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Castriciano, exemplo de grandeza

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Ticiano Duarte
jornalista

Domingo ultimo, dia 26 do corrente mês, foi aniversário de morte do grande Henrique Castriciano, ocorrida exatamente no ano de 1947. Em 2011, a Liga de Ensino do Rio Grande do Norte que administra o complexo educacional que tem o seu nome, nas comemorações de seu centenário de fundação, prestou-lhe uma justa e merecedora homenagem. De lá pra cá não se falou mais da sua história e de sua obra que orgulha o nosso estado, no campo da cultura e da educação. 

O mestre Cascudo escreveu sobre essa grande figura, “Nosso amigo Castriciano”, que é uma obra, como disse Nilo Pereira, prefaciando-a, “continuação de sua poesia em prosa sobre Auta de Souza” e que “nasceu também dum convívio intelectual e humano capaz de ser, na análise literária, um retrato completo do poeta e do escritor”.

Henrique Castriciano que nasceu em Macaíba, em 15 de março de 1874, era bacharel em direito pela Faculdade do Rio de Janeiro. Jornalista, poeta, crítico, político, maçom. Exerceu cargos importantes aqui no Estado: Secretário Geral, deputado estadual em várias legislaturas, vice-governador por 10 anos e Procurador Geral do Estado.

Tinha fama de homem do mundo, viajara pela Europa e pelo Oriente, conhecera outras civilizações, moderno e avançado num tempo em que a província vivia presa a preconceitos e tabus. Suas viagens internacionais, segundo a ótica de Nilo Pereira eram “o périplo natural de sua alma inquieta, o roteiro duma inteligência lúcida e ansiosa, o prolongamento das leituras, o fascínio estético”.

Fundador da Liga de Ensino e da Escola Doméstica de Natal, da Associação dos Escoteiros do Alecrim, da Academia Norte Rio-Grandense de Letras, juntamente com Luiz da Câmara Cascudo, tendo sido seu primeiro presidente, ex-venerável da Loja Maçônica 21 de Março.

Como político deu exemplos de amor à coisa pública e à sua terra. No dizer de Adauto Câmara: “Influente junto aos governos, nunca se aproveitou de tal ascendência para obter vantagens ilícitas. É uma virtude proverbial dos irmãos Castriciano, que entraram ricos na política e atingiram a velhice, notadamente pobres”.

A prova maior dessa assertiva do escritor Adauto Câmara está na correspondência entre os dois amigos, publicadas por Raimundo Soares de Brito em, “Uma viagem pelo arquivo”, coleção mossoroense, 1981. Em 18 de fevereiro de 1938, em carta, Henrique Castriciano desabafou: “Ouvi falar em Natal que iam eleger novo presidente para dirigir os trabalhos do nosso pobre cenáculo. Não tive certeza, porque nem um aviso tive, da Academia, sendo que nem sequer tive resposta da carta em que há meses me despedi da aludida presidência”. Referia-se à Academia Norte Rio-Grandense de Letras. E mais adiante confessa, após discorrer sobre outras iniciativas suas, vitoriosas: “Em seguida, logo em seguida, me abandonaram quase todos, nem sequer acudiam aos anúncios insertos n’ “A República”.

Em 22 de fevereiro de 1942, nova carta a Adauto Câmara, doente e decepcionado, ele não esconde os problemas que ameaçavam sua velhice, sobretudo os de ordem financeira: “Vou entrar na compulsória, 68 anos sem meios para tratar-me, imprestável”. E no final da missiva “Creio que me será útil os confrades mais generosos dizerem algo ao meu respeito neste momento para mim tão precioso. Você sabe que nunca fui cabotino. Agora sou obrigado a pedir que não esqueçam meus serviços, porque estou ameaçado de ficar apenas ganhado uns 600 mil réis, que de muito pouco servirão com a carestia atual dos remédios”.

Cascudo disse que ele morreu pobre e humilde. As homenagens que já lhe foram prestada, depois de sua morte, ainda não resgatam toda a dívida do Rio Grande do Norte inteiro para com o seu filho ilustre, que o enriqueceu com o seu talento de poeta e escritor. De exemplo de homem público honrado, nestes dias de tantos escândalos, de vergonha, de opróbrio.     

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