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Cinema de cabras marcados

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Michelle Ferret – repórter

Retratos da vida em tons sépia. Vidas secas. Cabras marcados. Dramas de um país continental. Assim é o cinema brasileiro, que com suas vestes  muitas vezes mal acabadas, despe a vida política, econômica, social de um dos maiores países do mundo. É nesse fio de luz invisível que os escritores Marcos Silva e Bené Chaves amarraram 55 ensaios sobre filmes brasileiros no período de 1928 até 1988 trazendo olhares de diferentes escritores sobre importantes filmes e compuseram o livro “Cenas Brasileiras: o cinema em perspectiva multidisciplinar”, que será lançada hoje, às 18h no departamento de Enfermagem do campus da UFRN.

“Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, é revisitadoVidas Secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963), Marvada Carne (André Klotzel, 1985), Limite (Mário Peixoto, 1930), Terra em Transe (Glauber Rocha, 1966), São Bernardo (Leon Hirszman, 1971) e Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1984) são algumas das obras retratadas em palavras por 55 colaboradores que participaram da edição bem cuidada feita pela Editora da UFRN. O livro é uma espécie de continuação da primeira coletânea de ensaios – organizada pelos mesmos autores – intitulada “Clarão de Tela” que reuniu ensaios sobre filmes estrangeiros.

Na apresentação do livro, o autor justificativa a publicação destacando a memória de um cinema feito com muito suor, sangue e lágrimas. Esse cinema brasileiro tão precário e ao mesmo tempo rico como são os próprios homens que nesta pátria vivem.

Colaboram na obra dos escritores Carlos de Souza, Pablo Capistrano, Moacy Cirne, Gilberto Stabili, Anchieta Fernandes,  Alex de Souza, Arnóbio Fernandes, Cláudio Galvão, Lenício Queiroga (in memoriam), entre outros.

O livro está divido em épocas significativas retratando a história do cinema nacional. São blocos identificados por períodos como “Vera Cruz”, “Cinema Novo”, “Ditadura”, “Fim da Embrafilme”, entre outros.

Revisitando Vidas Secas

O jornalista e escritor Carlos de Souza escreveu sobre “Vidas Secas” de Nelson Pereira dos Santos. Depois de receber das mãos de Marcos Silva uma cópia original da obra, ele pensou o ensaio na perspectiva humana. “Já era um filme que eu admirava muito, e na minha opinião é o melhor filme que Nelson Pereira dos Santos já fez. Eu sempre gostei muito de Graciliano Ramos e acho o livro um dos melhores do Brasil que fala sobre a miséria. Não destaquei o engajamento político, quase imperceptível ao meu olhar, mas sim o profundo olhar que Graciliano teve sobre a memória humana. O personagem mesmo oprimido se depara com situações importantes como muitos brasileiros. É engraçado escrever sobre o filme, pois  parece até que o livro foi uma espécie de roteiro para o filme, sem ter sido. Um belo filme”, contou Carlos de Souza. Para ele, a ideia de Marcos e Bené em reunir escritores fora do centro sul é de fundamental importância.

“A gente sempre tem acesso à importantes coletâneas como essa  escritas por medalhões da literatura, por pessoas já consagradas e é uma maneira de inserir um novo olhar sobre a literatura e o cinema”

Serviço
Hoje, 18h. Lançamento, “
Cenas Brasileiras: o cinema em perspectiva
multidisciplinar”. Local:
Deptº de Enfermagem do campus da UFRN.

A era de ouro da música

O professor e escritor João da Mata Costa escreveu sobre o filme “Alô Alô Carnaval”, publicado em  1936. A década de 30 foi considerada a época de ouro da música popular brasileira. “No rádio estavam os grandes nomes e a densidade de grandes músicos é impressionante. Então o filme,  utilizou os astros da época de ouro da rádio e possibilitou um registro raro. Trouxe o registro da década das grandes marchinhas, de Noel Rosa e o cinema traduziu isso, ele trouxe às telas essa força bruta”, disse. Para João da Mata, se o filme não fosse feito, muitas imagens estariam perdidas. É um dos poucos filmes que registrou esse período fundamental da música. “Traz Braguinha, um grande compositor da MPB, o Rei da voz, Chico Alves, Mário Reis, um dos maiores cantores brasileiros, com sua voz miúda e bem colocada que deu margem a muitos cantores como João Gilberto e Chico Buarque”.

Em sua visão, o livro “Cenas Brasileiras” é fundamental por trazer um enfoque potiguar sob o  olhar de amantes do cinema  e sobre a história do cinema brasileiro que é pouco conhecida.

 “É uma história que tem grandes momentos e passa por épocas de ostracismos.  O inicio da década de 20 eram filmadas muitas óperas vistas no Brasil, depois passou para a temática brasileira, o carnaval, a grande música brasileira e tudo o que faz de nós brasileiros. O livro é também um registro raro e fundamental”, finalizou João.

Pablo Capistrano destrincha obra de Klotzel

Outro colaborador do livro é o filósofo e escritor Pablo Capistrano. “Marvada Carne” de André Klotzel, lançado em 1985, foi escrito sobre o olhar de Pablo numa perspectiva levada pela formação do Brasil. 

“É uma obra dos anos 80 e no texto, eu abordo a questão da relação entre o Brasil original e arcaico, aquele Brasil interiorano, que tem fundamental importância  na formação da nação e o Brasil moderno. O texto fala desses dois tempos. Nosso país que vive ainda num ritmo muito parecido com a origem do país e ao mesmo tempo convive com a modernidade”, contou Pablo sobre seu texto.

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