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Cidade cresceu de costas para o mar

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PETROPÓLIS/TIROL - IBGE diz que área tem maior renda percapta de Natal

Natal, embora tenha completado seus 400 anos de fundação, tem uma história urbanística bastante recente. Os primeiros traços de desenvolvimento dos bairros da cidade data da década de 20, com a criação de áreas planejadas que hoje correspondem aos bairros de Tirol e Petrópolis. No entanto, o crescimento mais significativo aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial, quando a população da cidade praticamente dobrou, criando problemas urbanos que até hoje são um incômodo para a população.

A guerra, por causa da participação ativa da cidade em receber os soldados americanos, resultou em um desenvolvimento acelerado dos bairros que hoje formam o centro comercial da cidade, como o Alecrim. Ali houve um incremento por se tratar de uma parte da cidade que servia como ponto de comércio e prestação de serviços, fazendo daquela a região com maior crescimento de Natal.

No entanto, a capital potiguar só percebeu de fato um elevado crescimento após a década de 70. Crescimento este que não foi acompanhado pelo poder público com relação aos investimentos em infra-estrutura em todos os bairros. Hoje os empreendimentos imobiliários são o carro chefe da expansão de certas regiões, sem muitas vezes levar em conta os problemas que ainda precisam ser sanados para garantir aos habitantes uma boa qualidade de vida.

A cidade, que cresceu de costas para o mar, viu na Via Costeira o desenvolvimento de bairros de renda mais baixa, como Areia Preta, Mãe Luiza e Santos Reis. A Cidade Alta e a Ribeira continuaram sendo os mais estruturados para o comércio, sendo que, de acordo com uma pesquisa desenvolvida pelo grupo de estudos Observatório da Metrópole em Natal (instituição virtual de âmbito nacional), parte do núcleo avançado de políticas públicas da UFRN, essas duas localidades têm plena condição de abrigar residências. “A Ribeira tem um sistema de esgoto muito bom, que não é utilizado em toda a sua capacidade”, diz Maria do Livramento Miranda Clementino, coordenadora do grupo de pesquisa.

Até os anos 90 Natal era uma cidade prioritariamente horizontal. A segurança e a praticidade de se morar em apartamentos resultaram na construção cada vez maior de prédios de apartamentos, principalmente nos bairros mais nobres da cidade, por serem imóveis mais caros. O fato de Natal ter um grande espaço para se expandir também foi uma contribuição para tornar os edifícios desnecessários. Investimentos militares como a Barreira do Inferno e o Parque das Dunas, que antes eram bastante longe do núcleo urbano, espalhavam a estrutura urbana por uma área extensa.

O adensamentos dos bairros gerou a necessidade de procura por novas áreas a serem habitadas, como aquelas mais ao sul da cidade, onde as pessoas com poder aquisitivo mais alto se instalaram. Com o crescimento do fluxo para aquela área, as antigas fábricas instaladas em torno da BR 101, na entrada da cidade, deram lugar aos maiores shopping centers de Natal. Essas fábricas foram substituídas por esses novos empreendimentos ou deslocadas para distritos industriais ou para cidades no interior do Estado.

Peculiaridades de quatro regiões

Hoje Natal está dividida em quatro zonas geográficas: Norte, Sul, Leste e Oeste. Cada uma delas tem peculiaridades e bairros com características que, embora estejam compreendidos na mesma região, são muito diferentes entre si.

O maior exemplo é a Zona Leste. Esta região é composta pelos bairros de Santos Reis, Rocas, Praia do Meio, Areia Preta e Mãe Luiza, que, por terem sido a primeira área de periferia da capital do RN, alojou desde seu início uma população mais carente. Os bairros da Ribeira, Cidade Alta e Alecrim são até hoje os maiores centros comerciais de Natal. Já Lagoa Seca, Barro Vermelho Petrópolis e Tirol são consideradas vizinhanças com alto poder aquisitivo, principalmente as duas últimas, que têm nos seus moradores a maior renda per capta da cidade.

A Zona Sul é mais homogênea. Com o crescimento do turismo essa foi a mais valorizada e por isso o custo de vida tornou-se mais alto. O Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) por isso ficou mais caro, e, com exceção de Ponta Negra, por causa da carente Vila de Ponta Negra, seus bairros são habitados por famílias mais abastadas. Esta região compreende os bairros de Nova Descoberta, Lagoa Nova, Candelária, Capim Macio, Pitimbu, Neópolis e Ponta Negra.

