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Contingenciamento deve impactar em obras de mobilidade

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Obras estruturantes de trânsito planejadas para melhorar o tráfego nas
vias mais críticas de Natal estão ameaçadas de ficar no papel. São
vários projetos previstos no PAC 2 e PAC 3 que, diante das últimas
medidas de contingenciamento anunciadas pelo Governo Federal, ainda não
têm perspectiva de ser iniciadas. Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o
secretário adjunto de Trânsito da Secretaria Municipal de Mobilidade
Urbana (STTU), Walter Pedro, afirma que não existe sinalização para
nenhuma das obras dos dois PAC. Ele assegura, porém, que mesmo os
financiamentos não saindo no próximo semestre, será possível fazer
algumas melhorias utilizando recursos próprios, como a sinalização
horizontal e vertical e a operação de trânsito não só semafórica, mas
também pelos agentes de mobilidade. Segundo ele, com pouco dinheiro,
será dada prioridade ao transporte público. Confira a entrevista:
Secretário adjunto de Trânsito, Walter Pedro, disse que até o momento não há sinalização quanto à liberação de verbas para projetos do PAC 2 e 3
Quais são os principais projetos para Natal na área de trânsito e em que fase eles se encontram?

Nós
temos o PAC 2 e o PAC 3. O primeiro está com projeto pronto e já
aprovado. Estamos aguardando o repasse do Governo Federal. O projeto é
para a reformulação da avenida Bernardo Vieira, com a implantação da
faixa exclusiva de ônibus e a ampliação desta até a Xavier da Silveira.
Nessa reformulação, ainda tem o túnel da Prudente de Morais com a
Bernardo Vieira e o viaduto da Coronel Estevam com a Bernardo Vieira. A
gente também tem a reestruturação da Cel. Estevam/Rio Branco. Vai ter
todo um trabalho de faixas exclusivas e semi-exclusivas para a melhoria
de trechos da via, dando também prioridade ao transporte público.

Como será a reestruturação da Bernardo Vieira?
A
reestruturação será a troca da pavimentação e a concretagem da faixa de
ônibus, para diminuir o número de manutenção e intervenção. A via vai
receber sinalização nova e novos abrigos. Aí também tem o túnel e o
viaduto passando sobre a linha férrea e a Cel. Estevam, além da
iluminação e acessibilidade das calçadas. Todos os projetos do PAC têm
essas características.

Qual a expectativa de início dessas obras?
A
gente esperava desde o início do ano a sinalização para autorizar essas
obras, mas fomos surpreendidos por esse posicionamento, essa mudança do
Governo Federal, que não está liberando nenhuma autorização para obras.

Há algum risco desses recursos não serem liberados?
Acredito
que sim. Em princípio não teríamos impedimento de receber, mas com essa
questão do contingenciamento de R$ 70 milhões pelo Governo Federal,
eles estão segurando esses recursos e vão definir por uma liberação
somente no segundo semestre, e para algumas obras eles vão demorar mais
para autorizar verbas. Esse é minha visão, haja vista que tá terminando o
semestre e eles não sinalizaram em nada com relação a repasse.

Quais os projetos previstos no PAC 3?

No
PAC 3, além do projeto de 1.052 abrigos, quatro terminais de ônibus e
duas estações de transferência, tem o projeto do ITS, para interligar o
sistema eletrônico ao trânsito e também ao transporte, com GPS pra se
fazer a identificação de algumas paradas e saber o tempo que se vai
gastar para chegar no local, fazendo ainda a integração com câmeras
tanto no ônibus como nos principais corredores, dando maior eficiência à
segurança. Também temos a reestruturação da Salgado Filho e da Prudente
de Morais, com ponte e dois viadutos. Outra reestruturação prevista é a
da João Medeiros Filho, onde está previsto um túnel com a avenida
Paulistana, um viaduto com túnel também na Guadalupe/Maranguape com a
João Medeiros Filho e, por último, viaduto e túnel na Itapetinga com a
João Medeiros Filho.

Então, não há sinalização para o PAC 2 nem para o PAC 3?
Não,
não. O PAC 2 era o que estava mais próximo. Já em relação ao PAC 3,
estava previsto o orçamento dos abrigos, terminais e estações de
transferência, mas como os recursos são da OGU a gente está com
dificuldade em relação à liberação. É preocupante.

