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Campus do Cérebro fica pronto em 2014

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Gabriela Freire – Repórter

O Campus do Cérebro que vai abrigar o Centro de Pesquisas e a Escola Lygia Laporta deverá ficar pronto só no segundo semestre de 2014. A obra começada em 2010, tinha prazo inicial de 12 meses para conclusão e recursos da ordem de R$ 36 milhões, exclusivamente públicos. A previsão de recursos empregados na construção aumentou, junto com o novo prazo: R$ 46 milhões. A verba é oriunda do Ministério da Educação (MEC). Os planos preveem que após a construção e inauguração, haverá a assinatura de uma cessão para o Instituto Internacional de Neurociências (IINN), dirigido por Miguel Nicolelis.

Os contratempos enfrentados no início da obra e a falta de projetos específicos são os principais motivos para o atraso na entrega do campus, explica o superintendente de Infraestrutura da UFRN, Gustavo Fernandes  Rosado Coelho. Ele reconhece que já era previsto o insucesso do cronograma inicial diante da dimensão da obra. A empresa que iniciou a construção enfrentou uma série de dificuldades muito peculiares. “Devido a dimensão e complexidade da obra. Por se tratar de uma zona rural, foi preciso providenciar intervenções para fornecimento de água e energia. Tiveram também os problemas com a topografia do terreno”, lista.

Todos esses foram problemas enfrentados nas etapas que antecederam o início das obras. Os problemas atuais contemplam a abertura de processos licitatórios para complementar itens da obra como a elaboração de projetos para as cozinhas e refeitórios da escola e para os laboratórios do centro de pesquisa. O atraso na entrega do projeto foi alvo de crítica feita pelo cientista Miguel Nicolelis.

O superintendente de infraestrutura da UFRN afirma que a universidade está investindo esforços para concluir a obra. Segundo Gustavo  Coelho a demora no Centro de Pesquisa diz respeito a falta de projetos específicos para os laboratórios. “É preciso que seja definido a funcionalidade dos laboratórios. E precisamos que a AASDAP (Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa) nos detalhe”, destacou Gustavo  Coelho.

Nicolelis critica demora na conclusão do Campus do Cérebro

Dez anos se passaram desde que o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis começou a atuar no Rio Grande do Norte. O homem que lida com avanços científicos surpreendentes – em 2011, fez um macaco controlar um braço robótico apenas com o pensamento; na semana passada publicou pesquisa  realizada com outros dois pesquisadores, Eric Thomson e Rafael Carra, que cria um novo sentido além dos já conhecidos ao fazer ratos “sentirem” a luz infravermelha, invisível para os mamíferos – e realiza projetos científico-social-educacional que atende 1.400 crianças e jovens no Nordeste brasileiro, não se acomoda. Afirma que vai fazer um paraplégico voltar a andar com a ajuda de um exoesqueleto na abertura da Copa de 2014.
Eentrevista / Miguel Nicolelis / neurocientista.
Paralelo a isso é professor titular do Departamento de Neurobiologia e Codiretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University (EUA), consultor do Instituto Cérebro e Mente da Escola Politécnica Federal de Lausanne (Suíça) e presidente da Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa (AASDAP) e pesquisador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra (INN).

Dias depois de receber convite para repetir o projeto científico-social-educacional realizado no RN nos Estados Unidos, o cientista concedeu entrevista a TRIBUNA DO NORTE, por telefone, enquanto estava na Universidade de Duke. Nicolelis fala sobre o andamento do projeto Andar de Novo; a construção do exoesqueleto; critica a demora na conclusão das obras de construção do Campus do Cérebro, um complexo de pesquisa e estudos que vem sendo erguido na zona rural de Macaíba desde 2010; avalia o trabalho realizado aqui em Natal e traça planos futuros para o INN: “Transformar o instituto no maior do país”.

Confira a entrevista

Em qual estágio encontra-se o projeto do exoesqueleto?
O projeto está no estágio onde estamos desenvolvendo a construção do exoesqueleto, selecionando os pacientes e estudando a forma de criar a ligação dos sinais cerebrais com o exoesqueleto.

