Nadjara Martins
Repórter
O número de casos de microcefalia no Rio Grande do Norte saltou de 47 para 79 68%) em sete dias. De acordo com boletim epidemiológico divulgado ontem (30) pelo Ministério da Saúde, as notificações registradas entre 21 e 27 de novembro levaram o estado a ultrapassar Sergipe na quantidade de casos, chegando a terceiro no ranking nacional, ficando atrás apenas da Paraíba e Pernambuco. No Brasil, são mais de 1,2 mil notificações. A Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) articula para amanhã (2) uma reunião com secretários de Estado e Prefeituras para tratar novas diretrizes no combate ao Aedes aegypti, transmissor do Zyka Vírus.
O estado potiguar também concentra a maior quantidade de óbitos de microcéfalos, com cinco mortes, contra uma no Piauí e uma no Ceará – esta já esclarecida. Análise do Instituto Evandro Chagas, no Pará, comprovou a existência do Zyka Vírus nos tecidos da criança, fundamentando a teoria de que a doença africana é a responsável pelo surto que se espalha pelo país: até ontem, 13 estados e o Distrito Federal já haviam notificações suspeitas.
De acordo com o Ministério da Saúde, embora a confirmação da causa da morte ajude a vincular o Zyka Vírus a uma das causas da microcefalia, todos os casos estão sendo tratados como suspeitos durante a investigação. “Os exames nos ajudaram a comprovar duas coisas: a primeira é que o vírus pode causar doença grave, como acontece com dengue. A ciência ainda não tem uma descrição detalhada de como acontece o agravamento desta doença, mas a suspeita inicial é que aconteça como a dengue”, avaliou o diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do MS, Cláudio Maerovitch.
A microcefalia é uma doença neurológica causada por uma má formação no perímetro neurológico do feto, que tende a chegar a 28 centímetros, quando o esperado é de, no mínimo, 33 centímetros. Desde que os casos começaram a eclodir, em agosto, percebe-se que as mães que reclamaram de coceira ou sintomas da Zyca tiveram crianças com a doença. No Rio Grande do Norte, de acordo com o último boletim da Sesap, no dia 25 de novembro, 40% das mães de crianças nascidas mortas com má-formação ou microcefalia apresentaram sintomas do vírus.
Até o final desta semana, o Ministério deve apresentar um protocolo definitivo sobre a classificação da microcefalia. Ontem (30), em reunião em Gravatá (PE), o órgão articulava com o Exército Brasileiro o apoio nas medidas de combate ao mosquito. O EB confirmou, por meio de assessoria, que apoiará o ministério, mas que o plano definitivo ainda está em formulação.
Combate – O secretário estadual de Saúde, Ricardo Lagreca, defende o apoio do Exército no combate ao mosquito. Ontem, em reunião com o governador Robinson Faria, a pasta articulou para amanhã, às 10h, uma reunião com pastas estaduais e municipais. O evento acontece na Escola de Governo. Além disso, a Sesap tenta articular uma campanha publicitária de orientação sobre medidas para reduzir as infestações.
“O governador vai convocar toda a sua administração direta e indireta, como Caern e Idema (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente), e os prefeitos também devem ser convocados. Vamos tentar trazer ao máximo de pessoas que possam se envolver nesta luta de combate ao mosquito. A ideia é que seja colocada a gravidade que isto está assumindo neste momento, diferente do ano passado, quando tivemos uma epidemia de dengue, temos que trabalhar de uma forma mais intensa”, comentou Ricardo Lagreca, titular da pasta.
PE lança plano de enfrentamento
Pernambuco ainda lidera o número de casos de microcefalia no Brasil: desde o início deste ano, já foram mais de 600. No domingo, o governo estadual e a prefeitura de Recife decretaram situação de emergência por causa da proliferação do Aedes aegypti, que começa a valer a partir de hoje. Ontem (30), em reunião no município de Gravatá, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, acompanhou o lançamento de plano de enfrentamento ao Zyka Vírus. De acordo com o governo pernambucano, a emergência permite a contratação de agentes de endemias, por exemplo.
Outros estados, como a Bahia, anunciaram um mutirão de ultrassons para bebês com microcefalia. Já o governo de São Paulo anunciou que vai iniciar testes de Zyka no SUS.
No Rio Grande do Norte, a orientação do protocolo se inicia nas unidades básicas de saúde, durante o pré-Natal. De acordo com a diretora médica da Maternidade Escola Januário Cicco, Maria da Guia Medeiros, as pacientes que tiverem suspeita de virose vão fazer os exames de translucência nucal e ultra morfológica como todas as mães. Entretanto, se detectados exantemas (manchas na pele), ela fará ultrassom obstétrica com 30 e 34 semanas, que poderão identificar a microcefalia.
Apesar do crescimento de de 68% no número de casos em uma semana, a Sesap afirma que é preciso ter “calma” na análise dos dados, e não estuda um decreto de emergência. “Pernambuco decretou porque a dengue deve ter entrado em estágio epidêmico. Todas estas situações requerem calma, estratégia e pensamento para não tomarmos atitudes que sejam prejudiciais e que causem até pânico. O protocolo está certo. Estamos esperando ainda nesta semana que o Ministério da Saúde informe algumas coisas, como o ingresso das Forças Armadas”, frisou Ricardo Lagreca, secretário titular. De acordo com ele, o protocolo de acompanhamento e reabilitação das crianças com microcefalia ainda está sendo montado. Alguns casos já foram encaminhados para o Centro Especializado em Reabilitação (antigo CRI).
Campanha
A ascendência dos casos de microcefalia em poucos meses mostra que o surto ainda não foi controlado e precisa ser acompanhado diariamente.
A partir de hoje, a TRIBUNA DO NORTE se engaja em uma nova campanha de combate ao Aedes aegypti, à semelhança do que fez no início deste ano, contra a dengue. O veículo abordará medidas de prevenção e combate contra o mosquito em reportagens e postagens nas redes sociais. Acompanhe pela hashtag #AEDESnaMIRA e pelo site www.tribunadonorte.com.br
O que é?
Microcefalia
Condição neurológica causada pelo subdesenvolvimento do perímetro craniano. Geralmente, é considerado subdesenvolvimento quando o perímetro é menor do que 28 centímetros. Pode ser causado por vários fatores, como má-formação do sistema nervoso central, diminuição de oxigênio para cérebro fetal e, segundo as pesquisas do Ministério da Saúde apontam, a presença do Zyka Vírus no corpo da mãe
1.248 notificações de suspeita em todo o Brasil até a última sexta-feira (27)
311 municípios
14 estados
Pernambuco: 646 casos
Aumento de 32,6%
Paraíba: 248 casos
Aumento de 158%
Rio Grande do Norte: 79 casos
Aumento de 68%
Sergipe: 77 casos
Aumento de 42%
Alagoas: 59 casos
Aumento de 490%
Bahia: 37 casos
Aumento de 362%
Piauí: 36 casos
Aumento de 33%
Ceará: 25 casos
Aumento de 177%
Goiás: 2 casos
Aumento de 100%
Novos estados
Rio de Janeiro:13 casos
Maranhão: 12 casos
Tocantins: 12 casos
Goiás: 2 casos
Distrito Federal: 1 caso
Mato Grosso do Sul: 1 caso
Fonte: Ministério da Saúde