A Zona Norte é composta por bairros  mais pobres. O maior bolsão de favelas da cidade está em NS da Apresentação, que encontra-se  entre os mais carentes de infra-estrutura. Além deste, estão na Zona Norte os bairros de Lagoa Azul, Pajuçara, Redinha, Salinas, Igapó e Potengi. A respeito desse último nota-se uma diferença muito grande com relação aos outros. Por ser composto de conjuntos habitacionais, tem sua estrutura bastante organizada, e a adequação do bairro chega a comparar-se à da Zona Sul, Tirol e Petrópolis.

Zona Oeste: a mais carente e com os menores salários

Das quatro regiões de Natal a mais carente é a Zona Oeste. Por também ter sido a princípio uma periferia, alojaram-se ali famílias pobres em grande quantidade, que fez dela a parte de Natal com mais imóveis domiciliares. Ela, juntamente com a Zona Norte, têm os salários mais baixos de Natal. São da Zona Oeste os bairros do Planalto, que divide com Lagoa Azul o posto de vizinhança com menos ruas calçadas, Guarapes, que tem o pior rendimento mensal da cidade e mais responsáveis pelos domicílios sem instrução escolar, Cidade da Esperança, que tem toda a sua área drenada, Cidade Nova, Felipe Camarão, Nossa Senhora de Nazaré, Dix-sept Rosado, Quintas, Nordeste e Bom Pastor.

Segundo o chefe do Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística da Semurb, Carlos da Hora, a Zona Oeste não teve planejamento, e por isso seu crescimento foi bastante desordenado. A baixa renda, a ociosidade causada pela falta de emprego e os problemas de educação e saúde fazem do local o mais violento da cidade. Suas 24 favelas estão nos bairros de Felipe Camarão (6), Guarapes, Cidade Nova, Bom Pastor (4 cada), Bairro Nordeste (3), Dix-Sept Rosado, Quintas e Planalto (1 cada).

Contudo, alguns melhoramentos já podem ser notados nessa região devido à expansão urbana. “Os bairros de melhores condições se expandem e levam melhorias, principalmente aos bairro limítrofes. Mas essa é uma área já muito antiga e bastante consolidada”, explica Da Hora.

A Zona Norte também é composta por bairros prioritariamente mais carentes. Embora tenha mais escolas municipais que qualquer outra zona, a renda familiar é das mais baixas da cidade. O bairro de Nossa Senhora da Apresentação é dos mais precários da cidade, pois encontra-se de uma maneira geral entre os que mais necessitam de investimentos em infra-estrutura e serviços para a sua adequação enquanto região habitável. É nele que se encontram o assentamento precário do Jardim Progresso, o maior da cidade com 13.620 habitantes e 3 assentamentos que fazem desse o bairro com o maior bolsão de favelas concentradas da cidade. As demais áreas subnormais estão nos bairros de Lagoa Azul, Redinha (5 cada), Pajuçara (2), Potengi e Salinas (1 cada). Nossa Senhora da Apresentação também é o bairro com mais casas sem água canalizada e o maior percentual de terrenos baldios.

Igapó onde há mais escolas particulares

Além destes, está na Zona Norte o bairro de Igapó, com mais escolas particulares em toda Natal.

Ainda na Zona Norte destacam-se os bairros de Lagoa Azul, que é dos que possui menor quantidade de área drenada e Salinas, com um dos menores rendimentos familiares e sem rede de esgoto.

A respeito do Potengi nota-se uma diferença muito grande com relação aos outros. Por ser composto de conjuntos habitacionais, tem sua estrutura bastante organizada, e a adequação do bairro chega a comparar-se à da Zona Sul. O Potengi apresenta o maior total de entidades de segurança pública, incluindo delegacias distritais, delegacias especializadas, penitenciárias e quartel do Corpo de Bombeiros.

Esta é a zona da cidade que apresenta o maior potencial de incremento habitacional, por conta dos espaços que ainda possui. Já os investimentos e a melhora em serviços e infra-estrutura estão previstos para acontecer após a construção da ponte Newton Navarro, que acabará com o isolamento e a distância a ser percorrida para chegar nessa parte da cidade que foi separada pelo rio Potengi.

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