Teremos um paraplégico dando um pontapé inicial na Copa de 2014?
Estamos trabalhando para fazer exatamente isso.

Quais etapas do projeto Andar de Novo estão sendo desenvolvidas nos laboratórios do RN?
É um projeto que está sendo desenvolvido em três continentes: Europa, Estados Unidos e Brasil. Aqui na Universidade de Duke, no Instituto de Neurociências em Natal e na Universidade Técnica de Munique. Em  Natal, estamos desenvolvendo toda a parte de pesquisa básica e vamos começar o estudo de avaliação clínica nesse primeiro semestre.

O senhor e seus parceiros trabalham em outros projetos importantes ao desenvolvimento humano. Há como eleger, do ponto de vista científico, qual deles deve causar maior “revolução”?
Todos os projetos que estão sendo feitos aqui e no Instituto de Natal são de certa maneira inovadores e estão contribuindo para alterar a área de neuroengenharia e neurociência.

Há algum projeto em especial, que represente não apenas a satisfação e fascínio ao cientista, mas ao ser humano Miguel Nicolelis?
O que é desenvolvido em Macaíba é um projeto pessoal. Todos os de cunho social desenvolvidos pelo Instituto Internacional de Neurociência Edmond e Lily Safra. Que envolvem o projeto de educação científica de mil crianças no Rio Grande do Norte e mais 400 na Bahia. E o nosso centro de saúde que atende doze mil consultas de pré-natal e puericultura por ano. São realizações de um modelo de usar ciência como meio de transformação, que é único. Essa é a característica maior do nosso Instituto.

O cientista Miguel Nicolelis mudou após essa experiência?
Sem dúvida. Dez anos tentando implementar um trabalho desse nível no Nordeste brasileiro provoca uma mudança. Se eu não tivesse mudado, algo estaria errado comigo.

Quais serão os avanços da interface cérebro-máquina nos próximos anos?
Muitos. Tanto na leitura de sinais do cérebro como no uso de novas tecnologias para mandar mensagens para o cérebro. Vamos ter aplicações para uma variedade de distúrbios neurológicos e vamos ter uma ferramenta poderosíssima para entender como o cérebro funciona.

Como e quando essa pesquisa vai ser utilizada na solução de problemas do dia-a-dia?
Vários aspectos dessa pesquisa vão ter benefícios nos próximos anos. Nós vamos ter terapias para doenças de Parkinson, nova abordagem para reabilitação e terapia de paralisia. Mas essas descobertas estão tendo impacto em outras áreas como a ciência da computação, microeletrônica, influenciando engenheiros a criar sistemas que possam emular a forma com o cérebro funciona. Então nós vamos ver os benefícios dessa pesquisa em várias áreas além da medicina.

Tem como quantificar em quantos anos veremos a aplicação prática na área da medicina?
Na próxima década vamos ver aplicações clínica dentro dos hospitais do mundo todo.

Como vai funcionar o Campus do Cérebro?
As obras estão sobre cargo da UFRN e a AASDAP (Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa) vai gerir o Campus do cérebro em parceria com o Ministério da Educação.

Qual o foco das pesquisas que serão desenvolvidas?
Neurotecnologia, neuroengenharia e neurociência de sistemas.

E a capacidade de pesquisadores?
Muito grande. Serão 45 laboratórios. Vamos ter quase mil pessoas ocupando aquele prédio de pesquisa [no Campus do Cérebro]

Como será a composição da equipe?
Estamos recrutando pesquisadores. Temos quatro ou cinco que estão chegando e mais virão ao longo do ano. A equipe está sendo constituída. Em um laboratório de pesquisa esse processo é constante. Pessoas se graduam vão para outros lugares. É uma equipe que sempre está se renovando e recrutando. Estamos aumentando significativamente a nossa equipe antes da conclusão do Campus do Cérebro.

