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Carcinicultura: Constante luta por mercado e apoio

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Nove anos depois, o ano de 2003 foi um marco para a carcinicultura brasileira e norte-americana particularmente. Até bem pouco tempo era um marco negativo: a do momento em que o cultivo de camarão em viveiros passou a ser inviável para exportação. Era o fim de uma era de ouro na carcinicultura potiguar, líder de mercado no Brasil e grande exportador. No entanto, se há mercado, há solução. Em 2008, o consumo interno passou a absorver a produção de camarão e o setor foi salvo de sofrer ainda mais, o que não significa que todos os problemas foram resolvidos.
Em 2003, o Rio Grande do Norte produziu mais de 37 mil toneladas e praticamente tudo foi exportado. No ano passado, a produção foi de 23 mil toneladas.
De lá para cá, o Rio Grande do Norte perdeu o posto de maior produtor de camarão do Brasil para o Ceará. E também viu sua produção cair. Se em 2003 eram mais de 37 mil toneladas, no ano passado foi de 23 mil toneladas. Uma queda de 38%. Mas poderia ser pior, caso o mercado interno não absorvesse quase 100% de todo o camarão produzido no país. Sem mercado lá fora, por conta do dumping e da desvalorização do real, o setor teria sofrido uma perda mais impactante não fosse o consumo interno. Mas, para os criadores de camarão, o progressivo declínio da carcinicultura no RN é também fruto de uma falta de apoio ao setor.

Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão, é incisivo: “O poder público não só não ajuda, como atrapalha”. Os produtores argumentam que o dumping e a desvalorização do dólar não atingiram somente o Brasil. China e Vietnam, por exemplo, passaram pelas mesmas turbulências e hoje produzem resultados vexatórios para o Brasil. A China é líder absoluta do mercado mundial. O Vietnam e a Tailândia, com uma área apta para produção bem menor que o Brasil, também tem um quantitativo mais expressivo.

Durante a sua palestra no Seminário Motores do Desenvolvimento, o consultor chileno Carlos Wurmann citou a carcinicultura ao analisar a possibilidade de os produtores de pescado do Brasil perderem também o mercado interno. Para isso, citou a quantidade de importações. Dados da ABCC mostram que de 2003 para cá o volume de pescado importado pelo Brasil cresceu 126%. “O Brasil pode até brecar essa chegada por um, dois ou três anos, mas se não houver um modelo mais competitivo dentro do próprio país fatalmente irá sucumbir a essa competição”, disse Wurmann, em referência à chegada de produtos de outros países ao mercado nacional.

O cenário, um tanto pessimista, é desolador para os produtores. Há um consenso de que o Rio Grande do Norte e o Brasil têm como produzir mais e até alcançar o mercado externo. No país inteiro, há 10 mil hectares de área propícia para a atividade carcinicultora. O aproveitamento disso fica entre 1,7 mil hectares e dois mil hectares. Ana Carolina Guerrelhos, uma das sócias da Aquatec, empresa que trabalha com a produção de pós-larvas, afirma que, apesar da importância do mercado interno, seria interessante alcançar novos mercados. “Acho que o setor tem sentido falta de maiores empresas. A carcinicultura tem estado muito restrita aos pequenos produtores”, aponta.

Essa restrição, segundo Ana Carolina, inibe a inovação tecnológica nas fazendas. “A parte laboratorial da carcinicultura tem evoluído tecnologicamente, mas no campo vemos uma situação ainda muito igual. Isso porque faltam grandes empresas para puxar essa inovação. O pequeno produtor dificilmente vai conseguir investir valores consideráveis em inovação tecnológica”, avalia.

Questões ambientais são principal impasse

O impasse acerca da legislação ambiental e a dificuldade para se obter o licenciamento são os principais motivos alegados pelos produtores como gargalo para o setor. E a discussão acerca do Código Florestal somente acirra essa questão. O limite de 30% para produzir em áreas de salgados e apicuns pode diminuir ainda mais as possibilidades de produção da carcinicultura. Um outra questão latente é a demora na concessão das licenças. “Se o Brasil não resolver isso, não haverá desenvolvimento no setor pesqueiro”, diz Itamar Rocha.

O professor da UFRN, Francisco Seixas, vai numa linha parecida com a de Itamar, embora com discordâncias. Para ele, os órgãos ambientais não têm estrutura para licenciar os empreendimentos com rapidez. Contudo, ele é contra a construção em áreas proibidas. “Eu conheci várias pessoas que venderam casa e carro pra cultivar camarão na época do “boom” pra fazer viveiro em área de mangue porque sabia que ia lucrar. Construíram muito em áreas proibidas. Um dos problemas é que os órgãos ambientais são mal aparelhados e não dão conta da demanda”, encerra o professor Francisco Seixas.

Bate-papo

Francisco Seixas, chefe do Departamento de Oceanografia e Limnologia

“Os órgãos ambientais são mal aparelhados”

Como está a questão do Centro de Tecnologia do Camarão?

Nós temos uma fazenda, onde funciona o Centro de Tecnologia do Camarão. Essa fazenda tem 50 hectares de viveiros. Na época da doação, nós não tínhamos recursos para manter. Mas com a criação do CTA há quatro anos nós conseguimos estruturar. É uma coisa recente para a Universidade. Nós ainda temos dificuldade de manter. A ideia é manter com parcerias e a que fizemos com a Emparn foi finalizada.

Quais são os novos passos?

Teremos um grande projeto na área de camarão, que ainda está sendo estruturado. Mas quem estiver interessado poderá estruturar o projeto, submeter à Universidade e caso seja contemplado terá o espaço para desenvolver. Esse projeto terá uma parceria com o Governo do Estado, através da Secretaria de Agricultura. Temos uma ótima estrutura, mas ainda não está funcionando. É uma coisa realmente nova. Foi um presente tão grande que ainda estamos vendo a melhor forma de utilizar.

Há algum projeto em vigor lá no CTA?

Sim, há um projeto relacionado a peixe marinho, financiado pelo Banco do Nordeste.

Foi bom ou ruim para a atividade a mudança de foco para o mercado interno?

Eu acho que foi bom porque o real está com um preço interessante. Ninguém reclama no mercado. O lucro é mais de 50%. Por enquanto, não há reclamação. O único problema que existe hoje é o de doença, que é a mancha branca.

Os produtores reclamam bastante e falam em gargalo, principalmente quando se fala em licenciamento. Eles têm razão?

Eles têm razão quando querem ser licenciados. Mas os órgãos ambientais têm a responsabilidade de manter a legalidade da atividade. Sou totalmente a favor da atividade, porque dá emprego, renda, emprega mão de obra semi-qualificada, etc. Mas eu conheci várias pessoas que venderam casa e carro pra cultivar camarão na época do “boom” pra fazer viveiro em área de mangue porque sabia que ia lucrar. Construíram muito em áreas proibidas. Um dos problemas é que os órgãos ambientais são mal aparelhados e não dão conta da demanda.

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