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Casos de coqueluche aumentam 15 vezes

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A incidência da coqueluche, doença que até três anos atrás mal aparecia nos registros de notificação da Secretaria Municipal de Saúde, chega a estágio “preocupante” em Natal. O setor de vigilância epidemiológica da SMS registrou 150 casos da doença, até setembro deste ano. O número é 15 vezes superior ao registrado em 2010, quando houve apenas dez casos. Contudo, não há confirmação sobre a caracterização de uma epidemia, por parte da Secretaria. O aumento se deve a perda de imunidade na população adulta, que não costuma se vacinar após a adolescência. O sistema de saúde pública não preconiza os reforços da vacina nesta fase, explica o infectologista Hênio Lacerda.
Amanda Queiroz acompanha o filho Davi Lucas, que está internado para tratamento no Varela Santiago
O mais grave, explica o infectologista Hênio Lacerda, é a ocorrência em bebês com idade inferior a seis meses, que ainda não receberam a primeira dose da vacina contra a doença. “Há uma incidência de casos graves nessa faixa, inclusive com ocorrência de óbitos”, disse Lacerda.

A vacinação contra a coqueluche é feita em três doses (aos 2, 4 e 6 meses de idade) e dois reforços (aos 15 meses e aos 4 anos). A imunização dura por aproximadamente dez anos. O Ministério da Saúde não realiza campanhas de vacinação fora dessas faixas etárias para coqueluche – somente para tétano e difiteria.

Como a cobertura da imunização não é permanente cria-se o que o médico chama de “uma massa de adultos jovens que se torna fonte de transmissão para crianças, sobretudo recém-nascidos e menores de 1 ano”, afirma. A memória imunológica nos adultos faz com que estes, embora  possam contrair a doença, ela não se manifesta no estágio grave – o que não se aplica às crianças. 

A incidência elevada de casos de coqueluche que chegam ao Hospital Infantil Varela Santiago é considerada “atípica e preocupante”, ressalta a diretora médica do Agueda Maria Trindade. “Foge totalmente a regra o número de casos e se percebe em todo país. Isso porque até então não havia uma preocupação com a doença na fase adulta”, observa. Devido a ocorrência, a médica espera que as autoridades de saúde adotem medidas de prevenção para este público. Em caso de um surto, pondera Agueda Trindade, a rede pública de saúde poderia dar a resposta necessária, uma vez que a internação é destinada somente para os casos graves da doença que, em geral, acometem bebês.

Na tarde de ontem, um bebê de 34 dias diagnosticado co coqueluche recebeu alta da UTI. Outro estava em isolamento e a direção aguardava, até o final da tarde, o encaminhamento de um terceiro pelo Hospital Maria Alice Fernandes. A diretora não tinha o levantamento dos últimos meses, mas assegurou que tem sido preocupante. “Em caso de isolamento, o bebê e a mãe recebem a profilaxia”, disse.

A dona de casa Amanda Queiroz, 25 anos, mãe de Davi Lucas, de 42 dias de vida, atravessou uma via crucis até ter o diagnóstico do filho. O bebê apresentou os sintomas da coqueluche – tosse comprida e guincho (veja box ao lado) -, aos 15 dias de vida, mas foi confundido com infecções respiratória em hospitais de Martins, cidade da família. “Recebi o diagnóstico já em Natal, porque não havia melhora, e fomos encaminhados para cá (Hospital Varela Santiago). Amanhã (hoje) sairemos do isolamento”, comemora Amanda. São cinco dias de isolamento a partir do uso de antibióticos.

Procurada pela Tribuna do Norte para comentar os números, a coordenadora da Vigilância Epidemiológica da  SMS, Ayla Maporo, não atendeu e nem retornou as ligações. A assessoria de imprensa da SMS informou que a coordenadora participava de stand na Cientec/UFRN. Já na Sesap, a subcoordenador da Vigilância Epidemiológica Juliana Araújo informou estar em reunião fora da secretaria e, por isso, não poderia atender a  reportagem, na tarde de ontem.

Bate-papo

Hênio Lacerda, infectologista

Com o quadro hoje, se pode falar em surto de coqueluche?

Percebe-se um aumento considerável no número de casos, sobretudo entre os recém-nascidos o que se torna mais preocupante, por não serem imunizados. Mas como não recebemos nenhum boletim ou norma técnica do setor de Vigilância Epidemiológica da Sesap, que monitora os casos, não temos como afirmar. Mas a situação é preocupante.

O que teria causado esse aumento?

Esta transmissão tem sido feita por uma massa de adultos jovens que se tornam fonte de contaminação da doença para crianças, sobretudo os menores de seis meses. Os adultos de hoje foram imunizados na infância e, sem o reforço após dez anos e também sem uma circulação da bactéria nesse período, perderam a capacidade de resposta a doença. Então, quando expostos a bactéria, adoecem mas tem sintomas mais leves, como uma tosse crônica que pode ser confundida com uma bronquite ou infecção alérgica, respiratória, isso porque existe uma memória imunológica. Mas se em contato com recém-nascidos  transmitem a doença que pode ser fatal.

O que pode ser feito?

Como existe esse crescimento sistema de saúde deverá ampliar a cobertura da imunização.

O fato da doença não ter grande incidência por um longo período (até 2010) dificulta um diagnóstico mais rápido?

Em adultos, sim. Pode ser confundido com outras doenças. Mas em crianças, os sintomas são mais característicos. E os médicos estão mais atentos, já que se observa  um aumento no número de casos.

A rede de saúde em Natal está preparada em caso de surto?

Não. Porque o que mais preocupa é população menor de um ano e há uma deficiência de leitos de UTI pediátrica em todo Estado.

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