Você acredita que o Executivo vai ter dificuldade para tirar esses projetos do papel e executá-los?
Se você me perguntasse isso seis meses atrás, eu diria que não. Mas hoje eu acredito que vamos ter muitas dificuldades. 

Enquanto não se tem os recursos para realizar esses projetos, como a STTU tem lidado com esses gargalos no trânsito?
A
gente vem trabalhando constantemente nos ajustes dos semáforos, no
tempo semafórico. Provavelmente, a partir da próxima semana a gente já
vai começar os testes com algumas faixas exclusivas e semi-exclusivas,
com a possível sinalização com recurso próprio. Claro que aí vão ficar
suspensas a troca de pavimento e a acessibilidade universal, que
demandam mais orçamento, mas a ideia é que no próximo semestre, mesmo
que não saiam esses financiamentos ou a liberação de dinheiro, a gente
faça alguma coisa com recursos próprios, como a sinalização horizontal e
vertical e a operação de trânsito não só semafórica, mas também pelos
agentes de mobilidade.

Quais seriam essas vias com faixas exclusivas e semi-exclusivas?

Os
testes vão iniciar na Salgado Filho/Hermes da Fonseca e a partir daí a
gente vai liberar para a Prudente de Morais. São os testes que a gente
vai fazer com possível implantação de faixa exclusiva ou semi-exclusiva
de ônibus.

Há alguma perspectiva de iniciar o binário na Mor-Gouveia e Jerônimo Câmara?
Na
realidade, já era para ter iniciado. Isso tá com atraso de quase um
ano. E a gente não pode implantar porque o contrato da Semopi diz que é a
empresa que tem que sinalizar. Então a gente só pode iniciar o binário
quando as vias estiverem totalmente sinalizadas. Diferente disso, vai
correr riscos de acidentes, até porque é uma extensão muito grande das
vias e se não ficar bem sinalizado as pessoas vão entrar na contramão
sem saber, que é o pior.

Como está esse serviço?

O que
a gente sabe é que a empresa está com alguma dificuldade financeira e
por isso não está conseguindo concluir a obra. E aí a gente está numa
expectativa, porque é uma obra que está causando transtorno, e com ela
implantada a gente ia verificar outros corredores para trabalhar também
binários. Por enquanto, estamos aguardando a definição de quando esse
trabalho será reiniciado e concluído.

Outro grande problema na
cidade é a questão dos estacionamentos, principalmente em áreas mais
comerciais como Alecrim, Cidade Alta, Ribeira, Petrópolis e Tirol.
Recentemente, a CDL apresentou uma proposta de estacionamentos rotativos
pagos para esses bairros. Como a STTU vê esse projeto? 

A
secretaria acha que é uma das soluções para minimizar os problemas de
estacionamento, tanto que a gente tentou fazer isso em 2003, a partir de
uma proposta em conjunto com os empresários do Alecrim, mas depois eles
mesmos pediram para retirar. Naquele época, o prefeito era Carlos
Eduardo e agora é ele de novo. Fecomércio, CDL, AEBA, todos propuseram o
retorno do estacionamento rotativo, mas o prefeito não se sentiu seguro
e pediu que fosse feita uma reunião com os representantes dos
empresários. A reunião aconteceu na última segunda-feira e eles
apresentaram a proposta pra gente oficialmente, mas mesmo assim, pelo
debate que se seguiu, o prefeito não se sentiu seguro. O desgaste da
outra vez foi muito grande para a prefeitura e para ele pessoalmente.
Até hoje a empresa está na Justiça com relação a isso e ele disse que
não queria repetir. O prefeito precisa ter a certeza de que é isso que o
empresariado quer. Nessa reunião ele pediu que os empresários fizessem
um abaixo-assinado identificando quem realmente queria e por que queria.
Também se colocou à disposição para outro debate e pediu mais dados. O
investimento é muito alto e leva tempo para a empresa ter retorno
financeiro. Não dá, portanto, pra começar e depois voltar atrás. Mas
tecnicamente a proposta é viável.

