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Capital privado restaurou a Cosern

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OPERAÇÕES - Tecnologia a favor da qualidade no serviço

O lucro líquido da Cosern cresceu 42,9% no primeiro semestre deste ano, com R$ 80,9 milhões livres em caixa. O crescimento de dois dígitos na concessionária de energia elétrica do Rio Grande do Norte não é exatamente uma novidade. Entre altos e baixos, a companhia já chegou a lucrar mais de 130% desde que saiu das mãos do Estado, há 10 anos. E, neste período, as mudanças não se resumem a relação entre a lucratividade atual e o prejuízo que a empresa acumulava quando era estatal. Apesar da conta mais alta, os clientes estão mais satisfeitos, o serviço tornou-se eficiente e as perdas diminuíram. Contudo, desde 2000 muitos indicadores não apresentaram incrementos significativos e ainda têm espaço para melhoras. 

A Cosern foi incluída no Programa Estadual de Desestatização (PED) em 1996, quando o governo estadual detinha 99,19% da participação (o restante era da Eletrobrás). Em 31 de dezembro de 1997, depois do leilão que vendeu a companhia por US$ 607,01 milhões (R$ 1,15 bilhões, em valores atuais), foi assinado o contrato de concessão, que garante 30 anos de exploração dos serviços. Hoje, a Cosern é controlada pelo grupo Neoenergia e a atuação da companhia é acompanhada de perto por acionistas – o que garante mais rigor na busca por resultados -, uma vez que o Neoenergia é composto pela Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (49%), pelo grupo Iberdrola (39%) e pelo Banco do Brasil (12%). Em 1998, primeiro ano da Cosern privatizada, os novos donos tinham um foco muito bem definido: transformá-la em uma empresa lucrativa, como explica o economista e pesquisador José Aldemir Freire, cujo mestrado em economia baseou-se na análise da reestruturação da concessionária, entre 1991 e 2002. “Todo o esforço foi voltado para aumentar sua rentabilidade”, diz Aldemir. Corte de pessoal, modernização tecnológica, comercial e gerencial foram ações que permitiram à Cosern sair de um prejuízo de R$ 93 milhões em 2007 para um lucro líquido de R$ 103 milhões em 2001.

Saltos

Os investimentos também deram saltos entre 1997 e 2000, saindo de R$ 24 milhões para R$ 60,8 milhões. Não passou disso até 2005, mas teve um grande impulso no ano passado (R$ 124 milhões, com participação significativa, 35,4%, de outras fontes como programas governamentais). O crescimento do sistema é uma amostra do destino desse dinheiro. Nos últimos nove anos, a quantidade de subestações cresceu 47% e a de transformadores aumentou 115,8%.

Não há dúvidas que os aportes também visavam atender à quantidade sempre crescente de clientes. O número de usuários cresceu 56,3%, passando de 594,3 mil para 929,1 mil, enquanto o consumo aumentou 64,9%. Os resultados desse mar de números também demonstram ganho na eficiência. A quantidade de horas em que o serviço foi interrompido caiu 68,07% nesses 10 anos. Em 1997, os usuários ficavam até 39 horas (mais de um dia e meio) sem energia durante o ano. Esse volume chegou a 10,8 h/a em 2001 e atualmente está em 12,48 h/a. Outro indicador de que a Cosern está tão saudável quanto os 10 prêmios nacionais que ganhou vem com as perdas, que saíram de 18,53% em 1997 para 11,96% em 2006.

Diferença está na gestão

Presidente da Cosern, José Roberto Medeiros avalia que, sem a privatização, a empresa não teria os resultados que apresenta hoje, uma vez que foi o capital privado quem possibilitou essa guinada. “Temos o exemplo de empresas da mesma área que não foram privatizadas e que até hoje não conseguiram atingir esse nível de qualidade”, comenta. Outro benefício é, como no caso da Cosern, a saída do vermelho. O estado saiu de uma obrigação cujos resultados eram de prejuízo contínuos, que acabavam sendo pagos pelo acionista majoritário, o governo, que, por sua vez, é mantido com o dinheiro do contribuinte. Além disso, o crescimento mais significativo, está na arrecadação de ICMS. Em 1997, foram pagos R$ 40,9 milhões do tributo, valor que 2006 chegou a R$ 165,5 milhões. O incremento de 304,8% supera em quase cinco vezes o aumento no consumo no mesmo período.

No RN, a privatização também chegou por meio da antiga Telern, que se tornou Telemar (a companhia se negou a informar quaisquer dados sobre seus resultados pós-privatização ou informações sobre o período que antecedeu a venda). A outra grande estatal, a Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern), também chegou a ser alvo de especulações sobre privatização, mas sem marco regulatório para isso (diferente de telefonia e energia, que são concessões federais, o serviço da Caern é concessão dos municípios) e sem estudos aprofundados sobre as mudanças, o assunto não chegou a sinalizar que se tornaria realidade. Considerando o mesmo período da privatização da Cosern (1997-2007), a Caern tem resultados bem diferentes. Entre 1997 e 2002, ela acumulou prejuízos da ordem de R$ 104 milhões, um rombo que os lucros auferidos desde então, R$ 9,8 milhões, ainda não conseguiram cobrir. A companhia de águas não dispõe de dados sobre a freqüência em que o serviço é suspenso anualmente – um indicador disponível no setor de energia do estado.

Para o engenheiro civil e mestre em engenharia sanitária Lindolfo Sales, que era secretário estadual de Planejamento entre 1999 e 2002, a solução para a Caern seria de mudança de gestão e não necessariamente de privatização.  Ele cita exemplos como o de Minas Gerais e São Paulo, onde a gestão profissional reflete diretamente na eficiência dos serviços. “É preciso que os gestores tenham autonomia, livres de indicações e da influência políticas”, defende Sales.

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