trombonista Raul Souza, realizado durante o Encontro Brasileiro de Trombonistas, e o lançamento do DVD do baixista potiguar Sérgio Groove. O Carnaval de 2011 celebrou o espaço como um lugar aglutinador de público, por onde passaram as troças e blocos.

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