Quais as medidas tomadas atualmente para minimizar o problema da falta de estacionamento?
A
gente está fazendo alguns trabalhos, mas é muito difícil, pois não
existe espaço físico. Oficializamos agora o estacionamento nos canteiros
centrais da Rodrigues Alves e da Campus Sales e estamos organizando em
outras vias, mas é muito pouco o que vamos liberar de estacionamento.
Não dá pra dar uma solução de impacto se não mexer no que aí está. A
alternativa melhor e mais fácil seria a implantação de estacionamentos
subterrâneos, mas algumas empresas que a gente consultou disseram que o
investimento inicial é muito alto ou o estacionamento ficaria muito caro
para se pagar, e também que não daria o retorno esperado. A
alternativa, então, seria a Prefeitura ser parceira, construindo e
depois abrindo a exploração comercial para amortizar o custo, o que ia
resultar numa tarifa mais barata de estacionamento, mas ficou totalmente
inviável para a prefeitura.

Quais os pontos mais críticos da cidade em termos de trânsito e o que a STTU tem pensado para esses locais?
Temos
diversos gargalos. O que a gente está fortalecendo nesses projetos do
PAC 2 e PAC 3 é a melhoria da qualidade do transporte coletivo em
termos  viários. A gente tem uma expectativa grande em relação à
licitação de transporte, mas aí vai mudar o equipamento e não a
infraestrutura viária. Em termos de intervenções viárias, a gente vai se
limitar ao que já foi dito aqui e ampliar a operação. Redefinir pontos
de paradas, ampliar mais as faixas exclusivas e semi-exclusivas e o
executar o plano cicloviário. Estamos prevendo neste ano R$ 1 milhão
para implantar ciclovias na zona sul, da Ayrton Senna até o Midway, e
daí espalhar para outros locais. Acreditamos que isso vai começar a dar
uma sobrevida ao sistema viário da cidade, porque a gente não tem
condições financeiras para desapropriar e não encontra financiamento em
lugar nenhum. O Governo Federal não banca, o BID não banca, então tem
que ser com recursos próprios.

A terceira ponte vai, de fato, ter um impacto positivo no problema do tráfego?    

Com
certeza. A gente tem um gargalo enorme.  A Ponte Newton Navarro foi
projetada para 60 mil veículos e hoje, com sete anos de inaugurada, já
está com 38 mil veículos/dia. Quanto a Ponte de Igapó, a previsão era em
torno de 65 mil veículos/dia, sendo que hoje ela tem pico de 78 mil
veículos/dia. Uma já está saturada, com nível de serviço F, e a outra já
está com nível de serviço C, enquanto a frota cresce continuamente.
Rapidamente a gente vai estourar a capacidade da Ponte Newton Navarro,
então já se faz necessário trabalhar essa nova ponte.
    
Qual a opinião da STTU em relação da reestruturação Roberto Freire? Há a necessidade e até que ponto ela deve ser feita?   
A
gente acompanhou no primeiro momento o desenvolvimento da proposta e
viu positivamente. Agora, essa parada que deu, aparentemente o que
poderia ser visto como prejuízo para sociedade, acho que foi um ganho.
Porque quando a gente vai trabalhar mais, pegar as orientações com
relação ao  Ministério das Cidades tem em priorizar o transporte
público, percebe que dá para consolidar a questão do transporte público e
ainda a gente vu que algumas medidas podem ser evitadas para que a obra
não seja tão agressiva, tão ampla. Com certeza ela não vai ter aquele
horizonte que a primeira teria, que era de alto impacto.  Diante das
condições e do impacto ambiental que ela poderia causar, acho que uma
medida de  menor impacto, com horizonte de 10 a 15 anos, dá tempo de
tomar outras medidas de prioridade do transporte que justifica não ter
aquele investimento completo.

Quem é
Walter Pedro da
Silva, atual secretário adjunto de Trânsito de Natal, é arquiteto e
urbanista especializado em gestão do trânsito. Graduado pela UFRN em
1992, é servidor da STTU há 29 anos. Foi chefe do Setor de Transporte
Hidroviário e de Intervenção Viária e também diretor de Engenharia de
Tráfego.

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