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Conexões da cultura popular e arquitetura

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Yuno Silva
repórter

“Temos a mania de querer copiar tudo que vem de fora, sem dar o devido valor ao que é nosso”, afirma o arquiteto potiguar Carlos Lira. Radicado há cinco décadas no Recife, Lira sabe o que diz e fala com propriedade sobre o esfacelamento da identidade cultural nordestina. Suas opiniões podem até soar polêmicas, mas estão dentro de um contexto que comunga com o bom senso de quem pesquisa muito as tradições antes de conceber um novo projeto. Convidado para ministrar a palestra “Arte Popular e Arquitetura” na próxima segunda-feira (22), às 19h30, no Teatro de Cultura Popular TCP, Carlos Augusto Viana Lira, 63, virá à Natal compartilhar sua experiência como principal responsável pelas intervenções urbanas vistas no Carnaval Multicultural da capital pernambucana desde 2001.
Intervenções carnavalescas trazem nos adereços a pesquisa histórica da obra do homenageado
A palestra de Carlos Lira está inserida no projeto “Arte Potiguar no Mundo”. Como 22 de agosto é o Dia Mundial do Folclore, uma série de eventos ilustram a data, e entre os destaques figuram a a abertura da exposição (de objetos) “Diálogos entre Palatnik e Inácio Lino”, na Galeria de Arte Antiga e Contemporânea do Centro de Turismo, Petrópolis; e o início da Semana Veríssimo de Melo, em cartaz de segunda a sexta-feira (de 22 a 26) no Sesc Centro, Cidade Alta.

Papai Noel x Pastoril

Além do Carnaval recifense, Carlos Lira também é responsável pela concepção visual da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), e uma das principais características de seu trabalho são as referências culturais. “Decoração e ambientação é totalmente diferente de arquitetura de interiores. O que faço no Carnaval Multicultural do Recife não é nenhum nem outro, trata-se de intervenção urbana, um trabalho respaldado por pesquisas e pelo cuidado com o patrimônio histórico. Há um conceito, as pessoas precisam reconhecer quem está sendo homenageado, tem que haver respeito pela cidade e envolve o coletivo”, esclarece.

Para ele, o período natalino é um bom exemplo de como as coisas estão desfiguradas: “Como é que não desconfiamos daquele Papai Noel de bochechas rosadas, da neve, dos sinos, das renas… não tem nada a ver conosco. A mídia manipula a opinião pública de acordo com seu interesse, e cria um cenário de grande perigo para a manutenção de nossa identidade. É difícil ter volta”, lamenta Lira.

“Nosso Natal tem a ver com o Reisado, o Pastoril e o Boi de Reis. Lembro que quando morava em Natal, havia uma disputa saudável para saber qual o cordão do Pastoril era o mais bonito, se o vermelho ou o azul”, recorda. Antigo morador da rua Jundiaí, estudou no internato do Colégio Marista, foi colega de Agnelo Alves, e lembra que parte do bairro Petrópolis já se chamou Cirolândia.

Popular x Erudito

O arquiteto considera como grande objetivo do seu trabalho promover um “diálogo entre o popular e o erudito”: “As pessoas tendem a valorizar mais o erudito e a desconhecer a importância de se preservar a arte popular”, adianta o arquiteto já entrando no assunto de sua palestra. “Não acredito que seja por preconceito, mas acho que o arquiteto tem a função de mostrar o valor dessas duas linguagens”, acredita.

Carlos Lira citou o exemplo de um restaurante natalense que promove esse “diálogo” de maneira muito equilibrada. “No projeto, o arquiteto colocou um lindo lustre no teto feito com cabaças. Ou seja, a cultura popular está ali de maneira muito bem resolvida. Ele fez uma coisa correta, arrojada, mas com características da terra dele”, opina.

Carnaval e pesquisa

Carlos Lira lembra que quando recebeu o convite, em 2001, para conceber as intervenções no Carnaval do Recife, o primeiro impulso foi não aceitar pelo curto espaço de tempo disponível. “Apesar da tarefa desafiadora, aceitei pelo fato do Carnaval estar intimamente ligado à cultura brasileira. No primeiro ano, tudo foi feito a partir de reciclagem, já que o tempo era curto, mas eu jamais faria intervenções no período natalino”, garante. Nesses dez anos à frente da folia de momo em Pernambuco, já prestou homenagens a personalidades como Dona Santa, considerada a Rainha do Maracatu, Capiba e Ariano Suassuna, dentre outros.

“Quando trabalhamos sobre Ariano Suassuna, uma das referências para nossa cenografia foi o Auto da Compadecida e seu realismo fantástico”, exemplifica sem revelar quais serão os dois homenageados em 2012. “É uma decisão coletiva entre meu arquitetos e a Prefeitura de Recife, e ainda está em estudo”.

Lira nasceu em Natal depois que seu pai, que era médico, foi transferido para a capital potiguar durante a Segunda Guerra Mundial. Logo que seus pais foram moram no Recife, quando ele tinha apenas 12 anos, quis continuar em Natal: “Eles permitiram que eu ficasse interno no Colégio Marista. Mas depois de seis meses, acabei indo para Recife morar com a família”.

Programação

Programação do Dia Mundial do Folclore, dia 22 de agosto (segunda)

Eventos

. Seminário “Viva Vivi” – Semana Veríssimo de Melo, das 9h às 12h, no Sesc Centro – Cidade Alta;

. Palestra “Arte Popular e Arquitetura”, com o arquiteto Carlos Augusto Lira, às 19h30, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP/FJA) – Tirol;  

. 15º Encontro de Cultura Popular com apresentações dos grupos Boi de Reis de Baile e Maneiro de Pau; e I Circuito Brincantes do Brasil com presença dos Congos do Piauí. A partir das 19h, no Palácio Potengi – Cidade Alta.

Exposições

. “Diálogos entre Palatnik e Inácio Lino” (objetos), abertura às 9h, na Galeria de Arte Antiga e Contemporânea do Centro de Turismo – Petrópolis;

. “Marias de Anchieta” (fotografia), das 8h às 17h, no TCP/FJA – Tirol;

. “Vida e obra de Veríssimo de Melo”, das 9h às 17h, na galeria da Fundação Capitania das Artes – Ribeira;

. “As Cores do Folclore”, das 9h às 17h, com acervo de Daliana Cascudo e Gutenberg Costa, na Fundação José Augusto – Tirol.

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