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Cartas de brasilidade

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Maria Betânia Monteiro – repórter

Câmara Cascudo costurou sua obra com as linhas do folclore, da história, das bibliotecas, dos livros. O fio de Mário de Andrade era outro (não muito diferente): o do romance, da poesia, da arte. Com recortes e estampas particulares criaram tecidos únicos e afins: tinham exclusivamente as cores do Brasil. Apesar da distância territorial existente entre os dois, um no Rio Grande do Norte, outro em São Paulo, trocavam ideias constantemente. O veículo do diálogo foram as cartas (escritas entre 1924 e 1944). As palavras grafadas por ambos ganharão o público esta noite, às 19h, no Ludovicus (Instituto Câmara Cascudo), quando será lançado o livro “Câmara Cascudo e Mário de Andrade”. Na mesma ocasião será lançada outro livro inédito, “Coronel Cascudo – o herói oculto”, de Anna Maria Cascudo Barreto.

Cartas trocadas entre cascudo e Mário de andrade, de 1924 a 1944, estão reunidas no livro  lançado hoje, no ludovicus. Na mesma noite, será lançado “coronel cascudo”, de Anna Maria“Câmara Cascudo e Mário de Andrade” é uma edição da Global, organizada pelo pesquisador Marcos Antonio de Moraes. O livro trata da correspondência de dois escritores conscientes de sua brasilidade. Mário de Andrade dizia a Luís da Câmara Cascudo, que ambos deveriam dar uma alma ao Brasil. Cascudo, em toda a sua trajetória de pesquisador e escritor, procurou cumprir esta meta.

Os manuscritos das correspondências de Mário de Andrade (65 mensagens) e de Luís da Câmara Cascudo (94 mensagens) estavam conservados no Ludovicus e no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Sâo Paulo (IEB-USP).

As cartas trocadas pelos dois amigos são documentos de fundamental importância. Elas têm, entre outras virtudes, o de ser uma das fontes de duas décadas da história literária do país e, talvez, a primeira ligação intelectual entre o Sudeste e o Nordeste. Mário apresenta Cascudo aos grandes intelectuais do sudeste, e é apresentado por este aos valores nordestinos.

Câmara Cascudo dizia a Mário de Andrade que era preciso registrar a verdadeira identidade do Brasil. Nessas correspondências de duas décadas, eles pretenderam tornar ainda mais nítido o relevo de suas obras. Desde 1922, ano em que foi publicada a obra “Pauliceia desvairada”, Mário de Andrade se propôs a renovar a literatura brasileira, afastando a artificial influência europeia.

A amizade dos dois tinha bases muito sólidas. Em carta a Manuel Bandeira, de 19 de março de 1926, Mário descreve o perfil do novo amigo: “Vou na Bahia, Recife e Rio Grande do Norte onde vive um amigo de coração que no entanto nunca vi pessoalmente, o Luís da Câmara Cascudo, é um temperamento estupendo e sujeito de inteligência vivíssima e ainda por cima um coração de ouro brasileiro. Gosto dele”.

O primor das missivas

A correspondência entre Câmara Cascudo e Mário de Andrade é também um exemplo da época da frase bem torneada, da adjetivação precisa, da ênfase na exata medida do pensamento. Cascudo e Mário foram duas figuras tão notáveis, que a veiculação de sua correspondência marca um esplêndido momento da história cultural brasileira, sendo matéria permanente para reflexão dos que se preocupam com o país.

Coronel Cascudo

Segundo a jornalista e Procuradora da Justiça, Anna Maria Cascudo, o folclorista potiguar herdou do pai., a inteligência. “Ele foi a raiz pulsante e ativa da sabedoria de Câmara Cascudo, esta árvore de conhecimento, do qual eu sou apenas um fraco arbusto”, disse Anna Maria. Ela conheceu o avô através dos relatos. Francisco Justino de Oliveira Cascudo morreu cinco anos antes do nascimento da neta. De Câmara Cascudo, Anna ouvia palavras de afeto, delineando um homem doce, sonhador. Da avó Donana (esposa do coronel) também ouviu descrições emotivas sobre “Seu Chico”.

Mas a curiosidade foi tanta, que Anna Maria Cascudo precisou dar um passo adiante, pesquisar de forma sistematizada até descobrir quem foi o seu avô. O livro está sendo lançado pela EDUFRN. O membro da Academia Paulista de Letras, Hernânio Donato escreveu: “Vida e obra, obra e vida do Coronel Cascudo ganham dimensão maior no texto da neta feliz com o ser neta e pesquisadora-escritora hábil. Artesã no procurar e artista no alinhar a fartura de informações. Pois, da biografia do avô fez também resumida, porém vívida biografia do Estado, do Brasil, do tempo e do lugar”.

Serviço:

“Câmara Cascudo e Mário de Andrade” e “Coronel Cascudo – o herói oculto”, lançamento duplo hoje, às 19h, no Ludovicus (Instituto Câmara Cascudo). Av Câmara Cascudo, Cidade Alta. Vendas nas livrarias da cidade e no Ludovicus (R$ 48,00). Coronel Cascudo (vendas na Cooperativa  por R$ 30,00.

bate – papo – Anna Maria Cascudo

A relação entre Cascudo e Mário de Andrade se encerrava nos assuntos profissionais?

Não. Eles foram grandes amigos. Papai queria que ele fosse padrinho de Fernando Luís, meu irmão mais velho. Isso só não foi possível em função das agendas lotadas, tanto de papai, quanto de Mário. Além disso, o deslocamento naquela época era difícil. Tudo era feito de navio ou no lombo de um cavalo.

Mesmo com a distância, Câmara Cascudo conseguiu aproximar Mário de Andrade ao nordeste?

A obsessão de papai era trazer Mário de Andrade para observar o sertão e o nordeste, mesmo sabendo que Mário não gostava de regionalismos. Papai conseguiu.

Sobre a biografia de Coronel Cascudo, foi possível manter uma distância para analisar os fatos?

Mesmo eu sendo jornalista e entendendo que é preciso ser imparcial, não consegui me envolver com o trabalho. Basta dizer que os dois últimos capítulos do livro terminaram em lágrimas. 

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