E a aquisição de equipamentos?
Vai ser feito diretamente por nós, mas não pode ser adiantada porque não tem luz, não tem água, não tem internet. A infraestrutura não existe no Campus. Mas estamos esperando a conclusão para a aquisição desses equipamentos.

O senhor poderia comentar a demora na entrega dos prédios?
Não tenho muito o que falar. As obras são responsabilidade da UFRN. Para nós é muito prejudicial. O prejuízo acadêmico é muito grande. Porque nós tínhamos planejado desenvolver o projeto Andar de Novo no Campus do Cérebro. E a ideia era tê-lo inaugurado para quando o mundo inteiro pusesse os olhos no Brasil para ver a demonstração, o mundo pudesse testemunhar que o Brasil estava entrando nessa área de uma maneira extremamente ativa e importante. E infelizmente  é muito provável que as obras não estejam prontas nem para a Copa do Mundo. Isso é muito ruim para todo o novo planejamento.

O Campus do Cérebro sequer está funcionando, mas quais as perspectivas?
O Campus é o primeiro passo. A ideia é criar um parque neuro tecnológico, que seria a Cidade do Cérebro.

Como é o financiamento às pesquisas realizadas pelo INN?
São financiadas por doações privadas, projetos internacionais, projetos privados brasileiros e por parcerias com o Governo Federal, como é comum no Brasil.

O senhor sempre deixa bem claro que o trabalho desenvolvido aqui no RN não é reconhecido e enfrenta resistência. A que o senhor atribui essa situação?
A resistência não é da população. A população nos acolheu com muito apoio. Existe uma pequena maioria, que por interesses políticos, não tem interesse que o povo do RN tenha educação de boa qualidade, que as mulheres não tenham acesso a pré-natal ou que possa fazer ciência de ponta, independente do grupo político que domina o estado. Mas é um grupo minoritário, que não tem relevância política, social nem científica.

Como o senhor vislumbra  a contribuição dos jovens que  hoje são acompanhados pelos projeto de educação infantil, saúde e pesquisa realizados pelos INN?
Esses jovens estão tendo oportunidades que outras gerações não tiveram no estado. Essas crianças estão tendo a oportunidade de manifestar todo o seu potencial intelectual e buscar sua própria felicidade. Tudo por seus próprios meios através da perseguição dos seus desejos e sonhos. Vejo com muito otimismo que daqui a alguns anos, décadas, essas crianças vão se transformar em adultos, em pessoas que vão modificar o perfil do estado do RN. Essas crianças vão contribuir para uma mudança radical na cultura, política e economia do estado. E eu acho que é por isso que nosso projeto causa tanta aflição na minoria que ainda domina o dia a dia do estado. Essas crianças vão se transformar em atores de transformação social.

Quando o senhor chegou ao  RN, falava que o objetivo era colocar o estado no mapa da neurociência…
Em duas semanas  o RN vai estar definitivamente do mapa da ciência mundial. Ele já está. Em dezembro, uma das dez histórias mais importantes da Science, de acordo com a própria revista, foi a história das carreiras científicas desenvolvidas no nosso instituto. Já foi notícia nas maiores revistas científicas do mundo, mas agora nós vamos colocar o trabalho desenvolvido no instituto em uma das revistas do grupo da Nature. A repercussão vai ser mundial e todas as manifestações sobre esse trabalho vão incluir o instituto de Natal.

Qual o alcance do trabalho científico social desenvolvido pelo INN?
Cumprimos todas as promessas e metas que tínhamos em mente nessa primeira fase de implantação do projeto. Nossas escolas estão atendendo desde 1300 crianças no RN, dede 2007. Nosso Centro de Saúde é o único de referência de pré-natal de alto risco da região metropolitana de Natal e, com muitas dificuldades, estabelecemos um centro de pesquisa que está publicando trabalhos a nível internacional como vamos ver daqui a poucos dias.

Qual o projeto do INN para os próximos anos?
Transformar o instituto no maior do país.

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