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Colômbia reabre processo de paz

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Guilherme Amorim – Agência Estado

São Paulo – A Colômbia encontra-se em um momento que pode revelar-se crucial na sua história. Se as negociações iniciadas entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) fracassarem, tudo seguirá mais ou menos como antes, com o pessimismo baseado em decepções passadas sendo justificado. Mas se bem-sucedidas, elas podem colocar um ponto final em quase meio século de conflito interno. A situação é ainda mais delicada porque Bogotá afirmou que não concordará com um cessar-fogo até que o processo de paz esteja suficientemente avançado, mas analistas consultados pela Agência Estado veem chance real de sucesso no processo de paz.
Em abril deste ano, o governo brasileiro e a Cruz Vermelha participam de um esforço conjunto para resgate de refém das Farcs
Há alguns dias, Santos chegou a prever que o diálogo pode terminar de forma satisfatória já nos próximos meses. Em outubro, as partes se reunirão em Oslo, com Cuba e Noruega atuando como mediadores e Chile e Venezuela como observadores da negociação. Para o coordenador do curso de Relações internacionais da PUC-SP, Paulo José Pereira, um acordo “ocorrerá nos próximos meses ou então não ocorrerá” acordo nenhum.

Será um semestre crucial – sem cessar-fogo, já que o governo quer garantias antes de aquiescer porque não esquece erros passados. Em 1998, o então presidente Andrés Pastrana iniciou negociações com os guerrilheiros, concordou com um cessar-fogo e concedeu uma grande zona desmilitarizada para as Farc. No entanto, as suspeitas de que a região foi utilizada para tráfico de drogas e a continuidade da violência destruíram o processo de paz.

As Farc contam com cerca de 8 mil a 9 mil combatentes e outros milhares de simpatizantes, informa o Departamento de Estado dos Estados Unidos em seu relatório anual sobre organizações consideradas “terroristas”, publicado em julho. Os rebeldes estão muito mais fracos do que nos anos 90, especialmente por causa das políticas de enfrentamento adotadas pelo ex-presidente Álvaro Uribe, antecessor de Santos.

“Uribe partiu do ponto de vista que uma paz negociada não é possível. Provocou forte desmobilização ao combater violência com violência e obteve sucesso, mas essa abordagem não rende mais o mesmo benefício”, diz o especialista em América Latina do Grupo de Análise e Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint – USP), Alberto Pfeifer.

Os colombianos parecem pensar o mesmo. Pesquisa encomendada por diversos órgãos de imprensa do país, publicada nos últimos dias mostra que 77% da população apoia o processo de paz. Mas apenas 54% estão otimistas, compreensivelmente cautelosos devido aos fracassos anteriores.

Divulgado na semana retrasada, o chamado “Acordo geral para o encerramento do conflito e construção de uma paz estável e duradoura”, assinado pelas duas partes, prevê cinco pontos cruciais de entendimento: políticas de desenvolvimento agrário (como distribuição de terras); participação política dos guerrilheiros; fim do conflito armado; solução para o problema das drogas; direitos das vítimas; e meios de implantação e verificação dos pontos anteriores.

Para os especialistas uma das questões mais sensíveis será como se dará o “teste na sociedade democrática” das Farc, como colocou Pfeifer. De alguma forma, terá de acontecer a inserção representativa dos guerrilheiros, uma “desmobilização à medida que sejam inseridos na vida política”, observa Pereira. Foi justamente neste ponto que negociações estabelecidas nos anos 80 falharam, quando as Farc chegaram a formar um partido político. Mas a falta de entendimento, violências e represálias fizeram o conflito armado retornar.

Os especialistas ouvidos pela Agência Estado avaliam que hoje o governo colombiano está em uma posição mais vantajosa do que nas outras tentativas. Atualmente a Colômbia é mais estável política e economicamente, tem um dos maiores PIBs da Américas Latina, e, segundo o Banco Mundial, a pobreza vem caindo (apesar de ainda afetar 37% da população). “É um dos países de médio porte mais importantes d mundo”, afirma Pfeifer.

No entanto, há diversos fatores que podem impedir uma conclusão. Atos de violência (aleatórios ou planejados) podem radicalizar as posições e estragar as negociações, reforçando a posição dos que são contra o diálogo – que têm no ex-presidente Uribe seu maior representante. Apesar das ressalvas, Pereira afirma que existe uma “chance real de sucesso, já que as Farc estão em um momento frágil, desmobilizado, e o apoio internacional já foi muito maior”

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