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Canteiros são endereços de moradia e trabalho

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Roberto Lucena – repórter

Os canteiros de Natal estão sujos, malconservados e servem, muitas vezes, como abrigo para mendigos que passam o dia pedindo dinheiro nos semáforos da cidade. A cena se repete em vários bairros da capital. Além da sujeira e pedintes, que incomodam motoristas, moradores, comerciantes e transeuntes, alguns pontos viraram verdadeiros centros comerciais. Vende-se de tudo nos espaços que deveriam, na teoria, apenas dividir as avenidas movimentadas. Em alguns locais, os pedintes armam redes e transformam o espaço numa espécie de acampamento.
Nos canteiros da Prudente de Morais com Antônio Basílio, pedintes armam até redes no local.
A ocupação dos canteiros nos cruzamentos de avenidas importantes é sazonal. Ocorre sempre a partir do mês de novembro. Mas este ano, parece que a temporada se estendeu. Com as proximidades das festas de fim de ano, os pedintes vêm de todos os lugares a espera da ajuda daqueles que se sensibilizam com a situação. É pensando desse modo que a desempregada Teliane Soares de Lima, 21 anos, sai de casa, todos os dias, às 7h. Ela mora no bairro Parque das Dunas, zona Norte de Natal, e passa o dia se deslocando entre os cruzamentos da avenida Prudente de Morais com a Antônio Basílio e Prudente de Morais com a avenida Nascimento de Castro. “Estou sem trabalhar e, lá em casa, só minha mãe que trabalha. O dinheiro não dá para nada. O jeito é pedir”, disse.

Teliane é mãe de Kauane Eduarda, de apenas 8 meses, e está grávida do segundo filho. A barriga já está grande, mas não impede que Teliane fique pedindo por cerca de oito horas por dia. Com um detalhe, durante todo esse tempo, ela leva a filha no colo. “Não sei de quantos meses estou grávida não. Sei quem é o pai, mas não sei como isso aconteceu. Tô pedindo aqui justamente para dar comida à minha filha”, informou. A desempregada disse ainda que, apesar de estar nos canteiros, prefere pedir comida e dinheiro na praça de alimentação de um hipermercado próximo dali. “Se pedir muito nos carros o pessoal denuncia pra Febem”, explicou.

A pedinte não quis ser fotografada. No momento em que a reportagem da TRIBUBA DO NORTE chegou ao cruzamento das avenidas Prudente de Morais com Antônio Basílio, pelo menos mais quatro pessoas estavam no local. Na manhã de ontem, algumas pessoas descansavam em duas redes e outras estavam deitadas em cima de uma almofada e alguns papelões rasgados espalhados pelo chão. Uma mulher conhecida por Daiane estava por lá. Assim que percebeu a presença da equipe de reportagem, saiu correndo. Teliane disse que Daiane mora no local e passa o dia pedindo dinheiro aos motoristas. Um menino que limpava os vidros dos carros também estava por lá. Assim com a mulher que saiu correndo, o garoto também não quis conversar conosco.

Perto dali, no canteiro da avenida Antônio Basílio, próximo ao cruzamento com a avenida Jaguarari, o problema era outro: sujeira. Vários sacos plásticos e lixo espalhado davam à avenida um aspecto de local abandonado. Os moradores afirmam que a cena é corriqueira. “É sempre assim. Se não for a gente que limpe, ninguém vem limpar”, disse a dona de casa Maria de Souza. A senhora afirmou também que a culpa do descaso é dos próprios moradores e comerciantes do bairro. “Vem gente de várias ruas  jogar o lixo nesse canteiro. É um absurdo o que fazem com a nossa cidade. A população não ajuda e a Prefeitura também não faz a parte dela”, completou.

Durante um simples passeio pela cidade, encontramos outros canteiros em malconservação. Em bairros como Tirol, Lagoa Nova, Alecrim e Neópolis, a TRIBUNA DO NORTE observou muita sujeira, mato e calçamento solto.

Áreas são ocupadas desordenadamente

Se em alguns locais os canteiros estão ocupados por pedintes ou bastante sujeira, em outros tantos, o que chama atenção da população é a ocupação desorganizada de comerciantes e ambulantes nesses espaços públicos. Em vários canteiros da capital do Rio Grande do Norte, é possível encontrar borracharias, lanchonetes, bares e camelôs. A fiscalização é falha e o número de pontos comerciais irregulares aumenta a cada dia.

Na avenida das Alagoas, em Neópolis, zona Sul de Natal, o canteiro principal está praticamente tomado pelo comércio. Pela manhã, a maioria fica fechado. É à noite que o comércio abre as portas. São bares, lanchonetes onde é possível comprar sanduíches, espetinhos e bebidas alcoólicas. O risco para quem frequenta o local e motoristas que trafegam por lá é grande. “Toda noite essa avenida fica cheia de gente. Nos fins de semana é ainda pior. O movimento começa cedo e vai até de madrugada”, disse a aposentada Emanuela Chagas, 67 anos.

Em uma das lanchonetes, um funcionário que pediu para não ser identificado disse que o comércio não tinha alvará de funcionamento. “E os fiscais aparecem só de vez em quando”, explicou. O atendente disse ainda que a Prefeitura do Natal quer tirar os comerciantes daquela área, mas ainda não sabe para onde vão. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou falar com o titular da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), Cláudio Porpino, mas ele não atendeu as ligações e limitou-se a enviar uma mensagem de texto afirmando que ligaria depois, porém, não houve contato posterior.

No canteiro da avenida Floriano Peixoto, próximo ao cruzamento com a rua Trairi, há uma borracharia à céu aberto. Trata-se do comércio do borracheiro Fábio de Lima, 37 anos. Ele contou que desde os 10 anos trabalha consertando pneus de carros e motos. “Antes trabalha no posto aqui perto, mas aí me tiraram de lá e eu vim para o canteiro mesmo”, disse sem precisar desde quando tem o comercial informal.

A borracharia está instalada ao lado do trailer da tia de de Fábio. Ele conta que a tia tem alvará de funcionamento e que a Prefeitura sempre vai lá fiscalizar. “Está tudo certo por aqui. É desse serviço que tiro o sustento da minha esposa e quatro filhos”, explicou.

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